Um Espírito Protetor
Bordeaux, 1861
O duelo, como o que, antigamente, se chamava Juízo de Deus, é uma dessas instituições bárbaras que acontecem ainda na sociedade. Que vocês diriam, contudo, se vissem dois adversários mergulharem na água fervente ou sujeitarem-se ao contato do ferro em brasa, para decidir a sua disputa, dando razão ao que melhor se saísse da prova? Vocês chamariam esses costumes de insensatos.
O
duelo é pior que tudo isso. Para o duelista experiente, é um assassinato cometido a
sangue-frio, com toda a premeditação desejada, pois ele está certo do golpe que
desferirá. Para o adversário, quase certo de sucumbir, em virtude de sua
fraqueza e de sua inabilidade, é um suicídio, cometido com a mais fria
reflexão.
Eu sei
que frequentemente procura-se evitar essa alternativa, igualmente criminosa, contando
com o acaso; mas isso não é, sob outra forma, uma volta ao Juízo de Deus da Idade
Média? Naquela época, a culpa era infinitamente menor. O nome mesmo de Juízo de
Deus revela uma fé ingênua, é verdade, mas sempre uma fé na Justiça de Deus, que não poderia deixar
sucumbir um inocente, enquanto no duelo tudo se entrega à força bruta, de tal
maneira que é frequente sucumbir o ofendido.
Oh, amor-próprio estúpido, tola vaidade e louco orgulho, quando serão substituídos pela caridade cristã, pelo amor ao próximo e a humildade, de que o Cristo nos deu o ensino e o exemplo? Só então desaparecerão esses preconceitos monstruosos que ainda dominam os homens, e que as leis são impotentes para reprimir. Pois não basta proibir o mal e prescrever o bem; é necessário que o princípio do bem e o horror do mal estejam no coração do homem.
Tradução livre: prof. dr. Jorge
Leite de Oliveira
Linda mensagem e bem atual. Boa noite, querido pai.
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