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sábado, 8 de fevereiro de 2020


Continuação da tradução livre d'O Evangelho Segundo o Espiritismo, 3ª ed. francesa.


8 BEM-AVENTURADOS OS PUROS DE CORAÇÃO

Deixem vir a mim as criancinhas. Pecado por pensamento. Adultério. Verdadeira pureza. Mãos não lavadas. Escândalos. Se suas mãos são motivo de escândalo, cortem-nas. Instruções dos Espíritos: Deixem vir a mim as criancinhas. Bem-aventurados os que têm os olhos fechados.

8.1 Deixem vir a mim as criancinhas

Bem-aventurados os que têm puro o coração, porque verão a Deus (Mateus 5:8). 

Então apresentaram-lhe algumas crianças, para que as tocasse; e, como os discípulos ameaçavam os que as apresentavam com palavras duras, vendo isso, Jesus zangou-se e lhes disse: Deixem vir a mim as criancinhas, e não as impeçam, porque o Reino de Deus é daqueles que se lhes assemelham. Eu lhes digo, em verdade, que aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, nele não entrará. E, abraçando-as, as abençoava e lhes impunha as mãos (Marcos 10: 13-16).
A pureza de coração é inseparável da simplicidade e da humildade. Exclui todo pensamento de egoísmo e de orgulho. É por isso que Jesus toma a infância como símbolo dessa pureza, como já a tomara por símbolo da humildade.
Essa comparação poderia não parecer justa, se considerarmos que o Espírito da criança pode ser muito antigo, e que ele traz ao renascer na vida corpórea as imperfeições de que não se livrou nas existências precedentes. Somente um Espírito que chegou à perfeição poderia dar-nos o tipo da verdadeira pureza. Mas a comparação é exata do ponto de vista da vida presente, porque a criancinha,  ainda não podendo manifestar nenhuma tendência perversa, apresenta a imagem da inocência e da candura. Além disso, Jesus não diz de modo absoluto que o Reino de Deus é para elas, mas para os que se lhes assemelham.
Desde que o Espírito da criança já viveu, por que não se mostra, ao nascer, como ele é? Tudo é sábio nas obras de Deus. A criança necessita de cuidados delicados, que só a ternura materna lhe pode dispensar, e essa ternura aumenta, diante da fragilidade da ingenuidade da criança. Para a mãe, seu filho é sempre um anjo, e é necessário que assim seja, para lhe cativar a solicitude. Ela não poderia tratá-lo com a mesma abnegação, se, em vez da graça ingênua, nele encontrasse, sob os traços infantis, um caráter viril e as ideias de um adulto; e menos ainda, se conhecesse o seu passado.
É necessário, aliás, que a atividade do princípio inteligente seja proporcional à fraqueza do corpo, que não poderia resistir à atividade excessiva do Espírito, como verificamos nas pessoas precoces. É por isso que, aproximando-se a encarnação, o Espírito começa a perturbar-se e perde pouco a pouco a consciência de si mesmo. Durante certo período, ele permanece numa espécie de sono, em que todas as suas faculdades se conservam em estado latente.
Esse estado transitório é necessário, para que o Espírito tenha um novo ponto de partida, e por isso o faz esquecer, na nova existência terrena, tudo o que o possa entravar. Seu passado, entretanto, reage sobre ele, que renasce para uma vida melhor, mais forte, moral e intelectualmente, sustentado e secundado pela intuição que conserva da experiência adquirida.
A partir do nascimento, suas ideias retomam gradualmente seu impulso, à medida que os órgãos se desenvolvem,  donde se pode dizer que, no curso dos primeiros anos, o Espírito é realmente criança, pois as ideias que formam o fundo do seu caráter estão ainda adormecidas. Durante o tempo em que seus instintos permanecem latentes, ela é mais dócil, e por isso mesmo mais acessível às impressões que podem modificar sua natureza e fazê-la progredir, o que facilita a tarefa imposta aos pais.
O Espírito reveste, pois, por algum tempo, a roupagem da inocência, e  Jesus está com a verdade, quando, a despeito da anterioridade da alma, toma a criança como símbolo da pureza e da simplicidade.

Tradução do prof. dr. Jorge Leite de Oliveira.



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