A SUBLIME POESIA DO
ESPÍRITO MARIA DOLORES
Brasília, 25 de abril de 2022.
Amor e perdão
A Madalena fora ao túmulo querido
Entre pedras de extremo
desconforto...
Levava flores para o Mestre morto,
Tinha o peito magoado e
enternecido.
O Sol reaparecia, resplendente,
A névoa da manhã fundia-se no ar,
Na dourada invasão das flamas do
Nascente,
Maria estava ali, unicamente,
A fim de estar a sós, recolher-se
e chorar.
A desfazer-se em pranto, ela
arguia:
— “Por que, por que Senhor?
Tanta saudade e tanta dor?!...
Toda a felicidade que eu sentia
Jaz aqui sepultada...
Transformou-se-me a vida em sombra
e nada
No ermo deste pouso derradeiro...”
Nisso, ela viu alguém... Seria um
jardineiro?
Um zelador daquele campo santo?
Mas tomada de espanto,
Viu-se à frente do Mestre
Nazareno,
O excelso benfeitor ressuscitado,
A envolver-lhe de paz o coração
cansado...
Ela gritou: “Senhor!”
Ele disse: “Maria!”
Ela era a expressão da perfeita
alegria,
Ele, o perfeito amor.
Madalena ajoelhou-se e quis
beijar-lhe os pés...
— “Maria, por quem és” —
explicou-se
"Não me toques, porquanto
não te esperava aqui neste
recanto,
e ainda não fui ao Pai revestir-me
de luz...”
Maria, surpreendida,
indagou em seguida:
— “Senhor, onde estiveste?
Em que jardim celeste
Encontraste o descanso necessário,
Que vem de Deus, nos dons da paz
completa?
Perdoa-me, Senhor, a pergunta
indiscreta,
Dói-me, porém, pensar na angústia
do Calvário,
Revolto-me, padeço, mas não venço
A mágoa de lembrar-te o sacrifício
imenso.”
Mas Jesus respondeu:
— “Não, Maria, não fui ainda ao
Alto,
Nem me elevei sequer um palmo à
luz do firmamento,
Quem ama não consegue achar o Céu
de um salto...
Ao invés de subir aos Altos
Resplendores,
Desci, mas desci muito aos reinos
inferiores...
Despertando no túmulo, escutei
Os gritos da aflição de alguém que
muito amei
E que muito amo ainda...
Embora visse Além a Luz sempre
mais linda,
Sentia nesse alguém um amado
companheiro,
Em crises de tristeza e de
loucura...
Fui à sombra abismal para a grande
procura
E ao reencontrá-lo amargurado e
louco,
A ponto de não mais me conhecer,
Demorei-me a afagá-lo e, pouco a
pouco,
Consegui que ele, enfim, pudesse
adormecer...”
— “Senhor” — interrogou a Madalena
“Quem é o amigo que te fez descer,
Antes de procurar a luz do Pai?”
Mas Jesus replicou, em voz clara e
serena:
— “Maria,
um amigo não esquece a dor de
outro amigo que cai...
Antes de me altear à Celeste
Alegria,
Ao sol do mesmo amor a Deus, em
que te enlevas,
Vali-me, após a cruz, das grandes
horas mudas,
E desci para as trevas,
A fim de aliviar a imensa dor de
Judas.”
(MARIA DOLORES (Espírito). Coração
e Vida. Psicog. Chico Xavier. São Paulo, SP: IDEAL, 1978, cap. 14.)
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