Alcei ao Alto o olhar, um dia, Como quem
desejasse adivinhar Que prodígio
de sóis encontraria No celeste
esplendor do Eterno Lar... Vendo
constelações e nebulosas Lançando
irradiações maravilhosas, Indaguei do
mentor que seguia a meu lado: "— Na
faixa de trabalho a que me abrigo, Quereria
saber, prezado amigo, Se todo este
Universo que entrevemos, Astros e
luzes pelos Céus supremos, Vem a ser
limitado ou iluminado... Onde se
ocultaria a rútila nascente, A luz
primeira da primeira fonte Do Universo
esplendente, A vibrar e a
fulgir, acima do horizonte?" Na bondade
que marca os grandes instrutores, Ele apenas
me disse: "— Irmã Dolores, Conhecimento
exige gradação, Não faças do
porvir um ponto de aflição... Sigamos,
passo a passo, Sem
antecipações do Tempo, ante as forças do Espaço. Aprimora-te,
estuda, informa e ensina, Mas fitando
as Alturas, Não tentes
alcançar em visões prematuras, Todo o
excelso fulgor da Grandeza Divina..." Interrompeu-se um tanto, ao pisarmos na Terra, E prosseguiu
depois, em tom profundo: "— Nota,
irmã, este nosso antigo mundo... Quantas
lições encerra! Quem nos
explicará, conscientemente, O segredo
interior de uma simples semente? Que força
existirá na flor que desabrocha, Como
entender a formação do mar E a gênese
da rocha? É preciso,
porém, caminhar, caminhar, E servir por
dever... Outros
pesquisarão na luz da inteligência Os
princípios celestes da existência... Quanto a
nós, entretanto, Vendo tantos
irmãos em dura prova, Sem mágoa e
sem espanto, Cabe-se
acender a luz da vida nova E construir
o bem ao suprimir a dor. Busquemos o
trabalho que nos chama, Não há tempo
a perder... Vemos, por
toda parte, o mundo que reclama: — Quanta
cousa a fazer! ... Por agora, é
impossível Definimos,
por nós, os mundos de alto nível; Mas podemos
ouvir, do palácio à choupana, Toda a
tribulação que atinge a vida humana... Quantas mães, temos hoje a confortar, Marcadas
pela dor que lhes aflige o lar? Quantos
homens leais aguardam fortaleza, A fim de
prosseguir na luta que os retém Sustentando
no mundo a batalha do bem? Quantos
irmãos doentes sem defesa? Quantos
pedintes amargando crises? Quantas
crianças tristes e infelizes? Quantos
amigos jazem mutilados? Quantos
deles se arrastam desprezados? Quantos
barracos tombam sob o vento? Quantas
mansões guardando o sofrimento? Quantos
homens, tentando a deserção da vida? Como paralisar
tanto impulso suicida?” Na pausa do instrutor que silencia, atento, Fitei de
novo, a luz do firmamento E de olhar
retornando à vastidão do mundo, Eis que em
meditação e em prece me aprofundo... E concluí,
de mim para comigo: — Deus de
Infinito Amor, por tudo te agradeço, Não me
deixes, porém, pensar em céus que ainda não mereço! ... Dá-me forças
na estrada em que prossigo, A Terra que
nos deste é o nosso imenso lar... Faze-me
trabalhar!... Ajuda-me,
Senhor, A espalhar a
esperança, a cultivar amor E deixa-me
aceitar e compreender Tanta gente
a lutar, tanta cousa a fazer!... DOLORES, Maria; MEIMEI.
(Espíritos). Somente amor. 1. ed. – Impressão pequenas tiragens. Brasília:
FEB; São Paulo: IDEAL, 2022.
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