segunda-feira, 31 de outubro de 2022
ANOTAÇÕES
DA FÉ
domingo, 30 de outubro de 2022
26.1.2 Vendilhões expulsos do templo
Eles vieram em seguida a Jerusalém, e Jesus, entrando no templo, começou a expulsar os que vendiam e compravam; derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombos; e não consentia que ninguém transportasse móvel algum pelo templo. E os ensinava, dizendo-lhes: — "Não está escrito: minha casa será chamada casa de oração por todas as nações?" E vocês têm feito dela covil de ladrões.
Ouvindo isso, os príncipes dos sacerdotes
procuravam meio de o prender, porque o
temiam, pois todo o povo admirava sua doutrina. (Marcos, 11:15- 18; Mateus, 21:12- 13)
Jesus expulsou os vendilhões do templo, e assim condenou
o tráfico das coisas santas, sob qualquer forma que seja. Deus não vende
sua bênção, nem seu perdão, nem a entrada no Reino dos Céus. O homem não tem,
portanto, o direito de cobrar nada disso.
sábado, 29 de outubro de 2022
EM DIA COM O
MACHADO 547:REVELAÇÃO TRANSCENDENTAL
(Irmão Jó) Alma querida, eu estava refletindo
na teoria positivista, que tudo atribui às leis da matéria, quando levei um
susto. À minha frente, apareceu o Espírito Augusto dos Anjos, que me disse, em
versos, o seguinte: Tu
não és força nêurica somente,Movimentando
células de argila,Lama
de sangue e cal que se aniquilaNos
abismos do Nada eternamente; És
mais, és muito mais, és a cintilaDo
Céu, a alma da luz resplandecente,Que
um mistério implacável e inclementeAmortalhou
na carne atra e intranquila. Apesar
das verdades fisiológicas,Reflexas
das ações psicológicas,Nas
células primevas da existência, És
um ser imortal e responsável,Que
tens a liberdade incontestávelE
as lições da verdade na consciência.[1] Era meia-noite, e eu acabara de
adormecer. Acordei assustado e não mais o vi. Então, fui à estante dos meus
livros, abri a obra Parnaso de Além-Túmulo e, dentre outros poemas do
Espírito Augusto, lá estava este soneto, cujo título é Ao homem.
Acredite se quiser. Saúde, paz e luz!
sexta-feira, 28 de outubro de 2022
ASSISTÊNCIA FRATERNAL
Deus te compense, alma boa,
A ti, que estendes a mão,
Repartindo alegremente
Carinho, agasalho e pão.
Deus te envolva em alegria
Todo esforço de esquecer
A ofensa que se te faça,
Buscando a paz por prazer.
Deus te exalte o gesto amigo
Quando levantas alguém
Da tristeza do infortúnio
Para as estradas do bem.
Deus te engrandeça o trabalho
Com que te esqueces e vais
Auxiliar e servir
Àqueles que sofrem mais.
Por toda a bênção que espalhes,
Que o mundo nem sempre diz,
Que a Vida te recompense
E Deus te faça feliz.
DOLORES, Maria. A vida conta. Psicografia de F. C. Xavier.
1980.
quarta-feira, 26 de outubro de 2022
ANOTAÇÃO
FRATERNA Ouço-te, alma querida, a pergunta frequente:– “Como vencer tanta barreira à frente?Tanto empeço ao redor? Tanta prova em caminho?Tanta pedra a cercar-me? Tanto espinho?Como entender o lar em conflito constante?Sinto me qual formiga, enfrentando um gigante,– O gigante da dor em que me vejo...Por que lutar assim, se a paz é o meu desejo?!...” Se posso responder-te, apenas digo:– Não te atormentes, coração amigo,A vida sobre a Terra é internato na escola.O sofrimento que te desconsolaEm cada fase vale por ensinoQue te habilite à promoçãoA mais alto destino,Na conquista ideal da perfeição...
Observa contigo a imensa caravana:Os companheiros da família humana...Não acharás ninguém sem luta e sem problemas...Esse irmão, rente a nós, caminha nas algemasDa enfermidade em que se desfigura;Aquele, a tropeçar na desventura,Suporta a incompreensão dos seres mais queridos;Outro exibe nos ombros doloridos,Embora ocultamente,A cruz de quem governa muita gente,Sem que o mundo perceba quanto dóiO fardo que o mantémPreso ao nobre suor de quem serve e constróiPara a extensão do bem;Outros se arrastam carregandoTribulações em bando:Filhos em lamentável rebeldia,Buscando a fuga em marcha estranha e cega,Voltando ao lar depois pela senda sombriaDo presídio da angústia que os segregaE amargas provações que surgem de surpresa,Desânimo, penúria, abandono, tristeza...Entretanto, alma boa,Não te revoltes, segue!... Ama, perdoa,Aceita-te como és e trabalha onde estás...Obrigação cumprida é o caminho da paz. Sofre e abençoa, chora mas porfiaAprendendo as lições de cada dia... A existência na Terra é a subida escarpadaE o dever nos recorda o símbolo da cruz;Segue e agradece a Deus a aspereza da estrada Que te eleva da sombra à exaltação da luz!...
DOLORES, Maria. A vida conta. Psicografia de F. C. Xavier. 1980.
segunda-feira, 24 de outubro de 2022
AFETOS RELEMBRADOS
Alma querida, escuta:
Depois de compromissos
assumidos,
De coração atônito,
avistaste
Formosas afeições de
tempos idos...
Não sabes definir o
sentimento
Que te parece fome, em
que lutas e esperas,
Ansiando reaver
cuidados incessantes,
Contatos e alegrias de
outras eras.
Eis que a reencarnação,
vedando-te as lembranças,
Não te deixa extrair da
névoa transitória
Nomes e posições,
impulsos e ocorrências
Que a vida te guardou
no escrínio da memória...
Mas a lei da atração te
fala sem barulho,
Na força do reencontro
inesperado,
Sobre a nova expressão
em que se te apresentam
As ligações que volvem
do passado.
Alma presa ao dever em
que te ajustas,
Bastas vezes te vês em
pranto ardente;
Queres reter, de novo,
os laços prediletos
De que vives ausente.
Entretanto, alma boa,
louva sempre
A prova que te envolve
o próprio “eu”...
Firam-te estranhas
dores, permanece
No trabalho que o Céu
te concedeu.
Ama, abençoa, ampara,
esclarece, aprimora...
Essas almas queridas
São flores que
plantaste noutro tempo,
Entre sombras e luzes
de outras vidas.
Não lhes negues carinho
e reconforto,
Mas não te faças
coração em chama,
Ensina-lhes o amor em
sacrifício
Com que o Cristo nos
ama.
Cumpre as obrigações em
que Deus te resguarda,
Sem de leve
rompê-las...
E, um dia, encontrarás
o amor de teus sonhos mais altos,
No País das Estrelas.
DOLORES, Maria. A
vida conta. Psicografia de F. C. Xavier. 1980.
domingo, 23 de outubro de 2022
26 DAR DE GRAÇA O QUE DE
GRAÇA RECEBER
Dom de curar - Preces pagas - Vendilhões
expulsos do templo - Mediunidade gratuita.
26.1 Dom de curar
Restituam a saúde aos
enfermos, ressuscitem os mortos, curem os leprosos, expulsem os demônios; deem
de graça o que de graça receberam. (Mateus, 10:8)
"Deem
de graça o que de graça receberam", disse Jesus aos seus discípulos. Por
essa recomendação, estabelece que não se deve cobrar por aquilo que nada custou.
Ora, o que eles haviam recebido de graça era a faculdade de curar os doentes e
de expulsar os demônios, ou seja, os maus espíritos. Esse dom lhes fora dado
gratuitamente por Deus, para alívio dos que sofrem e para ajudar na propagação
da fé. Ele lhes diz que não o transformem em objeto de comércio ou de
especulação, nem em meio de vida.
26.1.1 Preces pagas
Disse ele em seguida a
seus discípulos, na presença de todo o povo que o escutava: Evitem os escribas,
que desfilam com longas roupas, gostam de ser saudados nas praças, de ocupar as
primeiras cadeiras nas sinagogas e os primeiros assentos nos banquetes; que a
pretexto de longas preces devoram as casas das viúvas. Essas pessoas receberão condenação
mais rigorosa. (Lucas, 20:45- 47,
Marcos, 12:38- 40; Mateus, 23:14)
Disse ainda Jesus: Não aceitem pagamento por suas preces.
Não façam como os escribas, que "a pretexto de longas preces devoram as
casas das viúvas", isto é, apropriam-se das fortunas. A prece é um
ato de caridade, um impulso do coração; cobrar por aquelas que se dirige a Deus
pelos outros é transformar-se em intermediário assalariado. A prece se
transforma, então, numa fórmula que é cobrada segundo o seu tamanho. Ora, de
duas, uma: Deus mede ou não mede suas graças pelo número das palavras; se forem
necessária muitas, como dizer apenas algumas, ou quase nada, por aquele que não
pode pagar? Isso é falta de caridade. E se uma palavra é suficiente, o excesso
é inútil. Então, como cobrá-lo? É uma prevaricação.
Deus não vende os benefícios que ele concede. Por que,
então, quem nem sequer é o seu distribuidor,
que não pode garantir sua obtenção, cobra por um pedido que talvez não lhe traga
nenhum resultado? Deus não pode subordinar um ato de clemência, de bondade ou
de justiça que se solicita de sua misericórdia, a um determinado pagamento;
mesmo porque, se o fizesse, o pagamento não sendo efetuado, sendo insuficiente,
a justiça, a bondade e a clemência de Deus ficaria em suspenso. A razão, o bom
senso, a lógica, dizem-nos que Deus, a perfeição absoluta, não pode delegar a
criaturas imperfeitas o direito de estabelecer preços para sua justiça. A
justiça de Deus é como o Sol, que se distribui para
todos, para o pobre como para rico. Se consideramos imoral traficar com as
graças de um soberano da Terra, seria lícito vender as do Soberano do Universo?
As preces pagas têm ainda outro inconveniente: aquele que
as compra se julga, no mais das vezes, dispensado de orar por si mesmo, pois
considera-se livre dessa obrigação, desde que deu seu dinheiro. Sabe-se que os espíritos
são tocados pelo fervor do pensamento dos que se interessam por eles. Qual pode
ser o fervor daquele que paga um terceiro para orar por ele? Qual o fervor desse terceiro quando delega seu
mandato a outro, este a outro, e assim por diante? Não será isso reduzir a
eficácia da prece ao valor duma moeda corrente?
sábado, 22 de outubro de 2022
EM DIA COM O MACHADO 546 -
REFLETINDO COM O ESPÍRITO VICTOR HUGO: FAVELA MORAL (Irmão Jó)
Há pouco tempo, alma querida, adquiri a obra organizada
por Washington Fernandes sobre “reflexões filosóficas” nos romances
psicografados por Divaldo Franco e ditados por um dos maiores escritores que o
mundo já conheceu: Victor Hugo. A obra contém 100 reflexões, mas hoje destaco e
comento duas frases duma delas, para nossa reflexão e principalmente prática,
pois de teorias o mundo anda farto. Estão na primeira das cinco partes do livro
intitulado: 100 Reflexões Filosóficas e cor Local nos Romances Mediúnicos de
Victor Hugo. As frases comentadas são do capítulo 2, denominado Favela
moral.
Diz Hugo que: “[...] A favela são as pessoas reunidas, os
espíritos estiolados, que o cansaço e a fome, o ódio e a indiferença
ressequiram, quase mataram, porque deixaram vivendo na morte lenta”.
É importante observar que nesse lugar há muitas pessoas altamente solidárias e trabalhadoras. Estas, muitas vezes, para bem sobreviverem, observam a violência ao lado de seu barraco, mas são obrigadas a fingir que nada viram, pois, se denunciam o fato, duas coisas podem ocorrer: a primeira é que as autoridades não investiguem sua denúncia. E não vamos aqui julgar o motivo disso. A segunda é que a violência pode voltar-se contra o denunciante ou sua família, em vingança por sua atitude.
Da favela, porém, saem professores, advogados, médicos, engenheiros... que não se conformaram com a vida miserável em que viviam e, trabalhando duro para custear os próprios estudos, laboram de dia e estudam à noite. Mas também saem de lá pedreiros, eletricistas, pintores de paredes, faxineiros, cuidadores, babás... dignos e honestos.
Todos, porém, têm um desejo principal: viver bem. Para
isso, a maioria sonha com um lar onde não lhe falte vestuário, boa alimentação,
segurança e lazer. Deseja casar-se, ter filhos aos quais possa educar com
vistas a futuro socioeconômico melhor. Infelizmente, porém, os preguiçosos,
invejosos, egoístas, também ali estão. Sentem-se excluídos do que consideram
privilégios e não conquistas pessoais. Daí revoltarem-se e optarem por diversos
crimes como vingança da sociedade que consideram injusta.
Então prossegue o Espírito Victor Hugo: “Onde a
desesperança se agasalha nos braços da rebeldia, gerada pelo desconforto
social, unindo os espoliados físicos, econômicos e morais, aí está a favela.
Sejam duas pessoas esquecidas, engendrando na miséria a criminalidade e a
ignomínia, seja no grande aglomerado que constitui a arquitetura para o turismo
ultrajante, onde se mesclam todas as paixões, aí estão as almas faveladas”.
Daí, a pior favela está no íntimo da pessoa que, mesmo quando passa a
morar em bairro residencial no qual suas condições de vida sejam muito
melhores, leva consigo a favela moral. Saiu da favela material, mas a
favela espiritual continua presente em sua alma, expressa pela revolta, pelos
vícios, pelo egoísmo, enfim, pela miséria moral.
Segundo Allan Kardec, esse estado de espírito só
terminará quando a educação moral de todos os cidadãos caminhar passo a passo
com o acúmulo de conhecimentos intelectuais. Ou seja, é preciso que a educação
intelecto-moral se faça presente nos lares e nas escolas para que tenhamos uma
sociedade mais justa e nos libertemos da favela moral. Nesse sentido, o conhecimento
e, sobretudo a prática dos esclarecimentos espíritas cristãos muito têm a nos oferecer,
desde que nos proponhamos a “colocar a mão no arado e não olharmos para trás”,
como nos recomendou Jesus. Só assim sairemos de vez da favela moral.
sexta-feira, 21 de outubro de 2022
ERROS DO
AMOR
Ante os erros do amor que aparecem na vida,
Nunca ergas a voz.
Recorda, coração, se a pessoa acusada
Fosse qualquer de nós.
Quem poderá pesar as circunstâncias
De convivência, angústia e solidão!...
Quanta mudança chega de improviso
Por um “sim, por um não”!...
Entre afeto que sonha e dever que governa,
Quanto conflito surge e quanto anseio vêm!...
Quando a dor de ser só escurece o caminho
Ninguém pode prever as lágrimas de alguém...
Votos no esquecimento, afeições destruídas,
Ocultas aflições, desencantos fatais!...
Quanto chora quem sofre, ante golpe e abandono,
E quem bate ou despreza, às vezes, sofre mais.
Ante as faltas de amor, alma querida,
Não te dês à censura sempre vã,
Que o teu dia de amor incompreendido
Talvez chegue amanhã.
Problemas de quem ama, em luta e prova,
Sejam teus, sejam meus...
Quem os conhecerá, desde o princípio?...
Quem os verá?... Só Deus.
DOLORES, Maria
(Espírito). Mãos marcadas. Psicografado
por Chico Xavier. Araras, SP: IDE Livraria, 1972.
segunda-feira, 17 de outubro de 2022
HISTÓRIA
DE UMA FESTA
O palacete brilha. A agitação é imensa.
Lâmpadas recordando opalas e rubis
São postas no jardim para serem acesas,
Orquídeas multiplicam-se nas mesas,
É o natalício em luz da pequena Beatriz.
Ela, o centro da festa, a bela pequenina,
Naquele casarão feito em linhas austeras,
Completava oito lindas primaveras.
Para todos aqueles que a cercavam,
Era sempre gentil, generosa e suave,
Um encanto de menina.
O dia terminava, ante o sol inda quente,
Entretanto, Beatriz,
Muito embora gripada,
Sentia-se feliz
Na ideia de abraçar a muita gente...
A única filha do casal Garcia
Parecia voar num sonho de alegria.
De minuto a minuto, estava à porta grande,
Fitava a rua, em vão, para todos os lados
E perguntava-se, ansiosa,
De onde estariam vindo os convidados.
Quase que de improviso,
Ela enxerga Marcela, armada de sacola,
A menina descalça e maltrapilha,
Que, às vezes, passa ali pedindo esmola
Para ajudar ao pai paralítico e só.
Beatriz sente dó
Da pequena vestida em trapos remendados
E, abraçando-a, anuncia:
— Vem comigo, Marcela, hoje é meu dia,
Quero que comas do meu bolo.
Mas, ao apresentá-la
À senhora Garcia,
Que parece manter-se de vigia,
Nos adornos da sala,
A filhinha acrescenta:
— Mamãe, esta é Marcela,
Que sempre vai ao nosso educandário,
Tem o pai doente e espera o nosso auxílio,
Peço a senhora dar a ela
Um pedaço do bolo
De meu aniversário.
A menina, porém, escuta em desconsolo,
A mãezinha dizer, séria e zangada:
— Por onde foi você
Buscar esta garota esfarrapada?
Nossa festa é de amigos,
Nossa casa não tem ligação com mendigos.
E fitando Marcela, a dama continua:
— Saia agora daqui, seu lugar é na rua...
A menina em andrajos sai correndo,
Mas Beatriz parada,
Sob choque tremendo,
Chora desconsolada...
— Filha, por que você conserva essa mania,
— Diz com severidade a senhora Garcia —
De dar tanta atenção a crianças imundas?
Não mais me traga aqui pequenas vagabundas.
Pouco tempo depois, a festa começava...
Ante o bolo enfeitado e oito velas pequenas,
Vozes erguiam felicitações,
Irmanavam-se os votos e as canções,
E num painel de rosas e açucenas,
Uma orquestra vibrava...
Terminada, porém, a festa linda,
A família Garcia enfrenta o inesperado;
Nove horas da noite... Cedo ainda...
A pequena Beatriz havia piorado.
Tinha a cabeça em fogo, o corpo em febre alta...
O médico é chamado, investiga, examina
E conclui pela voz da medicina:
— Infelizmente, é o crupe... um monstro fulminante...
Vem a medicação. De instante para instante,
A doente piora, agita-se, delira
E pergunta à mamãe: — Quem chama e se retira?
Ah! Mamãe, eu já sei quem expulsou Marcela,
Quero dar de meu bolo um pedacinho a ela...
Porque tenho, mamãe,
Tanta roupa guardada,
E Marcela anda assim esfarrapada?
Por que Deus não quis dar a ela, o que me deu?
A mãezinha, chorando, nada respondeu.
Mas Beatriz prossegue: — Eu quero ver Marcela!...
Servidores da casa postos à procura
De favela em favela,
Não acharam sinal da pequena criatura...
Finda a noite, ao clarão do amanhecer,
Depois de rápida agonia,
Mal começava o novo dia,
A querida Beatriz, dantes contente e forte,
Desfaleceu, por fim, ante os braços da morte...
Ao ver a filha morta, a senhora Garcia
Gritou a soluçar: — Deus de Imensa Bondade,
Eu sei que o teu amor me ampara e me perdoa...
Clamando a própria dor, em desespero enorme,
Vendo a filha na calma de quem dorme,
Rogou-lhe a pobre mãe, a desfazer-se em pranto:
— Filha de minha vida, meu encanto,
Não te afastes de mim que te amo tanto...
Eu quero ser humilde, ensina-me a ser boa
Não me deixes no mal, volve do Mais Além,
Guia a mim, tua mãe, na prática do bem!...
Mas a meiga Beatriz, agora sem mais dor
E sem dizer mais nada,
Que pudesse afastar o pesado amargor
Da mãezinha cansada,
Estampou sobre a face um sorriso de amor.
domingo, 16 de outubro de 2022
25.3 Não se preocupem com
a posse do ouro
Não se preocupem em ter ouro ou prata, nem levem dinheiro
nos seus bolsos. Não preparem alforje para o caminho, nem duas túnicas, nem
calçado, nem bordão, porque digno é o trabalhador do seu alimento.
Em qualquer cidade ou aldeia que entrarem, informem-se de
quem há nela digno de os hospedar, e fiquem ali, até que vocês se retirem. E ao
entrarem na casa, saúdem-na, dizendo: Paz seja nesta casa. Se aquela casa for
digna, sua paz virá sobre ela; e se ela não for digna, sua paz voltará para vocês.
Quando alguém não os quiser receber, nem escutar suas
palavras, sacudam o pó de seus pés ao sair dessa casa, ou dessa cidade.
Eu lhes digo, em verdade, que no dia do julgamento, Sodoma e Gomorra
serão tratadas menos rigorosamente do que aquela cidade (Mateus, 10:9 a 15).
Essas palavras, que Jesus dirigiu a seus apóstolos, ao
enviá-los para anunciar a Boa Nova pela primeira vez, nada tinham de estranho
naquela época. Elas estavam de acordo com os costumes patriarcais do Oriente,
onde o viajor era sempre bem recebido na tenda. Mas então os viajantes eram raros.
Entre os povos modernos, o aumento das viagens criaria novos hábitos. Agora só encontramos costumes
dos tempos antigos em países longuíssimos, nos quais o grande movimento ainda
não penetrou. Se Jesus voltasse hoje, Ele não poderia mais dizer aos seus
apóstolos: “Ponham-se a caminho sem provisões”.
Ao lado do sentido próprio, essas palavras encerram um
sentido moral muito profundo. Jesus ensinava, assim, aos seus discípulos confiarem
na Providência, pois eles nada tendo, não podiam tentar a cupidez dos que os
recebiam. Era um meio de distinguirem os caridosos dos egoístas. E foi por isso que lhes disse: "Informem-se de quem
é digno de os receber", ou seja, de quem é bastante humano para abrigar
o viajante que não tem com que pagar, porquanto esses são dignos de ouvir suas
palavras, e é pela sua caridade que vocês os reconhecerão.
Quanto àqueles que nem sequer os quisessem receber, nem
ouvir, recomendou ele aos apóstolos que os amaldiçoassem, que se impusessem a
eles e usassem de violência, para os constranger a se converterem? Não, mandou
pura simplesmente que procurassem noutros lugares gente de boa vontade.
Do mesmo modo, o Espiritismo diz hoje aos seus adeptos:
Não violentem consciência nenhuma; não constranjam ninguém a deixar sua crença
para adotar a sua; não lancem anátema sobre os que não pensam como vocês. Acolham
os que os procurarem e deixem em paz os que os repelem. Lembrem-se destas
palavras do Cristo: “Antigamente o Céu era tomado por violência, hoje é
conquistado pela doçura” (cap. 4, nºs 10 e 11).
sábado, 15 de outubro de 2022
EM DIA COM O MACHADO 545:
ÀS ALMAS IRMÃS! (Jó)
Salve, alma querida!
Estou lendo obra interessante, que
recomendo a todos os espíritas cristãos e aos cristãos de modo geral. Trata-se
do livro de Bittencourt Sampaio, publicado pela Federação Espírita Brasileira.
O título dele é A Divina Epopeia, e o assunto principal de que trata é a
reprodução parafraseada de todo o evangelho de João, em versos decassílabos
livres.
Agora mesmo, revendo um poema de
Machado de Assis, percebi que Bittencourt e o Bruxo do Cosme Velho utilizam semelhante
processo de versificação em seus poemas, no estilo canto, quando
Machado, em sua obra intitulada O Almada, poema herói-cômico em oito
cantos, como Bittencourt, também versifica suas estrofes em decassílabos, cujo
fragmento de verso final de cada estrofe, por vezes, é completado no início da
estrofe seguinte.
Bem mais extenso do que O Almada,
o evangelho de João é relatado em 21
cantos. O objetivo aqui é não somente comparar a estrutura de cada poema, mas também
mostrar a diferença do objetivo dos seus autores. Machado explica, antes dos
seus oito cantos, que o tema de seu poema “é rigorosamente histórico” e, mais
adiante, diz que buscou o cômico “no contraste da causa com seus efeitos”.
Bittencourt, ao contrário, busca o aspecto espiritual da vida e obra de Jesus
em seus cantos.
Começo por duas estrofes do Canto IV d’O Almada:
XIII
Assim falou Almada, e toda a mesa
Lhe aprovou o discurso. O Vilalobos,
Em quem os olhos fita o grão prelado,
Algum tempo medita um bom alvitre,
E ia já começar a sua arenga
Quando o astuto Veloso a vez lhe toma:
“Minha ideia, senhor, é que esse infame
Nem alma, nem vigor, nem bizarria
Houve do céu e que abater-lhe a proa
O mesmo vale que esmagar brincando
Uma pulga, um mosquito, uma formiga.
Mas porque seja bom tapar a boca
Aos vadios da terra, e porque vale,
Em certos casos, afetar nas formas
Tal ou qual mansidão, que não existe,
Cuido que em lhe mandando uma embaixada
A exigir-lhe a devassa...”
“Nunca!Nunca!
(Interrompe o vigário). Uma embaixada!
E tal cousa, senhor, nascer-lhe pode
Tratar de igual a igual a um bigorrilhas!
No claro entendimento: Todo o lustre,
Valor e autoridade a igreja perde
Se não falar de cima ao tal pedante,
Com desprezo, com asco. Em boa regra,
Cortesia demanda cortesia;
Mas um vilão que a processar se atreve
Os prelados da casa do prelado,
Em vez de uma embaixada, merecia
Nas costas uma dose de cacete.
[...]
Recorto agora fragmentos de duas estrofes do Canto XIX d’A Divina Epopeia:
Então Pilatos a Jesus tomando,
O mandou açoitar. E já de espinhos
Fazendo-lhe os soldados uma coroa,
Sobre a sua cabeça a colocaram;
E puseram-lhe um manto cor de púrpura.
Depois vinham dizer-lhe: “Deus te salve,
Rei dos judeus!” E bofetadas davam-lhe.
[...]
Os príncipes dos padres e o seu povo,
Ao vê-lo assim bradaram:
—
“Crucifica-o!
Crucifica-o!” E disse-lhes Pilatos:
— “Tomai-o vós então, crucificai-o;
Porque crime nenhum eu nele encontro.”
Crucificado e martirizado, Jesus
retorna à vida dias depois, para nos provar que o bem sempre vencerá o mal. E,
ao partir definitivamente para o reino divino, deixa-nos a certeza de
que, ainda que nos matem o corpo, o espírito sobreviverá, pois somos imortais,
e a Terra é local de expiações e provas.
Termino com estes versos, do grande Cruz e Sousa, dedicados aos meus queridos seguidores e leitores:
Mas as almas irmãs, almas eleitas,
Hão de trocar, nas regiões perfeitas,
Largos, profundos, imortais abraços!
(Sousa,
Cruz e. Longe de tudo. In: Cruz e Sousa: poesia. Rio de Janeiro:
Agir, 1982 (Nossos clássicos; 4).
sexta-feira, 14 de outubro de 2022
ELEVAÇÃO
Escuta, alma querida,
Aceita as aflições e as lágrimas da vida,
Por agentes de acesso à Esfera Superior…
Mágoa, queixa, revolta e rebeldia
Lembram muralhas sob a noite fria
Furtando o coração à luz do amor.
Se a prova te retalha a alma sincera,
Perdoa, faze o bem, trabalha e espera
Aprendendo da estrada em derredor…
Tudo o que vive e sonha, sofre e ama,
Dos astros do Infinito aos vermes sob a lama,
Dando-se à elevação do futuro melhor…
O Sol potente que nos ilumina
É um gigante em perpétua disciplina,
Varando lutas que desconhecemos,
Por mais se lhe arremesse lixo à face,
Brilha em silêncio como se explicasse
Que só o amor domina os Céus Supremos…
Corre a fonte da penha ao chão da serra,
Depois, ganhando o vale, faz da terra
Verdejante celeiro em garbos de jardim…
Pelo bem que constrói, de segundo a segundo,
Muitas vezes recolhe os detritos do mundo,
Mas beija lodo e pedra e canta mesmo assim!…
O carvão na lareira acende a chama,
O tronco mutilado não reclama,
A estrada se aprimora aguentando tratores…
No trigo triturado o pão puro se asila,
Cria-se a porcelana em fogo sobre a argila,
O roseiral podado dá mais flores!…
Assim também, alma querida e boa,
Não recuses a dor que aperfeiçoa,
Se nos espanca os sonhos, teus e meus…
Golpes, tribulações, angústias, tempestade
São recursos da vida erguendo a Humanidade
Para a Bênção de Deus.
DOLORES, Maria (Espírito). Na era do espírito. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. Organização de J. Herculano
Pires. São Paulo: GEEM, 1973. 2.º livro.
Estudo d'O Livro dos Espíritos 34 – A molécula tem forma determinada? Resposta: Certamente as moléculas têm uma forma, mas que não p...

-
APRENDENDO FRANCÊS COM O LIVRO DOS ESPÍRITOS KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos . Tradução de Evandro Noleto Be...