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domingo, 8 de janeiro de 2023

 


28.1 Preces gerais
 
            Os modelos de preces gerais iniciam-se com a Oração dominical, também chamada Pai Nosso (frase nossa).
 
Oração dominical
 
Prefácio
 
            Os espíritos recomendaram que, encabeçando esta coletânea, puséssemos a Oração dominical, não somente como prece, mas também como símbolo. De todas as preces, esta é a que eles colocam em primeiro lugar, seja porque nos vem do próprio Jesus (Mateus, 6:9-13), seja porque ela pode substituir  todas as outras, conforme a intenção que se lhe atribua. É o mais perfeito modelo de concisão, verdadeira obra-prima de sublimidade, na sua simplicidade. Com efeito, sob a forma mais simples, ela consegue resumir todos os deveres do homem para com Deus, para consigo mesmo e para com o próximo. Ela encerra uma profissão de fé, um ato de adoração e submissão, o pedido das coisas necessárias à vida terrena e o princípio da caridade. Dizê-la em intenção de alguém, é pedir para outro o que se deseja para si.
            Entretanto, em razão mesmo de sua brevidade, o sentido profundo que algumas de suas palavras encerram escapa à maioria das pessoas. Isso porque geralmente a proferem sem pensar no sentido de cada uma de suas frases. Dizem-na como uma fórmula, cuja eficácia é proporcional ao número de vezes que for repetida. Ora, esse número é quase sempre cabalístico: três, sete ou nove, tomados à antiga crença supersticiosa na virtude dos números e do seu uso nas operações de magia.
            Para preencher o vazio que a concisão desta prece deixa em nossos pensamentos, juntamos a cada uma de suas proposições, segundo o conselho e com a assistência dos bons espíritos, um comentário que lhe esclarece o sentido e mostra as aplicações. De acordo com as circunstâncias e o tempo de que se disponha, pode-se pois dizer a Oração dominical em sua forma simples ou desenvolvida.
 
Prece
 
1 Pai nosso, que está no céu, santificado seja seu nome.
 
            Cremos em você, Senhor, porque tudo nos revela seu poder e sua bondade. A harmonia do Universo é a prova duma sabedoria, duma prudência e duma previdência que ultrapassam todas as faculdades humanas. O nome dum ser soberanamente grande e sábio está inscrito em todas as obras da criação, desde a relva minúscula e do pequeno inseto, até os astros que se movem no espaço. Por toda parte, vemos a prova duma solicitude paternal. Cego, portanto, é aquele que não o glorifica nas suas obras, orgulhoso aquele que não o louva, e ingrato aquele que não lhe rende graças.
 
2 Venha a nós o seu Reino!
 
            O Senhor deu aos homens leis plenas de sabedoria, que os fariam felizes, se eles as observassem. Com essas leis, poderiam fazer reinar entre si a paz e a justiça e poderiam ajudar-se mutuamente, em vez de se prejudicarem, como o fazem. O forte sustentaria o fraco, em vez de esmagá-lo. Eles evitariam os males que nascem dos abusos e dos excessos de toda espécie. Todas as misérias deste mundo surgem da violação de suas leis, porque não há uma única infração que não traga suas consequências fatais.
            O Senhor deu ao animal o instinto que lhe traça o limite do necessário, e ele naturalmente se conforma com isso; mas ao homem, além do instinto, deu a inteligência e a razão. E deu-lhe ainda a liberdade de observar ou violar aquelas das suas leis que pessoalmente lhe concernem, ou seja, a faculdade de escolher entre o bem e mal, para que ele tenha o mérito e a responsabilidade das suas ações.
            Ninguém pode pretextar ignorância das suas leis, porque, na sua providência paternal, o Senhor quis que elas fossem gravadas na consciência de cada um, sem distinção de cultos ou de nacionalidades. Aqueles que as violam, é porque não o conhecem.
            Um dia chegará em que, segundo sua promessa, todos as praticarão. Então a incredulidade terá desaparecido. Todos o reconhecerão como o soberano Senhor de todas as coisas, e o primado de suas leis estabelecerá seu reino na Terra.
            Digne-se, Senhor, de apressar seu advento, dando aos homens a luz necessária para se conduzirem no caminho da verdade.
 
3 Seja feita a sua vontade, assim na Terra como no céu!
 
            Se a submissão é um dever do filho para com o pai, do inferior para com o superior, quanto maior não será a da criatura para com seu Criador! Fazer a sua vontade, Senhor, é observar as suas leis e submeter-se sem lamentações aos seus desígnios divinos. O homem a ela se tornará submisso, quando compreender que o Senhor é a fonte de toda a sabedoria, e que sem o Senhor ele nada pode. Então ele fará a sua vontade na Terra, como os eleitos a fazem no céu.
 
4 Dê-nos nosso pão de cada dia!
 
            Dê-nos o alimento necessário à manutenção das forças físicas e dê-nos também o alimento espiritual, para o desenvolvimento do nosso espírito.
            O animal encontra sua pastagem, mas o homem deve o alimento à sua própria atividade e aos recursos da sua inteligência porque o Senhor o criou livre.
            O Senhor lhe disse: “Você vai tirar o alimento da terra com o suor do seu rosto”; por isso fez do trabalho uma obrigação, a fim de exercitar a inteligência na procura dos meios de prover suas necessidade e atender a seu bem-estar: uns pelo trabalho material, outros pelo trabalho intelectual. Sem o trabalho, ele permaneceria estacionário e não poderia aspirar à felicidade dos espíritos superiores.
            O Senhor assiste ao homem de boa vontade, que no Senhor confia para o necessário, mas não àquele que se compraz na ociosidade e gostaria de tudo obter sem esforço, nem ao que busca o supérfluo (cap. 25).
            Quantos há que sucumbem por sua própria culpa, pela sua incúria, pela sua imprevidência ou pela sua ambição, por não terem querido contentar-se com o que o Senhor lhes deu! Esses são os artífices do próprio infortúnio, e não têm o direito de queixar-se, pois são punidos naquilo mesmo em que pecaram. Entretanto, mesmo a eles  o Senhor não abandona, porque é infinitamente misericordioso, e lhes estende a mão providencial, desde que, como filho pródigo, retornem sinceramente para o Senhor (cap. 5, item 4).
            Antes de nos queixarmos de nossa sorte, perguntemo-nos se ela não é  nossa obra; a cada infortúnio que nos sobrevenha, perguntemo-nos se não nos cabia tê-lo evitado. Reflitamos também que Deus nos deu a inteligência para sairmos do atoleiro, e que de nós depende aplicá-la bem.
            Visto que a lei do trabalho condiciona a vida do homem na Terra, dê-nos a coragem e a força de cumpri-lo; dê-nos também prudência e moderação, a fim de não pormos a perder seus frutos.
            Dê-nos pois, Senhor, nosso pão de cada dia, ou seja, os meios de adquirir pelo trabalho as coisas necessárias, pois ninguém tem o direito de reclamar o supérfluo.
            Se trabalhar nos é impossível, confiamos na sua divina providência.
            Se está nos seus desígnios provar-nos com as mais duras privações, não obstante nossos esforços, aceitamo-las como justa expiação das faltas que tenhamos cometido nesta existência ou noutra anterior, porque sabemos que o Senhor é justo, e que não há penas imerecidas, pois jamais castiga sem causa.
            Preserve-nos, meu Deus, de conceber a inveja contra os que possuem aquilo que não temos, ou mesmo contra os que dispõem do supérfluo, quando nos falta o necessário. Perdoe-lhes, se esquecem sua lei de caridade e de amor ao próximo, que lhes ensinou (cap. 16, item 8).
            Afaste também do nosso espírito a ideia de negar sua justiça, ao ver a prosperidade do mau e a infelicidade que abate por vezes o homem de bem. Nós sabemos, graças às novas luzes que ainda o Senhor nos deu, que sua justiça sempre se cumpre e não excetua ninguém; que a prosperidade material do mau é tão efêmera quanto sua existência corporal, e que ele experimentará terríveis revezes, enquanto será eterno o júbilo daquele que sofre com resignação (cap. 5, itens 5, 7, 9, 12 e 18).
 
5 Perdoe nossas dívidas, assim como nós perdoamos  nossos devedores. Perdoe nossas ofensas como nós perdoamos nossos ofensores.
 
            Cada uma das nossas infrações a suas leis, Senhor, é uma ofensa que lhe fazemos, e uma dívida contraída, que cedo ou tarde teremos de pagar. Solicitamos que as perdoe por sua infinita misericórdia, sob a promessa que lhe fazemos de nos esforçar em não contrair outras.
            O Senhor fez da caridade uma lei expressa para nós; mas a caridade não consiste unicamente em assistirmos aos nossos semelhantes nas suas necessidades, ela consiste também no esquecimento e no perdão das ofensas. Com que direito reclamaríamos sua indulgência, se faltamos com ela para aqueles de quem nos queixamos?
            Dê-nos, Senhor, a força de sufocar em nosso íntimo todo ressentimento, todo ódio e todo rancor. Faça que a morte não nos surpreenda com nenhum desejo de vingança no coração.
Se lhe aprouver retirar-nos hoje mesmo deste mundo, faça que possamos nos apresentar ao Senhor inteiramente limpos de animosidade, a exemplo do Cristo cujas últimas palavras foram em favor dos seus algozes (cap. 10).
            As perseguições que os maus nos fazem sofrer são parte da nossas provas terrestres; devemos aceitá-las sem murmurar, como todas as outras provas, sem maldizer os que, com as suas perversidades, nos abrem o caminho da felicidade eterna, pois o Senhor disse-nos nas palavras de Jesus: "Bem-aventurados os que sofrem pela justiça!”. Abençoaremos, pois, a mão que nos fere e nos humilha, porque as mortificações do corpo nos fortalecem a alma, e seremos levantados de nossa humildade (cap. 12, item 4).
            Bendito seja seu nome, Senhor, por nos haver ensinado que nossa sorte não está irrevogavelmente fixada após a morte; que encontraremos, noutras existências, os meios de resgatar, de reparar nossas faltas passadas e de realizar numa nova vida aquilo que nesta não pudemos fazer, para nosso adiantamento (cap. 4 e 5, item 5).
            Assim se explicam todas as aparentes anomalias da vida; a luz é lançada sobre nosso passado e nosso futuro, como um sinal resplendente da sua soberana justiça e da sua infinita bondade.
 
6 Não nos deixe cair em tentação, mas livre-nos do mal.
 
            Dê-nos, Senhor, a força de resistir às sugestões dos maus espíritos, que tentarão desviar-nos da senda do bem, inspirando-nos maus pensamentos.
            Mas nós somos espíritos imperfeitos, encarnados na Terra para expiar nossas faltas e nos melhorarmos. A causa do mal está em nós próprios, e os maus espíritos apenas se aproveitam de nossas tendências viciosas, nas quais nos entretêm, para nos tentarem.
            Cada imperfeição é uma porta aberta às suas influências, enquanto eles são impotentes e renunciam a qualquer tentativa contra os seres perfeitos. Tudo o que possamos fazer para afastá-los será inútil, se não lhes opusermos uma vontade inquebrantável na prática do bem, com absoluta renúncia ao mal. É, pois, contra nós mesmos que devemos dirigir  nossos esforços, e então os maus espíritos se afastarão naturalmente, porque o mal é o que os atrai, enquanto o bem os repele (Ver adiante: Preces pelos obsidiados).
            Senhor, ampare-nos em nossa fraqueza, inspire-nos, pela voz dos nossos anjos guardiães e dos bons espíritos, a vontade de corrigirmos nossas imperfeições, a fim de fecharmos  nossa alma ao acesso dos espíritos impuros (Ver adiante: item 11).
            O mal não é, portanto, sua obra, Senhor, porque a fonte de todo o bem não pode engendrar nenhum mal. Somos nós mesmos que o criamos, ao infringir suas leis, e pelo mau uso que fazemos da liberdade que o Senhor nos concedeu. Quando os homens observarem suas leis, o mal desaparecerá da Terra, como já desapareceu dos mundos mais adiantados.
            O mal não é uma necessidade fatalidade para ninguém e só parece irresistível para aqueles que nele se comprazem. Se temos vontade de fazê-lo, também podemos ter a de fazer o bem. E é por isso, Senhor, que solicitamos sua assistência e a dos bons espíritos, para resistirmos à tentação.
 
7 Assim seja!
 
            Queira, Senhor, que nossos desejos se realizem! Mas nos inclinamos diante de sua sabedoria infinita. Em todas as coisas que não nos é dado compreender, que sejam feitas segundo a sua santa vontade e não segundo a nossa, porque o Senhor só quer o nosso bem e sabe melhor do que nós o que nos é útil.
            Nós lhe dirigimos esta prece, meu Deus, por nós mesmos, mas também por todas as criaturas sofredoras, encarnadas e desencarnadas, por nossos amigos e por nossos inimigos, por todos os que reclamam a nossa assistência, e em particular por fulano(a). Suplicamos para todos sua misericórdia e sua bênção.

            Nota: Aqui podem ser feitos os agradecimentos a Deus pelas graças concedidas, e formulados os pedidos que se queiram, para si mesmo e para os outros.  

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