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sábado, 3 de dezembro de 2022


 

27.3 Ação da prece. Transmissão do pensamento 

            A prece é uma invocação; por ela pomo-nos em relação mental com o ser a quem nos dirigimos. Ela pode ter por objetivo um pedido, um agradecimento ou um louvor. Podemos orar por nós mesmos ou pelos outros, pelos vivos ou pelos mortos. As preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos espíritos encarregados da execução de suas vontades; as que são dirigidas aos bons espíritos também voltam-se para Deus. Quando oramos a outros seres, e não a Deus, aqueles nos servem apenas de intermediários, de intercessores, porque nada pode ser feito sem a vontade de Deus.

            O Espiritismo faz-nos compreender a ação da prece, ao explicar o modo de transmissão do pensamento, seja quando o ser a quem oramos atende a nosso apelo, seja quando nosso pensamento eleva-se a ele. Para se compreender o que ocorre nesse caso, é necessário imaginar todos os seres, encarnados e desencarnados, mergulhados no fluido universal que preenche o espaço, assim como na Terra estamos envolvidos pela atmosfera. Esse fluido é impulsionado pela vontade pois é o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som, com diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, enquanto as do fluido universal se ampliam ao infinito. Quando, pois, o pensamento se dirige a um ser qualquer, na Terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou desencarnado para encarnado, uma corrente fluídica se estabelece entre um e outro, transmitindo o pensamento, como o ar transmite o som.

            A energia da corrente é proporcional à energia do pensamento e da vontade. É assim que a prece é ouvida pelos espíritos onde quer que eles se encontrem; é assim que os espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem suas inspirações, e que as relações se estabelecem a distância entre os encarnados.

            Essa explicação se dirige sobretudo aos que não compreendem a utilidade da prece puramente mística. Não tem por fim materializar a prece, mas tornar compreensíveis os seus efeitos, ao mostrar que ela pode exercer a ação direta e positiva. Nem por isso está menos sujeita à vontade de Deus, juiz supremo em todas as coisas, e único que pode dar eficácia à sua ação.

            Pela prece, o homem atrai o concurso dos bons espíritos, que o vêm sustentar nas suas boas resoluções e inspirar-lhe bons pensamentos. Ele adquire assim a força moral necessária para vencer as dificuldades e voltar ao caminho reto, quando dele se afastou; e assim também pode desviar de si ao males que atrairia pelas suas próprias faltas. Um homem, por exemplo, sente a sua saúde arruinada pelos excessos que cometeu, e arrasta, até o fim dos seus dias, uma vida de sofrimentos. Tem o direito de queixar- se, se não conseguir a cura? Não, porque poderia encontrar na prece a força para resistir às tentações.

            Se dividirmos os males da vida em duas partes, sendo uma a dos que o homem não pode evitar, e outra a das atribuições que ele mesmo provoca, por sua incúria e pelos seus excessos (cap. 5, it. 4), veremos que esta última é muito mais numerosa que a primeira. Torna-se, pois, bem evidente que o homem é o autor da maioria das suas aflições, e que poderia poupar-se, se agisse sempre com sabedoria e prudência.

            Não é menos certo que essas misérias resultam das nossas infrações às leis de Deus, as quais, se observássemos rigorosamente, seríamos perfeitamente felizes. Se não ultrapassássemos os limites do necessário, na satisfação das nossas exigências, não sofreríamos as doenças que são provocadas pelos excessos, e as vicissitudes decorrentes dessas doenças.

            Se limitássemos as nossas ambições, não temeríamos a ruína. Se não quiséssemos subir mais alto do que podemos, não recearíamos a queda. Se fôssemos humildes, não sofreríamos as decepções do orgulho abatido. Se praticássemos a lei de caridade, não seríamos maledicentes, nem invejosos, nem ciumentos, e evitaríamos as querelas e as dissensões. Se não fizéssemos nenhum mal a ninguém, não teríamos de temer as vinganças, etc.

            Admitamos que o homem nada possa contra os outros males; que todas as preces fossem inúteis para livrar-se deles; já não seria muito, poder afastar todos os que decorrem da sua conduta? Ora, aqui a ação da prece concebe-se facilmente, porque ela tem por efeito atrair a inspiração salutar dos bons espíritos, pedir-lhes a força necessária para resistirmos aos maus pensamentos, cuja execução pode ser-nos funesta.  Nesse caso, não é o mal que eles afastam, somos nós mesmos  que nos desviamos dos pensamento que nos podem causar mal, eles de forma alguma impedem os decretos de Deus, nem suspendem o curso das leis da natureza, somos nós que eles impedem de infringirmos as leis, dirigindo nosso livre-arbítrio; mas o fazem sem nosso conhecimento, de modo oculto para não prejudicarem nossa vontade. O homem se encontra então na posição de quem solicita bons conselhos e os pratica, mas conservando a liberdade de segui-los ou não. Deus quer que assim seja para que aquele tenha a responsabilidade dos seus atos e para lhe deixar o mérito da escolha entre o bem e o mal. É isso o que o homem sempre receberá, se pedir com fervor, e ao que se poderá sobretudo aplicar estas palavras: "Pedi e obtereis". A eficácia da prece, mesmo reduzida a essa proporção, não daria um resultado imenso? Estava reservado ao Espiritismo provar-nos sua ação, pela revelação das relações que existem entre o mundo corporal e mundo espiritual. Mas não se limitam a isso os seus efeitos.

            A prece é recomendada por todos os espíritos. Renunciar à prece é ignorar a bondade de Deus; é rejeitar para si a sua assistência, e, para os outros, o bem que lhes pode fazer.

            Ao atender o pedido que lhe é dirigido, Deus tem frequentemente em vista recompensar a intenção, o devotamento e a fé daquele que ora. Eis porque a prece do homem de bem tem mais merecimento aos olhos de Deus, e sempre maior eficácia. Porque o homem vicioso e mau não pode orar com o fervor e confiança que só o sentimento da verdadeira piedade pode dar. Do coração do egoísta daquele que só ora com os lábios, não poderiam sair mais do que palavras, e nunca os impulsos da caridade, que dão à prece toda a sua força. Compreende-se isso tão bem que, instintivamente, preferimos recomendar-nos às preces daqueles cuja conduta nos parece que deve agradar a Deus, pois que são melhor escutados.

            Se a prece exerce uma espécie de ação magnética, podemos supor que o seu efeito esteja subordinado à potência fluídica. Entretanto, não é assim. Desde que os espíritos exercem ação sobre os homens, eles suprem, quando necessário, a insuficiência daquele que ora, seja através de uma ação direta em seu nome, seja ao lhe conferirem momentaneamente uma força excepcional, quando ele for julgado digno desse benefício, ou quando isso possa ser útil. O homem que não se julga suficientemente bom para exerce uma influência salutar, não deve deixar de orar por outro, por pensar que não é digno de ser ouvido. A consciência de sua inferioridade é uma prova de humildade, sempre agradável a Deus, que leva em conta a sua intenção caridosa. Seu fervor e sua confiança em Deus constituem o primeiro passo para sua conversão ao bem, que os bons espíritos se sentem felizes em estimular. A prece que é repelida é a do orgulhoso, que só tem fé no seu poder e nos seus méritos, e julga poder substituir-se à vontade do Eterno.

            O poder da prece está no pensamento. Não depende nem das palavras, nem do lugar, nem do momento em que é feita. Pode-se, pois, orar em qualquer lugar e a qualquer hora, a sós ou em comum. A influência do lugar ou do tempo depende das circunstâncias que possam favorecer o recolhimento. A prece em comum tem ação mais poderosa, quando todos os que a fazem se associam de coração num mesmo pensamento e têm o mesmo objetivo, porque então é como se muitos clamassem juntos e em uníssono. Mas que importaria reunir-se grande número de pessoas, se cada uma atuasse isoladamente e por sua própria conta? Cem pessoas reunidas podem orar como egoístas, enquanto duas ou três, ligadas por uma aspiração comum, orarão como verdadeiros irmãos em Deus, e sua prece terá mais força do que a daquelas cem (cap. 28, its. 4 e 5).


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