EM DIA COM O
MACHADO 554:
QUESTÃO DE OPINIÃO
(Irmão Jó)
Alma irmã, na vida, costumamos
associar as grandes questões sociais com nossa experiência pessoal. Isso me faz
lembrar que Allan Kardec esclareceu aos críticos dos fenômenos mediúnicos e da
Doutrina Espírita duas coisas básicas: 1.ª) Para se formar um médico mediano
são necessários anos, mas para ser sábio requer-se cerca de três quartas partes
da vida... Por essa razão, não se concebe que alguém deseje conhecer a ciência
do infinito, que é a Doutrina Espírita, nem mesmo dedicando-lhe toda uma
existência de aprendizado e prática; 2.ª) Quando conhecemos algo novo para nós,
precisamos abster-nos de todos os preconceitos e de ideias preconcebidas.
Nos tempos agitados atuais, reconhecemos
quanto é difícil convencer-nos sobre o erro do que acreditamos ser correto. Em
especial quando não valorizamos o outro lado da questão e não atentamos para a
idoneidade e veracidade do que ouvimos, lemos ou assistimos. Os melindres e o
amor-próprio fazem com que, mesmo provado o erro, nos mantenhamos nele, salvo
exceções... Por isso defendemos uma visão holística do mundo.
Nos dias de estudos acadêmicos,
mesmo já estando formado em algumas áreas do conhecimento, convivi em sala de
aula com uma colega jornalista que salvou uma edição de uma de minhas obras. Na
aula da semana seguinte, após comprar o livro, a Aline Menezes, cujo nome faço
questão de registrar aqui, por sua atitude nobre, alertou-me de que o livro
fora impresso com várias folhas trocadas. Imediatamente, após agradecer à
colega sua informação, entrei em contato com a editora, que recolheu e
substituiu a impressão defeituosa.
O que também aprendi com a Aline é
que não devemos ter por parâmetro único nossa experiência de vida na análise do
que ocorre na sociedade. Tomo como exemplo os próprios conhecimentos
acadêmicos. Não é porque alguém seja profundo conhecedor duma área do
conhecimento que tenha autoridade em tudo que diz ou escreve. Houve um tempo em
que julguei ser o conteúdo a qualidade principal dum texto; mais amadurecido,
percebi que um belo conteúdo numa péssima forma causa má impressão e dúvidas
que o autor, estando ausente, não nos pode esclarecer.
Se escrevo uma redação com
excelentes ideias próprias, mas com frases ambíguas e erros gramaticais
diversos, o conteúdo não ficará claro para quem lê. É bem verdade que os
comerciais costumam fazer uso da ambiguidade do texto para chamar a atenção de
quem lê, com o objetivo de vender ou comprar algo. Quando passo correndo ou de
carro em direção à cidade brasiliense de Sobradinho, sempre avisto um outdoor
com esta frase e telefone abaixo dela: “Fernanda vende seu imóvel”. O imóvel
que ela vende é dela ou nosso? Apesar do duplo sentido, quem lê o cartaz
entende que foi idealizado por uma corretora interessada em vender ou comprar o
imóvel de algum cliente que ligue para ela. A ambiguidade ali parece ser
proposital, como ocorre, por vezes, em manchetes jornalísticas.
Voltando à questão das opiniões de
alguém com ideias próprias, cheguei à conclusão de que a Aline está com toda a
razão quando afirma que não temos o direito de impor nossa visão de mundo a ninguém,
com base em nossas próprias experiências. Podemos, sim, expor nossa opinião abalizada
a alguém, mas se essa pessoa possui outras ideias, mesmo sem base, não podemos
obrigá-la a aceitar nossos argumentos.
Kardec parafraseou o ditado popular:
“Dize-me com quem andas e eu te direi quem és” deste modo: “Dize-me o que
pensas e eu te direi em que companhia espiritual tu estás”. E no item 12 da
introdução d’O Livro dos Espíritos lemos isto: “A experiência nos ensina
que os Espíritos da mesma categoria, do mesmo caráter e possuídos dos mesmos
sentimentos formam grupos e famílias”. Ou seja, nossos pensamentos revelam
nossas companhias espirituais, sejam elas dos encarnados ou dos espíritos.
Convencer alguém sobre algo de que
discorda é tão difícil que, mesmo no mundo espiritual, os benfeitores
desencarnados são confrontados pelos obsessores que buscam fazer justiça pessoal
contra quem odeiam. Cito o exemplo do caso narrado por Manoel Philomeno de
Miranda, no capítulo 5 da obra Transição Planetária, psicografada pelo
médium baiano Divaldo Franco. Segundo Miranda, Abdul, membro de sua equipe, tentava
convencer alguns espíritos vingativos sobre o erro dessa conduta, haja vista
que só a Deus compete corrigir- nos, mas “alguns seres hediondos” continuavam
indiferentes à sua fala e ameaçavam o grupo do qual participavam Abdul e
Miranda, o qual conclui que a melhor psicoterapia utilizada pela vida ainda é o
sofrimento.
Quando lemos, em mensagens de WhatsApp
e vídeos, apelos para compartilhar com o maior número de pessoas uma
informação, nosso primeiro sentimento é de incredulidade; em seguida, após breve análise, deletamos
a postagem sem crédito confiável, pois as disputas políticas despertaram
o que de pior existe no ser humano: a falta de escrúpulos. Em primeiro lugar, tais
mensagens não trazem referências seguras e, quando trazem, não são verdadeiras.
Segundo, a maioria dos vídeos são montagens que enganam até mesmo os mais
prevenidos.
Essas são minhas opiniões, mas nada
tenho contra os que são contra, a não ser a certeza de que, neste mundo, vale a
recomendação de Jesus: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João,
8:32). Essa liberdade, como lemos adiante, em 8:36, está em Jesus, nosso modelo
maior. Somente estaremos livres da hipocrisia e do mal quando aprendermos com
ele, o Cristo, que é manso e humilde de coração.
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