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sábado, 12 de dezembro de 2020

 


13.2 Os infortúnios ocultos

 

            Nas grandes calamidades, a caridade se movimenta, e veem-se generosos impulsos para reparar os desastres. Mas, ao lado desses desastres gerais, há milhares de desastres particulares, que passam despercebidos, de pessoas que jazem num catre sem se queixarem. Esses são os infortúnios discretos e ocultos, que a verdadeira generosidade sabe descobrir, sem esperar que peçam assistência.

            Quem é esta senhora de ar distinto, de roupas simples mas bem cuidadas, seguida de uma jovem que também se veste modestamente? Entra numa casa de aspecto miserável, onde sem dúvida é conhecida, pois à porta é saudada respeitosamente. Aonde ela vai? Sobe até a água-furtada onde vive uma mãe de família, rodeada por crianças. À sua chegada, a alegria brilha naqueles rostos emagrecidos. É que ela veio ali acalmar todas as dores. Traz o necessário, temperado de suaves e consoladoras palavras, que fazem seus protegidos aceitar a ajuda sem constrangimentos, pois esses infortunados não são profissionais de mendicância. O pai está no hospital, e durante esse tempo a mãe não pode suprir as necessidades familiares.

            Graças a ela, essas pobres crianças não sofrerão nem frio nem fome; irão à escola agasalhadas calorosamente e o leite não secará no seio da mãe para as menorzinhas. Se entre elas uma adoece, a benfeitora não se repugnará em lhe prestar os cuidados materiais.

            Dali seguirá ao hospital, para levar ao pai algum reconforto e tranquilizá-lo quanto à sorte da família. No canto da rua, uma carruagem a espera, verdadeiro depósito de tudo o que vai levar aos protegidos, que visita sucessivamente.

            Não lhes pergunta pela crença nem pelas opiniões, porque, para ela, todos os homens são irmãos e filhos de Deus. Ao fim das visitas, ela diz a si mesma: Comecei bem o meu dia. Qual é o seu nome? Onde mora? Ninguém o sabe. Para os infelizes, tem um nome que nada significa, mas é o anjo da consolação. E, à noite, um concerto de bênçãos se eleva por ela ao Criador: católicos, judeus, protestantes... todos a bendizem.

            Por que se veste com simplicidade? É porque ela não quer humilhar a miséria com seu luxo. Por que se faz acompanhar da jovem filha? Para que a filha aprenda como se deve praticar a beneficência.

            A filha também quer fazer a caridade, mas sua mãe lhe diz: Que pode dar você, minha filha, se nada tem de seu? Se lhe entrego alguma coisa para dar aos outros, que mérito você terá? Serei eu, na verdade, quem farei a caridade, e você é quem terá o mérito? Isso não é justo. Quando visitarmos os doentes, ajude-me a cuidar deles, pois dar-lhes cuidados é dar alguma coisa sua. Isso não lhe parece suficiente? Nada mais simples: aprenda a fazer costuras úteis, e assim confeccionará roupinhas para essas crianças, podendo dar-lhes alguma coisa de si mesma. É assim que esta mãe verdadeiramente cristã vai formando sua filha na prática das virtudes ensinadas pelo Cristo. É espírita? Isso não importa!

            Em seu íntimo, é a mulher do mundo, pois sua posição o exige; mas todos ignoram o que ela faz, mesmo porque não lhe interessa outra aprovação senão a de Deus e de sua própria consciência. Porém, um dia, uma circunstância imprevista leva ao seu lar uma de suas protegidas, para lhe vender trabalhos manuais, que, ao vê-la, a reconheceu como sua benfeitora. Silêncio! - disse-lhe ela - não conte a ninguém!

            Assim falava Jesus.

            Tradução livre do prof. dr. Jorge Leite de Oliveira

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