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sexta-feira, 10 de março de 2023

 


Pelos obsidiados

 

(81) Prefácio

 

            A obsessão é a ação persistente de um mau Espírito sobre uma pessoa. Apresenta características muito diversas, desde a simples influência de ordem moral, sem sinais exteriores perceptíveis até a completa perturbação do organismo e das faculdades mentais. Destrói todas as faculdades mediúnicas. Na mediunidade psicográfica traduz-se pela obstinação de um Espírito manifestar-se exclusivamente, com exclusão de todos os outros. Os maus Espíritos espalham-se ao redor da Terra, em consequência da inferioridade moral do seus habitantes. Sua ação malfazeja faz parte dos flagelos que a humanidade suporta neste mundo. A obsessão, como as doenças, e como todas as atribulações da vida, deve ser considerada, pois, como uma prova ou uma expiação, e ser aceita como tal.

            Assim como as doenças são o resultado das imperfeições físicas, que tornam o corpo acessível às influências perniciosas exteriores, a obsessão é sempre o resultado de uma imperfeição moral que dá acesso a um mau Espírito. A uma causa física, opõe-se um força física; a uma causa moral, é necessário opor uma força moral. Para preservar-se das doenças, fortifica-se o corpo; para garantir-se contra a obsessão, é necessário fortificar a alma. Disso resulta que o obsidiado precisa trabalhar pela sua própria melhoria, o que na maioria das vezes é suficiente para o livrar do obsessor, sem socorrer-se de outras pessoas. Esse socorro se torna necessário quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, porque o paciente perde, por vezes, a sua vontade própria e o seu livre-arbítrio.

            A obsessão é quase sempre a ação vingativa de um Espírito, e na maioria das vezes tem sua origem nas relações do obsidiado com o obsessor, em existência anterior (Ver cap. 10, item 6; e 12, itens 5 e 6).

            Nos casos de obsessão grave, o obsidiado está como envolvido e impregnado por um fluido pernicioso, que neutraliza a ação dos fluidos salutares e os repele. É preciso livrá-lo desse fluido; mas um mau fluido não pode ser repelido por outro da mesma espécie. Por uma ação semelhante a que o médium curador exerce nos casos de doença, é preciso expulsar o fluido mau com a ajuda de um fluido melhor, que produz, de certo modo, o efeito de um reagente.

            Essa é a que podemos chamar de ação mecânica, mas não é suficiente. Faz-se também necessário, e acima de tudo, agir sobre o ser inteligente, com o qual se deve falar com  autoridade, sendo que essa autoridade só é dada pela superioridade moral. Quanto maior for esta, tanto maior será a autoridade.

            E ainda não é tudo, pois para assegurar a libertação, é preciso convencer o Espírito perverso a renunciar aos seus maus intentos; despertar-lhe o arrependimento e o desejo do bem, através de instruções habilmente dirigidas, por meio de evocações particulares, feitas no interesse da sua educação moral. Então, pode-se ter a dupla satisfação de libertar um encarnado e converter um Espírito imperfeito.

            A tarefa se torna mais fácil, quando o obsidiado, compreendendo sua situação, oferece o concurso da sua vontade e da prece. Não se passa assim quando, aquele que é seduzido pelo Espírito embusteiro, se mantém iludido quanto às qualidades daquele que o domina, e se compraz nas suas mistificações, porque então, em vez de ajudar, ele mesmo repele toda assistência. É o caso da fascinação, sempre infinitamente mais rebelde do que a subjugação mais violenta. (Ver O livro dos médiuns, cap. 23).

            Em todos os casos de obsessão, a prece é o mais poderoso auxiliar da ação contra o Espírito obsessor.

 

1. (82) Prece (para o obsidiado dizer)

 

— Meu Deus, permita aos bons Espíritos me livrarem do Espírito malfazejo que se ligou a mim. Se é uma vingança que ele exerce, devido aos males que eu lhe teria feito no passado,  o Senhor permitistes, meu Deus, para minha punição, e eu sofro a consequência de minha falta. Possa meu arrependimento me fazer merecer seu perdão e minha liberdade! Mas, seja qual for o motivo, suplico para ele sua misericórdia. Digne-se facilitar-lhe, Senhor, a senda do progresso, de que se desviou pelo pensamento de fazer o mal. Possa eu, de meu lado, retribuindo-lhe o mal com o bem, encaminhá-lo a melhores sentimentos.

            Mas sei também ó! Meu Deus, que são as minhas imperfeições que me tornam acessíveis às influências dos Espíritos imperfeitos. Dê-me a luz necessária para as reconhecer; e afaste sobretudo meu orgulho, que me torna cego para os meus defeitos.

            Como deve ser grande minha indignidade, para que um ser malfazejo me possa dominar!           Faça, oh! Meu Deus, que este golpe desferido na minha vaidade me sirva de lição para o futuro; que ele me fortaleça na decisão de me depurar pela prática do bem, da caridade e da humildade, a fim de que possa opor, daqui por diante, uma barreira ao ataque das más influências.

            Senhor, dê-me força de suportar esta prova com paciência e resignação! Compreendo que, como todas as demais provas, ela deve contribuir para meu adiantamento, se eu não comprometer seus resultados com as minhas lamentações, pois ela me oferece uma oportunidade de demonstrar minha submissão e de praticar a caridade para com um irmão infeliz, perdoando-lhe o mal que me tenha feito (caps. 12, itens 5 e 6; cap. 28, item 15 e segs. 46-47).

 

2. (83) Prece (Pelo obsidiado)

 

            — Deus Todo-Poderoso, digne-se dar-me o poder de livrar fulano do Espírito que o obsidia. Se está nos seus desígnios pôr um fim a esta prova, concede-me a graça de falar a esse Espírito com a necessária autoridade.

            Bons Espíritos que me assistem, e você, anjo da guarda de fulano, deem-me seu concurso; ajudem-me a libertá-lo do fluido impuro que o envolveu.

            Em nome de Deus Todo-Poderoso, conjuro o Espírito malfazejo que o atormenta a se afastar.

 

3. (84) Prece (pelo Espírito obsessor)

 

— Deus, infinitamente bom, suplico sua misericórdia para o Espírito que obsidia fulano! Faça que ele perceba as divinas claridades, a fim de que reconheça o falso caminho que está seguindo. Bons Espíritos, ajudem-me a fazê-lo compreender que ele tem tudo a perder na prática do mal, e tudo a ganhar na prática do bem!

            Espírito que se compraz em atormentar fulano ouça-me, pois, que lhe falo em nome de Deus!

            Se quiser refletir, compreenderá que o mal não pode levar ao bem, e que você não pode ser mais forte do que Deus e os bons Espíritos.

            Eles poderão preservar fulano de qualquer atentado de sua parte. Se não o fizeram, foi porque ele tinha uma prova a sofrer. Mas quando essa prova terminar, eles o impedirão de agir sobre ele. O mal que lhe tiver feito, em vez de prejudicá-lo, terá servido para seu adiantamento, tornando-o mais feliz. Assim, sua maldade terá sido em vão, mas se voltará contra você.

            Deus, que é Todo-Poderoso, e os Espíritos superiores, seus servidores, que são mais poderosos do que você, poderão então pôr um fim a essa obsessão, quando quiserem, e sua tenacidade se quebrará contra essa autoridade suprema. Mas, por ser bom, Deus quer deixar-lhe o mérito de interrompê-la pela vossa própria vontade. É uma concessão que lhe faz, e se não a aproveitar, terá de sofrer deploráveis consequências, pois grandes castigos e duros sofrimentos o esperam. Será forçado a implorar sua piedade e as preces da sua vítima, que já o perdoou e ora por você, o que é um grande mérito aos olhos de Deus e apressará a sua libertação.             Reflita, pois, enquanto é tempo, porque a justiça de Deus pesará sobre você, como sobre todos os Espíritos rebeldes. Lembre-se de que o mal que faz neste momento terá forçosamente um fim, enquanto que, se persistir no seu endurecimento, seus sofrimentos aumentarão sem cessar.

            Quando esteve na Terra, não considerava estúpido sacrificar um grande bem pela satisfação de um momento? O mesmo ocorre agora que você é Espírito. O que ganha com o que está fazendo? O triste prazer de atormentar alguém, o que não o impedirá de ser infeliz, diga o que disser, e o deixará ainda mais infeliz!

            Ao lado disso, veja o que perde; observe os bons Espíritos que o cercam e diga se a sorte deles não é preferível à sua. A felicidade que desfrutam será também sua, quando o quiser. Que é necessário para tanto? Implorar a Deus seu auxílio, e fazer o bem em vez de fazer o mal. Bem sei que não pode transformar-se de um momento para outro; mas Deus não quer o impossível; o que ele deseja é apenas a boa vontade. Tente, portanto, e nós o ajudaremos. Faça que bem logo possamos dizer em seu benefício a prece pelos Espíritos arrependidos, (item 73), e não mais o classificar entre os maus Espíritos, enquanto esperarmos contá-lo entre os bons (Ver acima, o item 75: Prece pelos espíritos endurecidos).

 

Observação

 

            A cura das obsessões graves requer muita paciência, perseverança e devotamento. Exige também tato e habilidade, para a condução ao bem de espíritos quase sempre muito perversos, endurecidos e astuciosos, pois que os há rebeldes até o último grau. Na maioria dos casos, devemos guiar-nos pelas circunstâncias. Mas, seja qual for a natureza do Espírito, o certo é que nada se obtém pelo constrangimento ou pela ameaça. Toda a influência depende do ascendente moral. Outra verdade, igualmente verificada pela experiência, e que a lógica comprova, é a completa ineficácia de exorcismos, fórmulas, palavras sacramentais, amuletos, talismãs, práticas exteriores ou quaisquer símbolos materiais.

            A obsessão por longo tempo pode ocasionar desordens patológicas, e exige por vezes um tratamento simultâneo ou consecutivo, seja magnético ou médico, para o restabelecimento do organismo. A causa estando destruída, ainda resta combater os efeitos (Ver O livro dos médiuns, cap. 23, sobre a obsessão: e a Revista Espírita, números de fevereiro de 1864 e abril de 1865: exemplos de curas de obsessões).

           

 

FIM

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