XVII SIMPÓSIO
NACIONAL DA ABHR
II SIMPÓSIO
NACIONAL DE ESTUDOS DA RELIGIÃO DA UEG
ÉTICAS E
RELIGIÕES EM TEMPOS DE CRISE – Nov. 2021
ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE HISTÓRIA DAS RELIGIÕES (ABRH)– UNIV. ESTADUAL DE GOIÁS
Universalidade e
Imparcialidade na Filosofia Espiritualista de
Pietro Ubaldi
Alexsandro Melo Medeiros[1]
Introdução
Pietro Ubaldi foi um filósofo italiano,
espiritualista e cristão. Embora tenha nascido na Itália, na cidade de Foligno,
em 1886, viveu os últimos vinte anos de sua vida aqui no Brasil, onde faleceu
em 1972, por isso, o conjunto de suas obras é dividida em duas partes: a obra
italiana, que inclui as Grandes Mensagens e vai do seu primeiro livro A Grande
Síntese até o livro Deus e Universo; e a obra brasileira, com os seus escritos
posteriores até o último livro Cristo.
No conjunto de sua obra, o conceito de
evolução desempenha um papel crucial e dele não poderemos prescindir na análise
do tema em pauta. Inclusive este foi o tema de seu primeiro ensaio, publicado
na revista Constancia, de Buenos Aires:
em
1927, sentado à beira-mar, na praia de Falconara, contemplando o Adriático, ele
vislumbra, num lampejo, genial, a estrutura íntima do universo, anunciando o
seu físico-dínamo-psiquismo. Segue-se o seu primeiro ensaio: “Evolução
Espiritual” – cem páginas onde aparecem as primeiras tentativas sérias do
grande voo (SILVA, 2015, p. 11).
O conceito de evolução, embora não seja o
tema central deste artigo, nos ajudará a entender como a máxima do Evangelho do
Cristo: ama ao teu próximo como a ti mesmo, expressa uma lei de um plano
biológico mais evoluído, que não é aquele do plano biológico animal e, por
isso, as condições de maturidade espiritual (resultado de todo um processo
evolutivo), são determinantes para que um indivíduo possa manifestar esse amor
dentro de uma visão mais ampla, coletiva e compreender que toda a humanidade
faz parte de uma mesma família, ao invés de lutar contra o próximo e
considerá-lo um seu inimigo.
Além do conceito de evolução, daremos
ênfase aos princípios de universalidade e imparcialidade, ressaltados pelo
pensador italiano e, por isso, o nosso objetivo com este artigo, que adota como
metodologia a pesquisa bibliográfica, é abordar como tais princípios podem
ajudar a promover a tolerância, o diálogo e a interação entre diferentes
religiões.
Com base em tais princípios, veremos como
a obra de Ubaldi nos indica um caminho a percorrer que seja um caminho de paz e
fraternidade e não de ódio ou divisão, um caminho que ele próprio procurou
percorrer, procurando sempre estar de acordo com a Lei de Deus:
Pietro
Ubaldi foi um permanente observador do funcionamento da Lei de Deus em sua
vida. Vivia segundo a vontade da Lei, como Cristo o fez: Não faço a minha
vontade, mas Daquele que me enviou. O missionário de Cristo afirmou, muitas
vezes de maneira diferente a mesma coisa: Vivo de acordo com a Lei; ela exerce
uma tremenda força sobre mim; A Lei é a nossa vida. Conhecê-la e executá-la
cada vez melhor, redunda em vivê-la mais intensamente (Amaral, 2020, p. 250-251).
Universalidade
e Imparcialidade
No conjunto de sua obra, o filósofo adota
como princípios o da universalidade e imparcialidade.
A
tese que sustentei desde 1951, em minha primeira chegada ao Brasil, e que já
havia sustentado na Europa, foi a de “imparcialidade e universalidade”.
Permaneci a ela igualmente fiel, diante desta ou daquela religião. Mas, todas
mostraram a mesma vontade de enclausurar-me e fechar-me em seu próprio grupo,
impondo-me uma verdade já feita, que exclui qualquer pesquisa e condena toda
tentativa de progresso e aperfeiçoamento (Ubaldi, 2001, p. 243).
A preocupação de Ubaldi com tais
princípios se revela, por exemplo, quando o pensador italiano solicitou a
alteração do nome da Associação Brasileira dos Amigos de Pietro Ubaldi (ABAPU),
instituída em Campos, no Rio de Janeiro, em 1949. Pediu que “fosse substituída
pela de ABUC (Associação Brasileira da Universalidade de Cristo), para que a
ideia se antepusesse a qualquer personalismo. E este é já um princípio geral
para ser vivido” (Ubaldi, 1987, p. 21).
Essa preocupação, de fazer com que sua
obra não tomasse um caráter personalista, se expressa igualmente quando Ubaldi
afirma que seu objetivo não é a busca de adeptos e seguidores, como o fazem as
mais diferentes religiões. “Falo bem claro: não quero de maneira nenhuma
chefiar coisa alguma na Terra; não quero conquistar poder algum neste mundo.
Não há, assim, qualquer razão para rivalidades” (Ubaldi, 2001, p. 24).
Outro caso curioso, é relatado pelo
filósofo na passagem seguinte:
Uma
vez expliquei a alguém o meu ponto de vista da imparcialidade e universalidade.
Sua face iluminou-se e, de súbito, respondeu: “compreendo, trata-se de um novo
partido: o dos imparciais e universalistas”. Este fato mostrou-me como a forma
mental comum não consegue conceber coisa alguma se não a vê bem fechada dentro
dos limites do relativo, isto é, dum grupo particular bem separado dos outros e
logicamente em luta entre si (Ubaldi, 2001, p. 23).
Como entender tais princípios? Ou seja, o
que quer dizer o filósofo com universalidade e imparcialidade? Encontramos uma
definição do próprio autor no Capítulo 2, do livro A Lei de Deus, que tem como
título Separatismo Religioso, e que traz a seguinte epígrafe: Respeito por
todas as crenças.
[...]
imparcialidade quer dizer não-existência de partido, compreendendo-os a todos;
significa não ficar fechado na forma mental de facção ou de grupo particular
algum, sobretudo quando este grupo, seja ele qual for, se impõe combater outros
grupos, julgando-os errados e maus e, porque sendo diferentes dele próprio,
persegue-os com as suas condenações (Ubaldi, 2001, p. 20-21).
Sua filosofia se propõe, portanto, não
fechar-se na forma mental de um grupo ou partido e, inclusive, ser considerado
um movimento suprarreligioso, que não agrida nenhuma expressão religiosa “mas
as respeita todas, antes de tudo reconhecendo-as, tanto que as envolve todas
num único amplexo” (Ubaldi, 1987, p. 16). E pode até não parecer óbvio que
assim seja, em uma análise superficial, mas se considerarmos que Deus deve ser
o mesmo para todos, não há porque acreditar que uma crença seja melhor do que
outra.
O princípio da universalidade decorre do
fato de que todos os homens são filhos do mesmo Deus: “um só Deus, pai de
todos” (Ubaldi, 1987, p. 24). Universalidade significa não impor qualquer
barreira de religião, nacionalidade ou raça que possa dividir os homens. A
única divisão aceita não é aquela religiosa, mas a de justos e injustos. É o
que encontramos, por exemplo, na Mensagem de Natal:[2]
Falo hoje a todos os justos da terra e os chamo de todas as partes do mundo a fim de unificarem suas aspirações e preces numa oblata que se eleve ao céu. Que nenhuma barreira de religião, de nacionalidade ou de raça os divida, porque não está longe o dia em que somente uma será a divisão entre os homens: justos e injustos (Ubaldi, 2012, p. 11).
O Evangelho do Cristo está na base do
conjunto de toda a obra de Ubaldi: “Tudo aquilo que não pode permanecer no
Evangelho de Cristo não pode igualmente permanecer neste movimento. Não é
possível distorcer em nenhum sentido estas palavras” (Ubaldi, 1987, p. 16).
Embora Ubaldi não possa ser considerado um cristão no sentido ortodoxo do
termo, o preceito ama ao teu próximo como a ti mesmo serve de pedra angular de
seu programa.
Por isso, se pode pensar em como os
princípios da universalidade e imparcialidade decorrem do preceito evangélico
ama ao teu próximo como a ti mesmo, pois não se pode amar ao próximo apenas
pelo seu rótulo religioso. Deve-se amá-lo indistintamente, independente de qual
religião ele professe ou de qual cultura ele faça parte. Independentemente de
ser católico, protestante, muçulmano, budista, e até mesmo ateu, qualquer
convicção que não agrida o próximo e seja vivida com honestidade e sinceridade
merece respeito.
Ao falar do Amor de Cristo, Ubaldi afirma
que não temos mais necessidade de novas religiões e, por isso, ele mesmo não
teve a pretensão de fundar um novo movimento, doutrina filosófica ou religiosa.
Mais importante do que fazer prosélitos a favor de uma religião, condenando as
outras, é fundamental que as pessoas tornem-se boas e honestas e isto serve
para todas as religiões.
Ubaldi afirma que todos aqueles que
simpatizam com sua obra e, portanto, desejem aderir a tal movimento “devem
manter-se dentro do princípio fundamental do Evangelho: ‘Ama a teu próximo como
a ti mesmo’. Não existe outro caminho possível” (Ubaldi, 1987, p. 16).
Mas porque razão, mesmo passados mais de
dois mil anos, a humanidade ainda não aprendeu essa lição aparentemente
simples? Para compreender esta questão, é preciso levar em consideração que a
filosofia de Ubaldi é evolucionista, quer dizer, para o pensador italiano, o
espírito deve percorrer um longo caminho cujo ponto de partida é a matéria: do
reino mineral passa ao vegetal, animal, subindo sempre, até chegar ao estágio
humano.[3]
E no homem, esse processo ainda se estende por vários séculos e até milênios:
“Num plano de existência muito mais alto, a evolução realiza-se no homem,
através do homem que exprime uma fase dela [...] em direção a planos de
existência cada vez mais altos” (Ubaldi, 1995, p. 66-67).
À continuidade da evolução orgânica temos
a evolução psíquica que se realiza no homem, a meta mais alta da vida. O
processo evolutivo que se inicia na matéria, transubstancia-se no espirito,
“santificando-a, assim, até que no homem e mais acima dele, conquiste cada vez
mais consciência, e assim o alfa se reúna ao ômega, a criação volte ao criador”
(Ubaldi, 1995, p. 73).
Por que ressaltamos esse aspecto evolutivo
da obra ubaldiana? Por que as condições de maturidade psíquica e espiritual
determinam se um indivíduo está mais próximo de uma visão individualista ou
coletivista do amor universal. Todos, sem exceção, amam. Alguns, porém, devotam
esse amor de forma mais direta apenas a sua família, parentes e amigos. Outros
compreendem que toda a humanidade faz parte de uma família universal e, por
isso, são capazes de expressar esse amor de forma menos restrita.
O Amor é lei universal da vida e todos,
desde os animais até o homem, amam, só que amam cada um de acordo com o seu
nível evolutivo. O mandamento ama ao teu próximo como a ti mesmo expressa uma
lei de um plano biológico mais evoluído, que não é aquele do plano biológico
animal.
As
leis da vida mudam, relativamente ao grau de evolução que se atingiu. A lei feroz
da luta pela seleção do mais forte é lei em nosso plano animal, em que os seres
não se conhecem uns aos outros. Encontram-se num estado caótico em que o
indivíduo está sozinho, com suas forças, contra todos (Ubaldi, 2001, p. 249).
Amadurecer espiritualmente significa
evoluir, e assim aprender a lei de amor do Evangelho, colaborar com o próximo,
ao invés de lutar contra ele. Mas na humanidade atual ainda prevalece o biótipo
comum que usa a força para vencer.
Eis a que se propõe o Evangelho, uma
tarefa árdua e trabalhosa de transformar um tipo biológico egoísta em um tipo
biológico oposto, altruísta.
“Ama
a teu próximo” será o conceito-base das sociedades futuras mais evoluídas [...]
Nossa sociedade está nos antípodas do “ama a teu próximo”. Vive-se hoje o
princípio oposto: “esmaga teu próximo, antes que teu próximo te esmague”
(Ubaldi, 2001, p. 258).
A evolução caminha de uma fase para outra,
da animalidade para a civilização. Todos nós temos, dentro de nós, os recursos
para fazer desta, uma humanidade mais solidária e fraterna, menos bárbara e
intolerante. O Evangelho serve como guia, mas os esforços para colocar seus
ensinamentos em prática deve ser nosso. Desenvolver uma maior tolerância com as
diferenças, uma maior compreensão da nossa realidade a ponto de entender que o
próximo não é um inimigo que devemos combater a todo custo, mas alguém a quem
devemos amar, é tarefa nossa.
Vejamos agora como, a partir da visão
universalista do filósofo italiano, baseada no amor ao próximo, tal como
encontramos na Boa Nova do Cristo, decorre uma visão de tolerância e respeito
para com todas as pessoas, independentemente de suas crenças e nacionalidades.
Tolerância
e Respeito
Ubaldi é bastante claro ao afirmar que
desta visão de mundo baseada no amor ao próximo, pode nascer um grande respeito
recíproco, uma nova possibilidade de compreensão, um espírito de fraternidade,
ao contrário do amor à ortodoxia e da psicologia farisaica que levam a divisão
e a intolerância.
Pelo princípio da universalidade, a obra
de Ubaldi nos ajuda a entender que vivemos em uma realidade plural. Nos
possibilita pensar na complexidade e riqueza das relações entre as diferentes
culturas e, assim, promover a tolerância e o diálogo intercultural e
interreligioso.
Que
no terreno filosófico, político, religioso, isso signifique tolerância. Não,
porém, uma tolerância raivosa, na atitude de quem suporta com desdém o erro
alheio; ao contrário, uma tolerância que busca os pontos de contato, os pontos
comuns, e se alegra quando pode dizer: “Mas, então, concordamos em muitas
coisas! Não estamos, pois, tão distanciados quanto nos parecia. Podemos
entender-nos um pouco e não há necessidade de contenda” (Ubaldi, 1987, p. 23).
Uma tolerância que leva em consideração os
diferentes tipos de crença e religiosidade e que, segundo o filósofo, mais do
que qualquer rótulo, o que importa é a sinceridade e a honestidade com que cada
indivíduo vive a sua fé: “Que importa pertencer a esta ou aquela religião,
quando não se é sincero nem honesto?” (Ubaldi, 1987, p. 28).
Naturalmente, não se trata de negar as
diferenças que existem entre as mais diferentes religiões. Há aquilo que
distingue os indivíduos uns dos outros por suas crenças e valores culturais.
Todavia, se queremos estabelecer algum tipo de distinção, esta não deve ser
aquela
vigorante
em nosso mundo: católicos, protestantes, espiritistas, teosofistas, maçons,
maometanos, budistas etc. — mas, sim, o justo e o injusto. Esta é a distinção
substancial, a que tem valor diante de Deus, muito mais importante que a outra,
que pode ser apenas formal (Ubaldi, 1987, p. 28).
É natural que haja culturas e valores
diferentes entre os mais variados povos. O que não podemos aceitar é que essa
divisão gere a intolerância e o desrespeito para com os valores do próximo.
“Ora, esse espírito de divisionismo e de exclusivismo e a luta que daí deriva
representam os instintos próprios de um plano biológico atrasado, que o
progresso espiritual do mundo se apressará em liquidar” (Ubaldi, 2001, p. 244).
Esse tipo de intolerância conduz a uma
total falta de respeito com os valores do próximo e em alguns casos até a
agressividade, como foi o caso do pastor neopentecostal, Sérgio von Helder que,
em 1995, chutou a imagem de Nossa Senhora Aparecida (exatamente no dia 12 de
outubro de 1995, data que marca o feriado destinado a homenagear a Santa). A
atitude foi transmitida ao vivo pela rede Record de Televisão em programa
apresentado pelo pastor e “provocou polêmica e indignação em todo o país e até
mesmo no contexto internacional, ao agredir uma imagem da supracitada santa
durante o programa religioso ‘O Despertar da Fé’” (Oliveira, 2018, p. 31).
Outro exemplo de intolerância foi a
chamada “batalha espiritual” contra os “orixás, cablocos e guias”, declarada
pelo fundador da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), o bispo Edir Macedo
(Silva, 2007).
A questão a ser considerada não é que
existam religiões e valores diferentes. “Não é a diferença ideológica dos
pontos de vista das religiões que deixamos de aceitar. Tudo isso é natural e
lógico” (Ubaldi, 2001, p. 21). O problema é afirmar a própria verdade
condenando como erradas as verdades dos outros. Por isso, se torna inaceitável
a atitude de condenação, de exclusividade da posse da verdade e, não raro, de
agressividade com que alguns indivíduos são levados a defender a sua verdade ou
a verdade de seu grupo religioso. Por isso, diz Ubaldi (2001, p. 21): “Não nos
interessa tomar parte nestas rivalidades terrenas, que nada têm a ver com a
pesquisa da verdade que buscamos”.
O problema é que, em sua grande maioria,
as religiões pretendem ter a posse da verdade universal: “todas as igrejas
querem ser universais, mas apenas no sentido imperialista: todas querem
unificar mas debaixo do próprio domínio. Não foi nesse sentido que compreendi a
universalidade” (Ubaldi, 2001, p. 243). Esse tipo de universalidade não traz
benefício algum para o conjunto da humanidade e em alguns casos se expandiu de
tal forma que pretendeu conquistar tudo.
Conclusão
Para o filósofo espiritualista e cristão,
Pietro Ubaldi, o Evangelho da Boa Nova do Cristo com a sua máxima do amor ao
próximo constitui um dos mais importantes alicerces para a nossa sociedade. Não
apenas da sociedade presente, mas também da futura sociedade que, mais
evoluída, deverá enfim cumprir com os mandamentos que o Cristo deixou para nós
há mais de dois mil anos.
Ubaldi é um filósofo evolucionista e, como
tal, crê que a humanidade tem seus períodos de infância e maturidade
espiritual. Por isso, evoluir espiritualmente significa ter uma visão mais
ampla da realidade e compreende que os ensinamentos do Cristo não são
privilégios desta ou daquela religião, mas dizem respeito a toda humanidade.
Por isso o filósofo adota como princípios de sua filosofia a universalidade e a
imparcialidade que significa a não ficar fechado dentro da forma mental de um
grupo particular, seja ele religioso, político ou cultural. Significa
compreender que todos os homens, independente de crença, raça ou nacionalidade,
são irmãos, porque são filhos do mesmo Pai, que é Deus.
Por isso, universalidade e imparcialidade
significam não impor qualquer barreira de religião, nacionalidade ou raça que
possa dividir os homens e muito menos agredir qualquer forma de expressão
religiosa, mas, ao contrário, respeitá-las, todas.
Com tais princípios de universalidade e
imparcialidade, que decorrem da máxima “ama ao teu próximo como a ti mesmo”,
Ubaldi nos indica um caminho a percorrer que seja um caminho de paz e
fraternidade e não de ódio ou divisão e nos permite concluir que, se a
tolerância e o respeito decorrem da prática evangélica do “amor ao próximo”, a
intolerância e o ódio são frutos do princípio oposto: “esmaga o teu próximo,
antes que teu próximo te esmague”.
Referências
AMARAL,
José. Pietro Ubaldi, o Missionário. Campos dos Goytacazes-RJ: Fraternidade
Francisco de Assis. Instituto Pietro Ubaldi, 2020.
OLIVEIRA,
Mariana Montalvão. A Questão da Intolerância Religiosa, na Perspectiva do
Direito Brasileiro. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em
Direito), Curso de Direito – UniEvangélica, Anápolis-GO, 2018.
SILVA,
Manuel Emygdio da. O Gênio de Ubaldi e a Evolução da Humanidade
(colóquios e correspondências). Brasília: Ontoletras, 2015.
SILVA,
Vagner Gonçalves da (org.). Intolerância Religiosa: impactos do
neopentecostalismo no campo religioso afro-brasileiro. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2007.
UBALDI,
Pietro. Grandes Mensagens. Tradução de Clóvis Tavares. Brasília-DF:
Instituto Pietro Ubaldi, 2012. (Obras completas de Pietro Ubaldi, v. 1).
____.
Fragmentos de Pensamento e de Paixão. 4. ed. trad. Rinaldi Rondino e
Clóvis Tavares. Rio de Janeiro: Fundação Pietro Ubaldi, 1987. (Obras Completas
de Pietro Ubaldi, v. 6)
____.
A Lei de Deus. 5. ed. Campos dos Goytacazes-RJ: Fraternidade Francisco
de Assis, 2001. (Obras Completas de Pietro Ubaldi, v. 17)
____.
A Descida dos Ideais. Campos dos Goytacazes-RJ: Fraternidade Francisco
de Assis, 1995
[1] Doutor em Sociedade e Cultura da Amazônia. Professor Adjunto da Universidade Federal do Amazonas. Contato: alexsandromedeiros@ufam.edu.br
[2] A Mensagem de Natal foi a primeira, de um conjunto de sete mensagens, de elevado teor espiritual, recebidas por Ubaldi, de forma intuitiva, cuja fonte de origem ele chamou de Sua Voz. Esta primeira mensagem foi ditada na noite de Natal de 1931, daí o seu título. “Após a reunião em família, tão comum nesta época, e participar da ceia, desejando a todos um Feliz Natal, dirigiu-se ao seu escritório no último andar da torre da Tenuta Santo Antonio. Ali teve o início da missão de Pietro Ubaldi [...] Sempre orientado por Sua Voz, que ditou a primeira Mensagem, naquela noite de Natal de 1931” (Amaral, 2020, p. 86).
[3] O conceito de
evolução aparece em diferentes obras de Ubaldi, entretanto, considerando que
aqui só poderemos fazer uma rápida exposição, indicamos algumas obras ao
leitor: Ascese Mística: capítulos 9 a 13; Fragmentos de Pensamento e de Paixão:
segunda parte; O Sistema: primeira parte; Queda e Salvação: capítulos 1, 8, 10,
11, 14.
Destaco esta frase do seu belo artigo: “Que importa pertencer a esta ou aquela religião, quando não se é sincero nem honesto?” (Ubaldi, 1987, p. 28).
ResponderExcluirO pensamento de Ubaldi é exatamente o de Kardec, que não via o Espiritismo como religião e sim como Filosofia Espiritualista, como está encimado na folha de rosto d'O Livro dos Espíritos.
A tolerância religiosa e até mesmo dos que não têm uma religião é o que Kardec e o Espiritismo sempre pregaram, sem qualquer intenção proselitista. Tanto é assim que, nas reuniões da União Espírita Francesa, pessoas de todas as crenças e até ateus eram aceitos. No Brasil é que o Espiritismo adotou a palavra "religião" em troca de "moral" ou "ética", por necessidade de adaptação às questões formais e para minimizar os ataques e preconceitos religiosos, além da intolerância dos próprios governantes e exigência do sistema.