EM DIA COM O MACHADO
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AUGUSTO ANTES E
DEPOIS DA MORTE (Irmão Jó)

Alma irmã, trago hoje à sua reflexão
alguns extratos de dois poemas de Augusto dos Anjos: o primeiro, de quando ele
esteve encarnado, publicado em sua obra intitulada Eu; e o segundo,
publicado depois de sua morte física, no livro Parnaso de Além-Túmulo, psicografado por Chico Xavier,
que contém 31 poemas de Anjos.
Em Palavras necessárias, que
introduzem o livro Lindos Casos de Chico Xavier, Ramiro Gama diz,
eufórico, sobre a poesia mediúnica de Anjos, que leu em Parnaso: “Nossos
olhos caíram sobre o poema Vozes de uma sombra e se maravilharam. Aquilo
era mesmo, todo inteiro, de Augusto dos Anjos, mas de um Augusto do Anjos
melhorado, mais crente, menos pessimista. Seu poema era bem um hino à
verdade do homem eterno e redimido e, ao mesmo tempo, uma resposta cabal ao
materialismo doentio do seu Poema negro, escrito quando encarnado.”
Deixo a você que me lê a curiosidade de
ler ambos os poemas completos, pois meu espaço aqui é curto. O que lhe quero
mostrar, agora, em pequenos recortes poéticos do que Anjos escreveu antes e
depois da morte, é que ele continua vivo e esdrúxulo, mas criativo como sempre.
Leiamos o que ele diz na primeira estrofe
de Monólogo de uma sombra, enquanto esteve na carne, e também a primeira
estrofe do poema Vozes de uma sombra, escrito post mortem.
Em Monólogo de uma sombra:
Sou
uma Sombra! Venho de outras eras,
Do
cosmopolitismo das moneras...
Pólipo
de recônditas reentrâncias,
Larva
de caos telúrico, procedo
Da
escuridão do cósmico segredo,
Da
substância de todas as substâncias!
Agora, em Vozes de uma sombra:
Donde
venho? Das eras remotíssimas,
Das
substâncias elementaríssimas,
Emergindo
das cósmicas matérias.
Venho
dos invisíveis protozoários,
Da
confusão dos seres embrionários,
Das
células primevas, das bactérias.
Parece-nos, pela comparação do que contêm
ambas as estrofes acima, que Augusto dos Anjos já possuía conhecimentos
espíritas desde seu poema escrito quando ainda estava no corpo físico. Em: Os
Intelectuais e o Espiritismo, obra de autoria do jornalista Ubiratan
Machado (Niterói, RJ: Publicações Lachâtre, 1996), ficamos certos de que,
realmente, Anjos conhecera o Espiritismo: “Um espírito nada débil que começaria
o novo século fazendo experiências espíritas era Augusto dos Anjos” (p. 214). E
mais abaixo: “A sensibilidade do poeta, porém, ficaria fundamente marcada por
essas sessões, dando um toque especial à filosofia desse pretenso materialista,
que acreditava em Deus e nos espíritos [...] psicografava Gonçalves Dias[...]”
(id., p. 215).
Mas, se em Monólogo de uma sombra,
o eu poético demonstra ceticismo, em suas 31 estrofes, como lemos na
última delas:
E
o turbilhão de tais fonemas acres
Trovejando
grandíloquos massacres,
Há
de ferir-me as auditivas portas,
Até
que minha efêmera cabeça
Reverta
à quietação da treva espessa
E
à palidez das fotosferas mortas!
Em
Vozes de uma sombra, ante a realidade da vida espiritual, desculpa-se
Augusto dos Anjos em sua vigésima e última estrofe:
E
apesar da teoria mais abstrusa
Dessa
ciência inicial, confusa,
A
que se acolhem míseros ateus,
Caminharás
lutando além da cova,
Para
a Vida que eterna se renova,
Buscando
as perfeições do Amor em Deus.
Eu poderia, aqui, fazer uma análise de
ambos os poemas. Falaria da coincidência de existirem, nas estrofes, tais
rimas, tais classificações de versos em heroicos ou sáficos. Poderia esclarecer
o leitor sobre as figuras de linguagem presentes em ambos os poemas, a
assonância, a aliteração... Enfim, caberia fazer um estudo que comportasse um
livro, só com a comparação desses dois poemas, para demonstrar que, como já se
disse, “o estilo é o autor”. Paro, entretanto, por aqui e deixo ao leitor esse trabalho.
Ora pois...
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