ANÁLISE
COMPARATIVA ESPÍRITA DE SONETOS DE CRUZ E SOUSA – IV
De Broquéis
A grande sede
- Se tens sede de Paz e d'Esperança,
- Se estás cego de Dor e de Pecado,
- Valha-te o Amor, o grande abandonado,
- Sacia a sede com amor, descansa.
- Ah! volta-te a esta zona fresca e mansa
- Do Amor e ficarás desafogado,
- Hás de ver tudo claro, iluminado
- Da luz que uma alma que tem fé alcança.
- O coração que é puro e que é contrito,
- Se sabe ter doçura e ter dolência
- Revive nas estrelas do Infinito.
- Revive, sim, fica imortal, na essência
- Dos Anjos paira, não desprende um grito
- E fica, como os Anjos, na Existência.
Comentário de Tasso da Silveira[1]: "É interessante verificar-se quanto recriou CRUZ E SOUSA, no seio de sua experiência pessoal de vida e por pura intuição poética, essa doutrina do amor que salva, ele, que não conhecia a fonte viva, afastado da Igreja como viveu".
Esse fato não impediu o poeta de entrar em contato com o Budismo e o Espiritismo, este último em plena emancipação na Europa, em especial após 1857, quando Allan Kardec lançou a obra basilar do Espiritismo: O Livro dos Espíritos. É nesses estudos que Cruz e Sousa obteve a crença na sobrevivência do espírito após a morte do corpo físico, no renascimento em novo corpo e na imortalidade da alma.
No soneto acima, estão presentes palavras que confirmam, pelo poeta, o que dissemos. Sobretudo, ao se referir ao Amor, em que destaca a inicial, ele parece referir-se a Deus, como expressão maiúscula desse sentimento que, entretanto, encontrava-se desprezado. Em seguida, o amor já parece ser o das criaturas humanas, pois agora está escrito com inicial minúscula. O Amor divino, reforça a segunda estrofe, é o que desafoga, ilumina e também é alcançado pela "alma que tem fé". Para alcançar a pureza dos Anjos, conclui o vate simbolista, é necessário uma existência semelhante à deles, viver na essência e imortalidade dos Anjos, com "a" maiúsculo.
De Antologia dos imortais
- Alma do Amor
- Alma do Amor, cansada, erma e fremente,
- Arrastando o grilhão das próprias dores,
- Sustenta a luz da fé por onde fores,
- Torturada, ferida, descontente...
- Nebulosas, estrelas, mundos, flores
- Rasgam, vibrando, excelso trilho à frente...
- Tudo sonha, buscando o lume ardente
- Do eterno amor de todos os amores!
- Alma, de pés sangrando senda afora,
- Humilha-te, padece, chora, chora,
- Mas bendize o teu santo cativeiro...
- Não esperes ninguém para ajudar-te,
- Ama apenas, que Deus, em toda a parte,
- É o sol do amor para o Universo inteiro.
Psicografia de Chico Xavier[2]
Comentário:
No poema escrito em vida física, o poeta aconselha quem tem "sede de Paz e d'Esperança" e está "cego de Dor e de Pecado" a valer-se do Amor Divino, como explicamos antes. Agora, em Alma do Amor, que ele destaca como o Amor Divino, orienta a quem se encontra igualmente sofrido, sustentar a fé aonde for, pois o universo busca em sonho o "lume ardente" desse amor eterno. Assim, todos os sofrimentos físicos e morais, como o da humilhação, serão compensados sem a ajuda de ninguém, a não ser a de Deus, que está em toda parte, como "sol do amor para o Universo inteiro".
Desse modo, concluímos que, para bendizermos, um dia, todos os sofrimentos e humilhações,
precisamos apenas amar com luz própria, "o sol do amor" que Deus
nos concede.
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