21.5.3 Os falsos profetas
da erraticidade
Erasto - Discípulo de Paulo. Paris, 1862
Os falsos profetas não existem apenas entre os
encarnados, eles também são muito mais numerosos entre os Espíritos orgulhosos
que, fingindo amor e caridade, semeiam a desunião e retardam a obra de
emancipação da Humanidade, impondo-lhe seus sistemas absurdos, através dos
médiuns que os servem. E para melhor fascinar os que desejam enganar, para dar mais peso às
suas teorias, apoderam-se inescrupulosamente de nomes que os homens só
pronunciam com respeito.
São eles que semeiam os fermentos
dos antagonismos entre os grupos, que os levam a isolar-se uns dos outros e a
se mostrarem com mau olhar. Somente isso bastaria para os desmascarar, porque,
assim agindo, eles mesmos oferecem o mais formal desmentido ao que dizem ser. Cegos,
portanto, são os homens que caem em tão grosseira cilada.
Mas há ainda muitos outros
meios de os reconhecer. Os Espíritos da ordem a que eles dizem pertencer, devem
ser não somente muito bons, mas também eminentemente racionais. Pois bem, passem
seus sistemas pelo crivo da razão e do bom senso, e vocês verão o que restará.
Concordarão então comigo em que, sempre que um Espírito indicar, como remédio
para os males da Humanidade, ou como meios de realizar a sua transformação,
medidas utópicas e impraticáveis, pueris e ridículas, ou quando formula um
sistema contraditado pelas mais corriqueiras noções científicas, só pode ser um
Espírito ignorante e mentiroso.
Por outro lado, lembrem-se
de que, se a verdade nem sempre é apreciada pelos indivíduos, sempre o é pelo
bom senso das massas, e isso também constitui um critério. Se dois princípios se
contradizem, vocês terão a medida do valor intrínseco de ambos, observando qual
deles encontra mais repercussão e simpatia. Com efeito, seria ilógico admitir
que uma doutrina cujo número de adeptos diminui, seja mais verdadeira que
outra, cujo número aumenta continuamente. Deus, querendo que a verdade chegue a
todos, não a confina num círculo restrito, mas a faz surgir em diferentes lugares,
a fim de que, por toda parte, a luz se apresente ao lado das trevas.
Repeli impiedosamente
todos esses Espíritos que se manifestam como conselheiros exclusivos, pregando
a divisão e o isolamento. São quase sempre Espíritos vaidosos e medíocres, que
tentam impor-se a pessoas fracas e crédulas, prodigalizando-lhes louvores exagerados,
a fim de fasciná-las e dominá-las. São geralmente Espíritos sedentos de poder, que,
tendo sido déspotas no lar ou na vida pública, quando vivos, ainda querem
vítimas para tiranizar, depois de sua morte. Em geral, portanto, desconfiem das
comunicações que trazem um caráter de misticismo e de estranheza, ou que
prescrevem cerimônias e práticas extravagantes. Há sempre, nesses casos, um
motivo legítimo de suspeição.
Por outro lado, estejam certos
de que sempre que uma verdade deve ser revelada à Humanidade, ela é, por assim
dizer, comunicada instantaneamente, a todos os grupos sérios que possuem médiuns
sérios, e não a este ou àquele, com exclusão dos outros. Ninguém é médium
perfeito, se estiver obsidiado, e há obsessão manifesta quando um médium só
recebe comunicações de um determinado Espírito, por mais elevado que este
pretenda colocar-se. Em consequência, todo médium e todo grupo que se creem
privilegiados, em virtude de comunicações que só eles podem receber, e que,
além disso, se sujeitam a práticas supersticiosas, encontram-se indubitavelmente
sob uma obsessão bem caracterizada. Sobretudo quando o Espírito dominante se
vangloria de um nome que todos, Espíritos e encarnados, devemos honrar e respeitar,
não deixando que seja empregado sem propósito.
É incontestável que,
submetendo-se ao critério da razão e da lógica todos os dados e todas as comunicações
dos Espíritos, será fácil rejeitar o absurdo e o erro. Um médium pode ser
fascinado, e um grupo pode ser enganado; mas o controle severo dos outros
grupos, a ciência adquirida, a elevada autoridade moral dos dirigentes de grupos,
as comunicações dos principais médiuns, marcadas pelo cunho da lógica e da autenticidade
dos melhores Espíritos, rapidamente farão desmascarar esses ditados mentirosos
e astuciosos, procedentes de uma turba de Espíritos mistificadores ou maldosos.
(Ver, na Introdução, o parágrafo II: Controle universal do ensino dos
Espíritos. E ver, n’O Livro dos Médiuns, o cap. 23, Obsessão).
Tradução livre do Prof.
Dr. Jorge Leite de Oliveira
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