ANÁLISE COMPARATIVA ESPÍRITA DE
SONETOS DE CRUZ E SOUSA – V
Diz Henriqueta Lisboa que em Últimos
sonetos podemos achar a
[...]
verdadeira via crucis do poeta e, ao mesmo tempo, a sua cabal expressão.
Não apenas o homem se engrandeceu através da dor, cristalizando cada vez mais o
ser moral que o integrava, como também o artista, abismado no sofrimento, pôde
tocar suas mesmas raízes, capacitando-se para mais nítidas revelações" (In
COUTINHO, 1979, p. 224).
Estariam presentes em Últimos sonetos,
segundo a crítica citada: "a dor superada", que eu retificaria para a
dor suprema, dor moral, mais pungente que a dor física. Também, segundo
Lisboa, podemos encontrar, na poesia do poeta, "o culto da beleza",
"o sentimento do orgulho" e "a ideia da morte" (op. cit., p.
227- 236).
"O sentimento do orgulho"
expressar-se-ia, em seu livro final, no qual ocultar-se-ia a alma cristã, como
podemos ler no soneto intitulado:
Grandeza
Oculta
- Estes vão para as guerras inclementes,
- Os absurdos heróis sanguinolentos,
- Alvoroçados, tontos e sedentos
- Do clamor e dos ecos estridentes;
- Aqueles para os frívolos e ardentes
- Prazeres de acres inebriamentos:
- Vinhos, mulheres, arrebatamentos
- De luxúrias carnais, impenitentes.
- Mas Tu, que na alma a imensidade fechas,
- Que abriste com teu gênio fundas brechas
- No mundo vil onde a maldade exulta,
- Ó delicado espírito de Lendas!
- Fica nas tuas Graças estupendas,
- No sentimento da grandeza oculta.
Destaco, dos comentários de Lisboa, a seguinte frase: "A força que alimentava seu estro — sonho de ascensão — tocou-se de sublimidade" (op. cit., p. 232). Concordo com Henriqueta. O extraordinário vate é inspirado pelas Vozes do Alto, sobre a grande diferença que existe entre as pessoas que vivem para as glórias efêmeras e paixões do mundo e aquelas que se inebriam com as "Graças estupendas" reservadas a quem supera a matéria e vara "no mundo vil" as brechas que as elevam à dimensão espiritual.
A seguir, o poema psicografado por Chico
Xavier:
- Há sobre os prantos, há sobre as humanas
- Vozes que se lamentam nas torturas,
- Outras vozes mais doces e mais puras,
- Como um coro dulcíssimo de hosanas.
- As primeiras são feitas de amarguras,
- As segundas, de bênçãos soberanas,
- Sobre as dores sagradas ou profanas
- Que pululam nas sendas mais escuras.
- Sobe da Terra a queixa soluçando,
- Silenciosa, muda, suplicando,
- Remontando aos Espaços constelados;
- Desce dos Céus a voz amiga e mansa,
- Fortificando a vida da Esperança
- — Patrimônio dos seres desgraçados.
Este soneto parece confirmar o outro. É
a resposta da Dimensão Espiritual, agora acessada pelo Espírito Cruz e Sousa,
que confirma suas esperanças externadas em seus poemas enquanto estagiou na
Terra com o corpo físico.
Quando o poeta diz "Há sobre os
prantos, há sobre as humanas/ Vozes que se lamentam nas torturas,/ Outras vozes
mais doces e mais puras" refere-se à atuação dos nossos anjos da guarda e
espíritos protetores que nos acompanham por toda a existência. Entristecem-se
com nosso pessimismo, nossas faltas, mas alegram-se com nossas superações do
mal. São essas as vozes que descem dos Céus e nos dão esperança sobre uma
existência melhor que aguarda a todos aqueles que suportam e superam suas
"dores sagradas ou profanas". Muito mais do que crer nisso, estar
certo disso é o que faz das almas elevadas um modelo de vida para todos nós. E
não foi outra coisa o que o Cristo veio nos dizer e confirmar, quando nos
provou que apenas a matéria é perecível, mas o espírito é imortal.
Referências
COUTINHO, Afrânio. Cruz e Sousa: coletânea. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira; Brasília: INL, 1979 (Col. Fortuna Crítica, v. 4).
XAVIER,
Francisco Cândido. Parnaso de além-túmulo. 19. ed. 6. imp. Brasília:
FEB, 2019.
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