13.1 Fazer o bem sem ostentação - continuação...
Que a mão esquerda não saiba o que faz a direita é uma figura que caracteriza admiravelmente
a beneficência modesta. Mas, se há a modéstia real, também há a falsa modéstia,
o fingimento da modéstia. Há algumas pessoas que ocultam a mão que dá, tendo o
cuidado de deixá-la aparecer um pouco ao olhar em volta se alguém não as vê
ocultar. Indigna paródia das máximas do Cristo! Se os benfeitores orgulhosos
são depreciados pelos homens, que não lhes acontecerá perante Deus? Esses também
já receberam sua recompensa na Terra. Foram vistos; estão satisfeitos de terem sido
vistos. É tudo quanto terão.
Qual será
então a recompensa do que faz pesar seus benefícios sobre o beneficiado, que lhe
exige de qualquer modo testemunhos de reconhecimento, que lhe faz sentir sua posição
ao exaltar o preço dos sacrifícios que se impôs por ele? Oh, para esse não há
nem mesmo a recompensa terrestre, pois está privado da doce satisfação de ouvir
bendizerem seu nome, o que é um primeiro castigo para seu orgulho. As lágrimas
que estanca, por vaidade, em lugar de subirem ao céu, recaem sobre o coração do
aflito e o ulceram. O bem que praticou não lhe é proveitoso, pois ele o lastima, e todo benefício
lastimado é moeda falsa.
A beneficência sem
ostentação tem duplo mérito: além de ser caridade material, é caridade moral. Ela poupa a suscetibilidade do beneficiado. Faz-lhe
aceitar o benefício sem que seu amor-próprio sofra e salvaguarda sua dignidade
humana, pois há quem aceite um serviço mas recuse a esmola. Converter um
serviço em esmola, pela maneira porque é prestado, é humilhar quem o recebe, e
há sempre orgulho e maldade em humilhar alguém.
A verdadeira caridade, ao contrário, é delicada e habilidosa para dissimular o benefício, no evitar até as menores possibilidades de melindre, porque todo atrito moral aumenta o sofrimento provocado pela necessidade. Ela sabe encontrar palavras doces e afáveis, que põe o beneficiado à vontade diante do benfeitor, enquanto a caridade orgulhosa o esmaga. O sublime da verdadeira generosidade está em saber o benfeitor inverter os papéis, encontrando um meio de parecer ele mesmo beneficiado diante de quem presta serviço. Eis o que querem dizer estas palavras: Que a mão esquerda não saiba o que dá a direita.
Tradução livre da 3ª ed. francesa:
prof. dr. Jorge Leite de Oliveira
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