A SUBLIME POESIA DE MARIA DOLORES
COM TODO AMOR
Era sim. Eu era a teimosia em pessoa. Lembra-se, Mãezinha, de quando me ocultava para fugir de
você? Escutava seus gritos, suas palavras ternas: — “Venha cá. Mamãe está chamando...” Ouvia tudo e arrancava-me para longe. E, quando me achava de novo em casa, era bastante que o seu
olhar indagador me fitasse para que me pusesse a agredir: — “Você, Mamãe, não me entende... Nunca entendeu... Nada.
Quero viver minha vida que é diferente da sua. Deixe-me em paz...” Percebia que os seus olhos se erguiam para mim, molhados de
lágrimas que não chegavam a cair, sem qualquer palavra de reprovação ou de
queixa. Hoje, que a experiência me renovou, creio que o seu
silêncio devia ser uma conversa com Deus a meu respeito, que eu não procurava,
nem queria compreender. Agora, porém, anseio confessar que todas as minhas frases
tocadas de aspereza e de ingratidão eram mentira pura. Por que passaria tanto tempo sem que eu lhe dissesse isto? Em verdade, nunca encontrei um amor igual ao seu. A vida nos separou com a rudeza da tesoura que corta um
ramo florido da árvore em que nasceu. Qual sucede à flor arrebatada aos braços da fronde, muitos
disseram que eu ia para a festa...Entretanto, de todas as festas a que o mundo me conduziu,
sempre me retirei com mais sede da sua ternura, da sua ternura transitoriamente
perdida. Seu amor está em meu coração, como a vida que se entranha
em minh’alma. Seus gestos de carinho permanecem comigo como estrelas no céu noturno. Perdoe-me pelas cruzes de aflição que dependurei no seu
peito, mas ouça, Mãezinha!... Deus não permitirá que o seu sacrifício tenha
sido em vão. Venho beijar-lhe os cabelos, que a prata do tempo começou a
enfeitar de luz, e, ao rever-me no espelho cristalino do seu olhar, observo quanto
mudei!... Ampare-me, não me abandone!... E, se posso pedir alguma
cousa com o pranto de meu reconhecimento, rogo incline o ouvido para os meus lábios.
Anseio revelar um segredo... Unicamente entre nós. Você e eu...Isto agora é tudo quanto quero falar: — Você, Mamãe, sempre me compreendeu... Sei agora que nunca
nos separamos. Abrace-me... Está sentindo? Meu coração está pulsando pelo seu
coração... Abrace-me... Mais ainda!... Tenho fome do seu amor...
Abençoe-me, ensine-me a conversar também com Deus e deixe que eu diga que nunca serei feliz
sem você. MARIA DOLORES (Espírito). In: ESPÍRITOS
DIVERSOS. Os dois maiores amores. Psicografado por Chico Xavier. 4. ed.
São Bernardo do Campo, SP: Grupo Espírita Emmanuel (GEEM), 2010.
Era sim. Eu era a teimosia em pessoa.
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