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domingo, 6 de agosto de 2023

 


MENSAGEM DO PÂNTANO
 
Estaquei para ver, à margem do caminho,
O pântano esquecido,
Que ali me recordava um mendigo tristonho,
Paralisado à força, entre a penúria e o sonho.
 
Aqui e ali, a relva florescente,
Além, jequitibás de braços estendidos
Para as aves em festa...
Não longe, começava o mundo da floresta.
 
Fitando a água parada,
Ampliando no chão a cratera barrenta
Ou a ferida sangrenta,
A deprimir a estrada,
Indagava de mim: “Por que haveria,
Um quadro assim na gleba desolada,
Em meio a tanta terra, esbanjando beleza,
Um pedaço de dor e de agonia,
Humilhando o esplendor da natureza?”
 
Foi quando o charco, então, me respondeu:
“Ouve-me, coração! Houve tempo em que eu
Também, fui uma parte do jardim,
Que encontras neste bosque,
Um refúgio de paz, parecendo sem fim...
Mas aquele a quem Deus entregou este campo
Para ajudar, criar, erguer e produzir,
Ante a preparação do futuro melhor,
Nunca me viu chorando, em derredor
Da mata que trabalha em favor do porvir;
Talvez por distração ou por zelo no ganho,
Não pensa que eu exista em suplício tamanho...
Na posição mais baixa em que vim a nascer,
Tive de resguardar na intimidade
Enxurrada e detrito
Como quem sonha e chora em pesado conflito;
Moscas depositaram vermes em meu rosto,
Tornei-me, assim, um vaso descomposto,
Um recanto enfermiço;
Não encontro ninguém que me estenda socorro,
Para que eu também tenha um ponto de serviço.
Deus que não desampara cousa alguma
Deu-me algum verde...
O verde que me alcança,
A fim de que eu não perca o resto da esperança.
Para que o homem note a penúria em que vivo,
Deu-me plantas que aguentam minha dor,
Que, às vezes, me recobrem de perfume,
Em camadas de flor,
E ajudando-me em tudo,
Manda que a vida espalhe em meus barrancos
Lençóis e mais lençóis de lírios brancos,
Como a dizer aos homens que eu também,
Quero aprender pureza e praticar o bem.
Escuta-me! Entretanto,
Muito de raro em raro,
Passa alguém por aqui a registrar-me o pranto
De pleno desamparo,
E muita gente crê
Que o Céu me fez por terra envilecida,
A fim de envenenar a grandeza da vida.
 
Onde está quem me possa libertar
Das algemas de lama,
Dos vermes que me empestam todo o ar,
Da morte que me arrasa,
Doando-me, por fim,
A minha condição de solo ou de jardim,
Capaz de ser o enfeite o brilho de uma casa?”
 
Depois de ouvir o pântano, pensei:
Quantos irmãos fora da lei,
Quanta gente sem paz a que se arrime,
Entregue à ignorância e à dor, à treva e ao crime,
Por falta de atenção!...
Então, pedi a Deus nos dê mais união,
Mais trabalho e mais fé,
Mais solidariedade e mais suor,
Paz e compreensão,
A fim de cultivar, no próprio coração,
A benção de servir na seara do amor!
 
DOLORES, Maria (Espírito). Maria Dolores. Psicografado por Chico Xavier. 1. ed. Imp. pequenas tiragens. Brasília: FEB; São Paulo: IDEAL, 2022.

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