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sexta-feira, 6 de novembro de 2020

 ANÁLISE COMPARATIVA ESPÍRITA DE SONETOS DE CRUZ E SOUSA – III


Conforme explica-nos Allan Kardec, o método de elaboração dos conhecimentos espíritas é o mesmo que o das ciências positivas: método experimental.

Fatos novos se apresentam que não podem ser explicados pelas leis conhecidas; o Espiritismo os observa, compara, analisa e, remontando dos efeitos às causas, chega à lei que os rege; depois, deduz-lhes as consequências e busca as aplicações úteis [...]. É, pois, rigorosamente exato dizer-se que o Espiritismo é uma ciência de observação e não produto da imaginação [...]. Assim como a ciência propriamente dita tem por objeto o estudo das leis do princípio material, o objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do princípio espiritual.” – Allan Kardec (A gênese, cap. I, Ed. FEB, its. 14 e 16)

  

De Broquéis

Visão da morte

  •  Olhos voltados para mim e abertos
  •  Os braços brancos, os nervosos braços,
  •  Vens d'espaços estranhos, dos espaços
  •  Infinitos, intérminos, desertos...
  •  
  •  Do teu perfil os tímidos, incertos
  •  Traços indefinidos, vagos traços
  •  Deixam, da luz nos ouros e nos aços,
  •  Outra luz de que os céus ficam cobertos.
  •  
  •  Deixam nos céus uma outra luz mortuária,
  •  Uma outra luz de lívidos martírios,
  •  De agonias, de mágoa funerária...
  •  
  •  E causas febre e horror, frio, delírios,
  •  Ó Noiva do Sepulcro, solitária,
  •  Branca e sinistra no clarão dos círios!


Disponível em: MINISTÉRIO DA CULTURA Fundação Biblioteca Nacional Departamento Nacional do Livro BROQUÉIS Cruz e Sousa: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000057.pdf

 

De Parnaso de além-túmulo

Beleza da morte

  • Há no estertor da morte uma beleza
  • Transcendente, ignota, luminosa.
  • Beleza sossegada e silenciosa,
  • Da Luz branca da Paz, trêmula e acesa.
  •  
  • É o augusto momento em que a alma, presa
  • Às cadeias da carne tenebrosa,
  • Abandona a prisão, dorida e ansiosa,
  • Sentindo a vida de outra natureza.
  •  
  • Um mistério divino há nesse instante,
  • No qual o corpo morre e a alma vibrante
  • Foge da noite das melancolias!...
  •  
  • No silêncio de cada moribundo,
  • Há a promessa de vida em outro mundo,
  • Na mais sagrada das hierarquias.

Comentários

 

Podemos observar, em ambos os sonetos, que  o tema é as sensações da morte. A fixação pelo branco e palavras que expressam a ideia de clareza, claridade e luz, brilho, fulgor são características do poeta presentes nestes e em todos os seus poemas. Assim lemos no primeiro soneto: "braços brancos", a repetição da  palavra luz duas vezes tanto na segunda como na terceira estrofe do poema e, novamente, a palavra "branca", seguida de clarão dos círios, que são grandes velas transportadas em procissão, no último verso de Visão da morte, poema escrito em vida pelo poeta e inserto em Broquéis.

Essa claridade, porém, na visão do poeta, é sinistra, por provir, como lemos nos versos anteriores, de "lívidos martírios" e causar "febre e horror, frio, delírios". A sensação é sempre penosa, desde quando ele se refere aos "nervosos braços" dos "olhos" que se voltam para ele até a claridade que, "noiva do sepulcro", logo seria extinta pela morte.

Já no soneto post-mortem a preocupação do Espírito, agora livre da matéria, é a beleza da morte, para os que se libertam dos grilhões da matéria, como lembram os versos da primeira estrofe de outro poema dele em vida, dedicado a Nestor Vítor em II Longe de Tudo: "É livres, livres, desta vã matéria/Longe, nos claros astros peregrinos/Que havemos de encontrar os dons divinos/E a grande paz, a grande paz sidérea". Sousa, após cumprir suas provas, volta do Além para confirmar o que disse em vida.

No momento em que o corpo estertora, diz ele, no soneto psicografado por Chico Xavier, ocorre a beleza "sossegada e silenciosa" da "Luz branca da Paz" anunciadora da libertação da alma aprisionada, até então, à "carne tenebrosa". É quando essa alma sente "a vida de outra natureza". Afasta-se das "melancolias" até então sentidas e, conclui o vate que esse momento silente é o de sua "promessa de vida em outro mundo". Promessa para os que ficam, realidade para os que ingressam nessa nova dimensão da vida imortal.

  • Prof. dr. Jorge Leite de Oliveira
  • Brasília, 05 de novembro de 2020.

 

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