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sábado, 19 de dezembro de 2020

 

 

13.3 O óbolo da viúva

Jesus estava sentado diante do gazofilácio e observava de que modo o povo lançava ali o dinheiro. Muitos, que eram ricos, doavam bastante. Viu chegar também uma pobre viúva, que lançou somente duas pequenas moedas de ínfimo valor. Então, chamando seus discípulos, Jesus lhes disse: Eu lhes digo, em verdade, que  aquela pobre viúva doou mais do que todos os outros que deitaram suas ofertas no gazofilácio. Porque todos os outros deitaram do que tinham em abundância; ela, porém, doou de sua pobreza mesma tudo o que lhe restava para seu sustento (Marcos, 12:41- 44;  Lucas, 21:1-4).

         Muita gente lamenta não poder fazer todo o bem que desejaria, por falta de recursos, e se querem a fortuna, dizem, é para dela fazerem bom uso. A intenção é louvável, sem dúvida, e pode ser muito sincera de parte de alguns. Mas seriam todos assim completamente desinteressados? Não haverá os que, desejando fazer o bem aos outros, se sentirão bem por começar por fazê-lo a si mesmos, concedendo-se mais algumas satisfações, um pouco mais do supérfluo, que ora não têm, para dar apenas o resto aos pobres?  

         Este motivo oculto, talvez dissimulado, mas que encontrariam no fundo de seus corações, se o procurassem, cuidadosamente, anula o mérito da intenção, pois a verdadeira caridade faz antes pensar nos outros que em si mesmo. O sublime da caridade, nesse caso, seria procurar cada qual no seu próprio trabalho, pelo emprego de suas forças, de sua inteligência, de sua capacidade, os recursos que lhe faltam para realizar suas intenções generosas. Nisso estaria o sacrifício mais agradável ao Senhor. Infelizmente, a maioria sonha com meios mais rápidos e fáceis de se enriquecer, de um golpe e sem sacrifícios, correndo atrás de quimeras, como a descoberta de tesouros, uma oportunidade favorável, o recebimento de heranças inesperadas etc.

         Que dizer dos que esperam encontrar para os secundar nas pesquisas dessa natureza, auxiliares entre os Espíritos? Com certeza, eles nem conhecem nem compreendem o sagrado objetivo do Espiritismo, e menos ainda a missão dos Espíritos, aos quais Deus permite comunicarem-se com os homens. São, assim, punidos pelas decepções (O livro dos médiuns, itens 294 e 295).

         Aqueles cuja intenção é desprovida de qualquer interesse pessoal devem consolar-se de sua impotência para fazer o bem que desejariam lembrando que o óbolo do pobre, que o tira da sua própria privação, pesa mais na balança de Deus do que o ouro do rico, que dá sem privar-se de nada. A satisfação seria grande, sem dúvida, de poder socorrer largamente a indigência; mas, se isso é impossível, é necessário submeter-se a fazer o que se pode.

         Aliás, não é somente com o ouro que se podem enxugar as lágrimas, e não devemos ficar inativos por não o possuirmos. Quem deseje, sinceramente, tornar-se útil a seus irmãos encontra mil ocasiões para isso. Que as procure e as encontrará. Se não for de uma maneira, será de outra, pois não há uma só pessoa, no livre gozo de suas faculdades, que não possa prestar algum serviço, dar uma consolação, amenizar um sofrimento físico ou moral, tomar uma providência útil. Na falta de dinheiro, não dispõem todos do seu esforço, do seu tempo, do seu repouso, para oferecer um pouco aos outros? Aí está, também, a esmola do pobre, o óbolo da viúva.


         Tradução livre da 3ª ed. francesa: prof. dr. Jorge Leite de Oliveira

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