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sábado, 14 de novembro de 2020


 

Francisco Xavier

Bordeaux, 1861

            Que opinião farão de mim, vocês costumam dizer, se eu recusar a reparação que me pedem, ou se eu não a pedir àquele que me ofendeu? Os loucos, como vocês, os homens atrasados, os censurarão; mas os esclarecidos pela luz do progresso intelectual e moral dirão que vocês procedem com verdadeira sabedoria.

            Reflitam um pouco: por uma palavra, dita muitas vezes sem intenção, ou bastante inofensiva, por um de seus irmãos, seu orgulho sente-se ferido. Vocês respondem de modo áspero, e vem daí a provocação. Antes de chegar o momento decisivo, vocês perguntam-se se estão agindo como cristãos? Que conta prestarão à sociedade, se a privarem de um de seus membros? Pensaram no remorso de haver roubado a uma mulher seu marido, à mãe seu filho, aos filhos seu pai e seu apoio?

            Certamente, quem ofende deve uma reparação. Mas não é muito mais honroso para ele dá-la espontaneamente, reconhecendo seus erros, do que expor a vida daquele  que possui o direito de se queixar? Quanto ao ofendido, convenho que pode, às vezes, se sentir gravemente atingido, seja na sua própria pessoa, seja em relação aos que lhe são caros. Não é somente o amor-próprio que está em causa; o coração foi magoado e ele sofre. Mas além de ser estúpido jogar a vida contra um miserável capaz de infâmias, mesmo que mate a este, por acaso a afronta, seja qual for, deixa de existir?

            O sangue derramado não provocará maior alarde sobre um fato que, se falso, deve desaparecer por si mesmo, e se verdadeiro, deve ocultar-se no silêncio? Portanto, nada mais restará senão a satisfação da vingança. Ah! triste satisfação que, quase sempre, já nesta vida deixa causticantes remorsos! E se é o ofendido quem sucumbe, onde está a reparação?

            Quando a caridade for a regra de conduta dos homens, eles conformarão seus atos e suas palavras a esta máxima: "Não façam aos outros o que não desejam que eles lhes façam". Então, desaparecerão todas as causas de discórdias, e, com elas, as causas dos duelos e das guerras, que são duelos de povo contra povo.

Tradução livre: prof. dr. Jorge Leite de Oliveira

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