21.3 Prodígios dos falsos profetas
"Surgirão falsos cristos e falsos
profetas que farão prodígios e sinais espantosos, para enganar até mesmo os escolhidos."
Essas palavras dão o verdadeiro sentido da palavra prodígio. Na acepção
teológica, os prodígios e os milagres são fenômenos excepcionais, fora das leis
da natureza. As leis da natureza, sendo obras de Deus, este pode, sem dúvida,
derrogá-las, se isto lhe aprouver, mas o simples
bom senso diz que Ele não pode haver dado a
seres inferiores e perversos um poder igual ao seu, e menos ainda o direito de
desfazerem o que Ele fez. Jesus não pode ter
consagrado tal princípio.
Se, portanto, segundo o sentido que se
atribui a
essas palavras, o Espírito do mal tem
poder de fazer tais prodígios, que os próprios escolhidos sejam enganados,
disso resultaria que, podendo ele fazer o mesmo que Deus faz, os prodígios e os
milagres não são privilégio exclusivo dos enviados de Deus, e por isso nada provam,
desde que nada distingue os milagres dos santos dos milagres dos demônios. É
preciso, pois, buscarmos um sentido mais racional àquelas palavras.
Aos olhos do povo ignorante,
todo fenômeno cuja causa é desconhecida passa por sobrenatural, maravilhoso e
miraculoso. Conhecida a causa, reconhece-se que o fenômeno, por mais extraordinário
que pareça, não é mais do que a aplicação de uma determinada lei da natureza. É
assim que o círculo dos fatos sobrenaturais se restringe, à medida que se
amplia o da ciência.
De todos os tempos, certos homens exploraram, em proveito de suas ambições, de seu interesse e de sua ânsia de dominação, certos conhecimentos que possuíam, para conseguirem o prestígio de um poder supostamente sobre-humano ou de uma pretensa missão Divina. São esses os falsos cristos e os falsos profetas. A difusão das luzes lhes destrói o crédito, eis porque seu número diminui, à medida que os homens se esclarecem. O fato de operar aquilo que, aos olhos de certas pessoas, parece prodígio não é, portanto, nenhum sinal de missão divina, pois esse prodígio pode resultar de conhecimentos que qualquer um pode adquirir, ou de faculdades orgânicas especiais, que tanto o mais indigno como o mais digno pode possuir. O verdadeiro profeta se reconhece por características mais sérias e exclusivamente morais.
Tradução livre:
prof. dr. Jorge Leite de Oliveira - pós-dout. cultural.
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