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sábado, 7 de novembro de 2020


 

Um Espírito Protetor

Bordeaux, 1861

 

O duelo, como o que, antigamente, se chamava Juízo de Deus, é uma dessas instituições bárbaras que acontecem ainda na sociedade. Que vocês diriam, contudo, se vissem dois adversários mergulharem na água fervente ou sujeitarem-se ao contato do ferro em brasa, para decidir a sua disputa, dando razão ao que melhor se saísse da prova? Vocês chamariam esses costumes de insensatos. 

O duelo é pior que tudo isso. Para o duelista experiente, é um assassinato cometido a sangue-frio, com toda a premeditação desejada, pois ele está certo do golpe que desferirá. Para o adversário, quase certo de sucumbir, em virtude de sua fraqueza e de sua inabilidade, é um suicídio, cometido com a mais fria reflexão.

Eu sei que frequentemente procura-se evitar essa alternativa, igualmente criminosa, contando com o acaso; mas isso não é, sob outra forma, uma volta ao Juízo de Deus da Idade Média? Naquela época, a culpa era infinitamente menor. O nome mesmo de Juízo de Deus revela uma fé ingênua, é verdade, mas sempre uma fé na Justiça de Deus, que não poderia deixar sucumbir um inocente, enquanto no duelo tudo se entrega à força bruta, de tal maneira que é frequente sucumbir o ofendido.

Oh, amor-próprio estúpido, tola vaidade e louco orgulho, quando serão substituídos pela caridade cristã, pelo amor ao próximo e a humildade, de que o Cristo nos deu o ensino e o exemplo? Só então desaparecerão esses preconceitos monstruosos que ainda dominam os homens, e que as leis são impotentes para reprimir. Pois não basta proibir o mal e prescrever o bem; é necessário que o princípio do bem e o horror do mal estejam no coração do homem.

 

Tradução livre: prof. dr. Jorge Leite de Oliveira

Um comentário:

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