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quarta-feira, 26 de abril de 2023

 



SONHO E TRABALHO

Alcei ao Alto o olhar, um dia,
 Como quem desejasse adivinhar
 Que prodígio de sóis encontraria
 No celeste esplendor do Eterno Lar...
 Vendo constelações e nebulosas
 Lançando irradiações maravilhosas,
 Indaguei do mentor que seguia a meu lado:
 "— Na faixa de trabalho a que me abrigo,
 Quereria saber, prezado amigo,
 Se todo este Universo que entrevemos,
 Astros e luzes pelos Céus supremos,
 Vem a ser limitado ou iluminado...
 Onde se ocultaria a rútila nascente,
 A luz primeira da primeira fonte
 Do Universo esplendente,
 A vibrar e a fulgir, acima do horizonte?"
 
 Na bondade que marca os grandes instrutores,
 Ele apenas me disse: "— Irmã Dolores,
 Conhecimento exige gradação,
 Não faças do porvir um ponto de aflição...
 Sigamos, passo a passo,
 Sem antecipações do Tempo, ante as forças do Espaço.
 Aprimora-te, estuda, informa e ensina,
 Mas fitando as Alturas,
 Não tentes alcançar em visões prematuras,
 Todo o excelso fulgor da Grandeza Divina..."
 
 Interrompeu-se um tanto, ao pisarmos na Terra,
 E prosseguiu depois, em tom profundo:
 "— Nota, irmã, este nosso antigo mundo...
 Quantas lições encerra!
 Quem nos explicará, conscientemente,
 O segredo interior de uma simples semente?
 Que força existirá na flor que desabrocha,
 Como entender a formação do mar
 E a gênese da rocha?
 É preciso, porém, caminhar, caminhar,
 E servir por dever...
 Outros pesquisarão na luz da inteligência
 Os princípios celestes da existência...
 Quanto a nós, entretanto,
 Vendo tantos irmãos em dura prova,
 Sem mágoa e sem espanto,
 Cabe-se acender a luz da vida nova
 E construir o bem ao suprimir a dor.
 Busquemos o trabalho que nos chama,
 Não há tempo a perder...
 Vemos, por toda parte, o mundo que reclama:
 — Quanta cousa a fazer! ...
 Por agora, é impossível
 Definimos, por nós, os mundos de alto nível;
 Mas podemos ouvir, do palácio à choupana,
 Toda a tribulação que atinge a vida humana...
Quantas mães, temos hoje a confortar,
 Marcadas pela dor que lhes aflige o lar?
 Quantos homens leais aguardam fortaleza,
 A fim de prosseguir na luta que os retém
 Sustentando no mundo a batalha do bem?
 Quantos irmãos doentes sem defesa?
 Quantos pedintes amargando crises?
 Quantas crianças tristes e infelizes?
 Quantos amigos jazem mutilados?
 Quantos deles se arrastam desprezados?
 Quantos barracos tombam sob o vento?
 Quantas mansões guardando o sofrimento?
 Quantos homens, tentando a deserção da vida?
 Como paralisar tanto impulso suicida?”
 
Na pausa do instrutor que silencia, atento,
 Fitei de novo, a luz do firmamento
 E de olhar retornando à vastidão do mundo,
 Eis que em meditação e em prece me aprofundo...
 E concluí, de mim para comigo:
 — Deus de Infinito Amor, por tudo te agradeço,
 Não me deixes, porém, pensar em céus que ainda não mereço! ...
 Dá-me forças na estrada em que prossigo,
 A Terra que nos deste é o nosso imenso lar...
 Faze-me trabalhar!...
 Ajuda-me, Senhor,
 A espalhar a esperança, a cultivar amor
 E deixa-me aceitar e compreender
 Tanta gente a lutar, tanta cousa a fazer!...
 
DOLORES, Maria; MEIMEI. (Espíritos). Somente amor. 1. ed. – Impressão pequenas tiragens. Brasília: FEB; São Paulo: IDEAL, 2022.


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