Em
dia com o Machado 247 (jlo)
Em
1990, coloquei a esposa, duas filhas e um filho (10, 6 e 4 anos) no fusquinha
branco, que compramos, dez anos antes, quando nos casamos, e saímos de férias
rumo à cidade de Barreiras-BA, onde anualmente visitávamos meus sogros. A
cidade dista pouco mais de 600 km de Brasília.
Embora,
à época o automóvel fosse ainda muito cobiçado por algumas pessoas, uma das
quais meu concunhado, que, de vez em quando, me fazia uma proposta por ele,
sempre recusada por mim, daquela vez o carro resolveu aprontar algumas peças
conosco.
A
primeira delas foi a de seu cabo do câmbio, que se soltou no meio da estrada. Ainda
bem que conseguimos chegar a um posto de gasolina. Aos “trancos e barrancos”,
mas chegamos... Então, paramos ali e ainda conseguimos um mecânico que soldou a
peça...
Resolvido
esse problema, rodamos mais uns 150 km quando, em local totalmente isolado, um
pneu furou. Parei para trocá-lo, mas, de repente, vi aproximar-se uma
caminhonete com três homens fortemente armados. Minha mulher desceu,
preocupada, e os filhos ficaram dentro do fusca...
A
caminhonete parou, e os homens desceram. Nesse momento, intimamente, comecei a
orar e pensar: “É hoje que vamos ser assaltados. Com um pouco de sorte, ficarei
totalmente ‘depenado’, com a esposa e os três filhos menores, a pé, nessa
estrada isolada”.
Estávamos
a uns 150 quilômetros de Barreiras quando isso ocorreu.
Para
surpresa nossa, entretanto, os homens desceram, cumprimentaram-nos, respeitosos,
e fizeram questão de trocar o pneu furado pelo estepe gratuitamente. Em seguida,
recomendaram-nos providências para o reparo do pneu, tão logo fosse possível, e
prometeram nos escoltar até a entrada na cidade, pois “aquele trecho de estrada
era muito perigoso, com diversas crimes”.
Estávamos
no lugar certo e na hora certa, ao
contrário de muitos cidadãos que, na melhor da hipótese, são vítimas de
assaltos em nossas inseguras estradas. Parodiando o poema de Carlos Drummond de
Andrade, diríamos:
Tinha homens bons no
meio da estrada;
No meio da estrada,
tinha homens bons.
Jamais me esqueci
desse detalhe, no campo de minhas retinas, agora cataratadas,
Jamais
me esqueci que, no
meio da estrada, tinha homens bons.
Tinha homens bons no
meio da estrada. (Joteli)
Chegamos
a Barreiras sãos e salvos e, após consertar o pneu furado, dias depois, voltei
com a família a Brasília... no mesmo fusca. Depois, poupei meu concunhado de
comprar aquela preciosidade. Reparei o automóvel da melhor forma possível e
vendi-o para outro louco, como eu... louco por fusca.
Antes
de vendê-lo, fui designado a participar de uma junta de seleção militar em
Anápolis- GO, cidade que fica a cento e poucos quilômetros de Brasília. Na
época, eu era sargento do Exército. Um tenente médico ia e voltava,
corajosamente, comigo. Havia um trecho da estrada muito perigoso, cheio de
curvas acentuadas.
Um
belo dia em que eu voltava com o tenente, daquela cidade, empolgado pela
confiança no fusca, no citado trecho de estrada, exagerei um pouco, na
autoconfiança, ao deixar que o velocímetro ultrapassasse os 110 km/hora.
Desesperado, o oficial gritou comigo para diminuir a velocidade, sendo atendido,
mas nunca mais ele quis viajar comigo no fusca. Até hoje, não sei por quê...
Não
à toa, diziam sobre três coisas que não eram... Das duas primeiras eu não me
lembro, mas a terceira nunca me esqueceu: “fusca não é carro”.
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