Fénelon
Bordeaux, 1861
O amor é de essência divina e todos vocês, do
primeiro ao último, possuem, no fundo do coração, a centelha desse fogo
sagrado. É um fato que vocês puderam
constatar muitas vezes: o homem mais abjeto, o mais vil, o mais criminoso, tem
por um ser ou um objeto qualquer uma afeição viva e ardente, à prova de tudo
que pudesse diminuí-la, atingindo frequentemente proporções sublimes.
Eu disse por um ser ou um objeto qualquer,
porque existem, entre vocês, pessoas que dispensam tesouros de amor, que lhes
transbordam do coração, aos animais, às plantas, e até mesmo aos objetos
materiais. Espécies de misantropos a se lamentarem da Humanidade em geral, resistindo
contra a inclinação natural de suas almas, que buscam ao seu redor afeição e
simpatia. Rebaixam a lei do amor à condição do instinto. Porém, façam o que
quiserem, não conseguem sufocar o germe vivaz que Deus depositou em seus
corações quando os criou. Esse germe se desenvolve e cresce com a moralidade e
a inteligência, e embora frequentemente comprimido pelo egoísmo, ele é a fonte
das santas e doces virtudes que faz as afeições sinceras e duradouras e que as
ajudam a transpor o caminho escarpado e árido da existência humana.
Há algumas pessoas a quem a prova da
reencarnação repugna, em razão da ideia de que outros participarão das suas simpatias
afetivas. Pobres irmãos! Seu afeto torna-os egoístas. Seu amor se restringe a um
círculo estreito de parentes ou de amigos, e todos os outros lhes são
indiferentes. Pois bem! para praticarem a lei do amor, como Deus o entende, é necessário
que cheguem a amar, aos poucos e indistintamente, todos os seus irmãos. A
tarefa será longa e difícil, mas será cumprida. Deus o quer, e a lei do amor é
o primeiro e o mais importante preceito da sua nova doutrina, porque é ela que
deve um dia matar o egoísmo, sob qualquer aspecto em que se apresente, pois
além do egoísmo pessoal, há ainda o egoísmo de família, de casta, de
nacionalidade. Jesus disse: "Ame seu próximo como a si mesmo". Ora,
qual é o limite em relação ao próximo? Será a família, a seita, a nação? Não, é
a Humanidade inteira! Nos mundos superiores, é o amor mútuo que
harmoniza e dirige os Espíritos adiantados que os habitam, e seu
planeta, destinado a um progresso que se aproxima, para a sua
transformação social, verá seus habitantes praticarem essa lei sublime, reflexo
da própria Divindade.
Os efeitos da lei do amor são o
aperfeiçoamento moral da raça humana e a felicidade durante a vida
terrena. Os mais rebeldes e os mais viciosos deverão reformar-se, quando
presenciarem os benefícios produzidos pela prática deste princípio: "Não
faça aos outros o que não gostaria que os outros lhe fizessem, mas, ao
contrário faça-lhes, todo o bem que puder".
Não creiam na esterilidade e no endurecimento
do coração humano, ele cederá, apesar de si mesmo, ao amor verdadeiro. Este é um
imã a que ele não poderá resistir, e o seu contato vivifica e fecunda os germes
dessa virtude, que estão latentes em seus corações. A Terra, morada de exílio e
de provas, será então purificada por esse fogo sagrado, e nela se praticarão a
caridade, a humildade, a paciência, a abnegação, a resignação, o sacrifício,
todas essas virtudes filhas do amor. Não se cansem, pois, de escutar as
palavras de João Evangelista. Como vocês sabem, quando a doença e a velhice
interromperam o curso de suas pregações, ele repetia apenas estas doces
palavras: "Meus filhinhos, amem-se uns aos outros!"
Queridos irmãos, aproveitem essas lições. Sua
prática é difícil, mas delas retira a alma imenso benefício. Creiam-me, façam o
sublime esforço que lhes peço: "Amem-se", e verão em breve a Terra transformada
num paraíso em que as almas dos justos virão repousar.
Tradução livre do Prof. Dr. Jorge Leite de Oliveira.
Tradução livre do Prof. Dr. Jorge Leite de Oliveira.
O amor é como um esporte que a gente só aprende jogando pra valer.
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