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quarta-feira, 2 de agosto de 2023

 


CONVERSA NO CAMPO SANTO
 
 Sim, alma irmã,
 Teremos sempre um Dia de Finados,
 Dia de sonhos mortos,
 Supostamente mortos, porque todos eles
 Ressurgem renovados,
 No clima de outros portos,
 Onde a vida,
 Revelada em beleza indefinida,
 É perene manhã.
 
 Agradeço-te as preces,
 Recamadas de flores,
 E as doces vibrações nas quais me aqueces
 Com pensamentos reconfortadores.
 
 Olha, porém, comigo, alma querida e boa,
 Este campo de mármores lavrados,
 Quantas vezes mais belos
 Que a mais formosa porcelana!...
 Aqui, em miniaturas de castelos,
 Gemem segredos de ternura humana...
 Ali, os rendilhados
 Criam lauréis no brilho das legendas;
 Além, anjos parados de mãos postas,
 Em lacrimosas oferendas,
Mostram cruzes depostas,
Vinculadas ao chão...
 Ainda, além, primores de escultura,
 Em lápides custosas,
 São tesouros de amor e desventura,
 Orvalhados de pranto e de aflição!...
 
 Na triste majestade que se estampa,
 Por traço de amargura, campa em campa,
 Não vemos luxo e sim o sofrimento
 De quem ficou a sós,
 De coração entregue ao desalento...
 
 Entretanto, alma boa,
 Este reino de pedras lapidadas,
 Quais lâminas de dor,
 Quer largar-se da morte,
 A fim de partilhar
 A construção de um mundo superior...
 
 Estas altas riquezas esquecidas
 Ficariam mais nobres
 Se pudessem levar sustentação
 Às áreas de outras vidas,
 As vidas que se vão apagando, ao relento,
 Ante a febre, ante a noite e as injúrias do vento,
 A sonharem amparo, teto e pão,
 Livro, afeto, agasalho,
 Proteção e trabalho,
 Paz e renovação...
 
 Nesses doces assuntos,
 Oremos todos juntos...
 E peçamos a Deus
 Para que os mortos redivivos
 Possam solicitar aos seus entres amados
 A desejada alteração.
 A fim de que o lugar dos supostos finados
 Não precise brilhar entre fortunas mortas,
 Pois, todos nós, na vida, em sentido profundo,
 Queremos mais conforto e alegria no mundo!...
 
 Para que nos lembremos uns dos outros,
 Bastam as nossas dores como são,
 Uma pequena cruz, um nome e a relva verde e mansa,
 Que nos falem de paz e de esperança
 Na saudade sem fim do coração.
 
DOLORES, Maria (Espírito). Dádivas de amor. Psicografado por Chico Xavier. 1. ed. Brasília: FEB: São Paulo, SP: IDEAL, 2022.


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