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segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

 


O PODER DA PRECE
 
O jovem milionário
Adamastor Macário,
Rapaz rude e violento,
Derramando alegria,
Sentia-se feliz em seu mais belo dia,
Pois era o dia de seu casamento.
 
No palácio rural de sua habitação,
Tudo era festa em ascensão.
 
Pela manhã, porém, ele recebe à porta
Uma pobre viúva, a carregar nos braços,
Um filhinho de meses,
Portador de moléstia fulminante...
Sentindo a morte a lhe rondar os passos,
Dirige-se a Macário e pede suplicante:
 
— Socorre-nos, senhor,
Salve meu filho! Pague-lhe um tratamento...
E rematou com lágrimas na voz:
— Por amor a Jesus, tenha pena de nós!...
 
Com surpresa geral, Adamastor
Não se fez rude como de outras vezes,
Fitou o pequenino,
Compadecidamente,
Depois recomendou a um antigo empregado:
— Leve a criança ao médico... Ação pronta.
Em seguida,
Busque a farmácia com presteza,
Seja o gasto que for, qualquer despesa
Corre por minha conta...
 
A viúva, andrajosa e enternecida,
Agradeceu-lhe a caridade,
Qual se estivesse recebendo
No filho em tenra idade
Plena renovação da própria vida.
 
Adamastor, porém,
Mesmo casado
Continuou brutalizado
E um modelo completo de avareza...
Recolhia, ele próprio, as migalhas da mesa
Que sobrassem de cada refeição
Para fazer negócio, às escondidas...
E ei-lo, dia por dia, a repetir fremente,
Na mais estranha desesperação:
— Dinheiro, sim... beneficência, não...
Nada me peçam que não dou vintém,
Não dou nem mesmo um pão à fome de ninguém.
 
O tempo foi passando,
Pedisse quem pedisse,
A resposta era não...
Toda aquela secura
Parecia loucura
Em vez de sovinice.
Talvez decepcionada, alma triste e vazia,
Com as atitudes do marido avaro,
Breve, morreu a esposa em desamparo,
Sem deixar-lhe um só filho à casa enorme e fria...

Mais tempo decorreu e Macário a lutar,
sem qualquer companheiro,
Só queria dinheiro e mais dinheiro...
Até que, um dia, a morte veio arrebatá-lo.
Adamastor, velhinho,
Num lance do caminho,
Caíra do cavalo,
Fora pisoteado e,
ante as perdas de sangue,
Gritava, agonizante, entre as pedras de um mangue:
— Eu não quero morrer, eu não quero morrer...
Mas a morte, por si, não queria saber
Se ele queria ou não
E, assim, agiu na hora...
 
Desencarnado agora,
O antigo milionário,
Sente-se louco, aflito e solitário,
Sob o fardo das lágrimas que leva...
Só pensava em dinheiro e via-se na treva...
 
Era um mendigo apenas
Que somente trazia
A lembrança vazia
De moedas terrenas...
Cego, desesperado, atônito, sozinho,
Fez-se triste fantasma, errando no caminho...
Até que, num momento inesperado,
Logo após largo tempo em profunda cegueira,
Sentiu algo a buscar-lhe os íntimos refolhos,
Uma Luz que lhe dava outra luz para os olhos...
 
Fitou, em derredor, e notou espantando
Que uma pobre velhinha orava junto dele,
Quase que, lado a lado;
E ouviu-a murmurar, em voz segura e mansa,
Como se lhe trouxesse a bênção da esperança:
— Rogo, Deus de Bondade, ao teu imenso amor,
Concede a paz do céu a “seu” Adamastor,
Ele foi para mim de uma bondade rara,
Não te esqueças, Senhor,
Que um dia ele salvou o meu filho que me ampara...
Abençoa, meu Deus,
Quem foi em nossa casa
O grande benfeitor!...
 
O antigo milionário,
Sob um clarão divino,
Recordou a chorar o passado momento
Em que ajudara a um pequenino,
No dia justo de seu casamento...
 
Banhado em nova luz
Ele gritou: — Por quê? Por que, Jesus?
Não dei tudo o que eu tinha e tudo quanto quis,
A fim de ser agora mais feliz?
 
Era tarde, porém... Precisava voltar...
Renascer sobre a Terra,
Aprendendo a servir, a compreender e amar...
Nesse instante, contudo,
Retratava na face,
Embora atarantado, ansioso e mudo,
O júbilo de quem se libertasse
Das algemas de longo cativeiro,
Pois percebia, enfim, que acima do dinheiro,
Mostrava mais poder e muito mais valor
A lembrança do bem numa prece de amor!...
 
DOLORES, Maria (Espírito). Coração e vida. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1. ed. Impressão pequenas tiragens. Brasília: FEB; São Paulo: IDEAL, 2022, cap. 9.

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