Em dia com o Machado
449:
A cruz sagrada (Jó)
Se pudéssemos entrar numa máquina do tempo
que nos fizesse voltar ao passado, amigo leitor, bem poderia acontecer de
conversarmos com nós mesmos. E
não é que isso acabou de acontecer, não pela máquina do tempo, mas pela da
imaginação? Pois é, acabei de imaginar um diálogo de Jó (68 anos) com Jorge (23
anos).
Eu, Jó, noutro dos meus devaneios,
voltei ao tempo e passei a conversar comigo mesmo, Jorge, quando ainda não
usava pseudônimo, na noite de 26 de junho de 1975, ou seja, há 45 anos. Estava na
Penha, bairro do Rio de Janeiro, e Jorge disse-me:
— Caramba, Jó, você já é quase
setuagenário? Ainda hoje, imaginei não chegar aos cinquenta anos de idade...
— Pois é, Jorge, diz um ditado popular: "O
que o homem põe, Deus dispõe"...
— Mas que o trouxe aqui, Jó, em plena
madrugada?
— Li num caderno velho um dos seus
primeiros poemas e gostei muito, Jorge. É um poema sacro.
— Ora, Jó, são rabiscos de jovem
iniciado na Doutrina Espírita, dois anos atrás, que mal começou seus exercícios
literários. São versos de pés-quebrados
que já nem me lembravam mais.
— É verdade que você os escreveu sob a
inspiração de Cruz e Sousa, Jorge?
— Não sei, Jó. Imaginei, há poucas
horas, que o melhor poeta da escola simbolista do Brasil e um dos melhores do
mundo me incentivara a escrevê-los. Depois, guardei-os numa gaveta, até que
tivesse melhores noções de poesia.
— O que você acha de eu revisá-los e
publicá-los em meu blog, Jorge?
— Blog? Que é isto, Jó? Nunca
ouvi falar... mas, se é para melhorar o poema, desde já, autorizo sua revisão e
modificação. Apenas lhe peço que mantenha
o título...
— Manterei não só o título, mas também a
estrutura e os créditos, Jorge Leite de Oliveira. Eis seu poema sacro:
A
Cruz Sagrada
Deus,
nosso Pai, que sois todo amor e bondade,
Libertai-nos
dos vícios, do ódio e maldade.
Dai-nos
confiança e coragem dos que lutam
Contra
as imperfeições que a todos nos insultam.
Fortificai,
bom Senhor, nossos pensamentos,
Purificai-nos,
Pai Perfeito, os sentimentos.
Perdoai,
Pai querido, nossos inimigos,
Mas
perdoai-nos também tê-los ofendido.
Confortai-nos
nas horas de erma solidão
Com
a luz projetada ao nosso coração
Pelas
almas puras que nos vêm consolar
Quando
unidos a elas passamos a orar.
Seja
sempre feita vossa Boa Vontade
E
jamais prevaleça em nós qualquer vaidade.
Elevai-nos
as almas às luzes dos Céus,
Retirai-nos
das mentes quaisquer negros véus.
Senhor,
compadecei-vos desta Humanidade
A
quem Jesus pregou e fez a Caridade.
Dai-nos
a paz e luz nas horas de desdita,
Pois
juntais à justiça bondade infinita.
Muito
obrigado, Pai, por tudo que nos destes:
Amigos
sinceros, família, pães e vestes...
Jamais
nos rejeitais, Pai Sábio e generoso.
Mesmo
ao filho calceta, vil e tenebroso
Enviastes Jesus Cristo para perdoá-lo,
Sabendo
de antemão que seria imolado.
Por
isso peço, Pai, piedade para nós,
Pequeninos
filhos que recorrem a Vós.
Fazei
com que sigamos Vosso Filho Amado,
Que
amando e perdoando foi crucificado.
Fazei-nos
carregar, humildes, nossa cruz,
Consagrados
na fé e exemplos de Jesus.
— Nossa, Jó, ficou bem melhor. Dedico-o
a Cruz e Sousa.
— Eu também, Jorge...
Despedimo-nos. Jorge imaginou que
sonhara; Jó, este que agora volta a falar ao leitor amigo, tem certeza de que
não...
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