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terça-feira, 18 de fevereiro de 2020


Em dia com o Machado 407 
entrevista com Kardec sobre a divulgação espírita (Jó)
Brasília, 18 de fevereiro de 2020.


Um terço de nossa existência no corpo físico é passado durante o sono. Nesse período, tomamos conhecimento de muita coisa que esquecemos ao acordar. É certo que quase nunca nos lembramos com clareza do que se deu durante o desprendimento de nossa alma, mas não é menos certo que sempre sonhamos. Alguns sonham acordados...
O sonho pode ser recordações dos acontecimentos cotidianos, confusões mentais de nosso cérebro em relação a algo visto ou sofrido por nós, devaneios de toda espécie... Mas também pode ser o momento de encontros com Espíritos bons, ansiosos por transmitir, por nosso intermédio, alguma instrução importante ...
Na questão 402 d'O Livro dos Espíritos, após perguntar sobre como "julgar da liberdade do Espírito durante o sono", Kardec obtém duas páginas e meia como resposta e considerações sobre o assunto. Daí podemos avaliar a importância do tema.
Sendo assim, relato ao leitor amigo a entrevista que o Codificador da Doutrina Espírita concedeu-me na noite passada, quando, após adormecer, me vi presente ao encerramento de memorável congresso sobre o livro espírita realizado na Place Bellecour, em Lyon, França, maior praça de concreto da Europa. Já haviam falado pedagogos, literatos, filósofos, cientistas,  sábios e religiosos como Gutenberg, Comenius, Pestalozzi, Victor Hugo, Einstein, Olavo Bilac, Malba Tahan, Léon Denis, Machado... 
O último a falar foi o insigne Codificador da Doutrina Espírita, que me concederia entrevista sobre o que se deve publicar para a divulgação do Espiritismo, no Brasil e no mundo, com base no suporte de papel (livro impresso) e, atualmente, também nas telas dos computadores (livro eletrônico). Segundo Kardec, o livro existe há 6.000 anos. Os suportes dele é que variaram ao longo dos séculos. Primeiramente, eram impressos em placas de argila, cascas de árvores, pedras etc.; depois, passaram a ser usados papiros e pergaminhos; com a invenção da imprensa por Gutenberg, surgiu o livro de papel.
Atualmente, esclareceu-nos, foi criado o livro eletrônico, que pode ser lido nas telas de nossos computadores. Não há dúvida, arrematou, de que o livro impresso possui um forte concorrente: o livro eletrônico, surgido no final do século XX, mas cada vez ocupando maior espaço entre os leitores dos mais diversos gostos literários.
Ao concluir sua palestra, Allan Kardec afirmou-nos que sua maior preocupação, entretanto, não é com o suporte do livro, seja ele o papel ou a tela do computador. Desde os primeiros anos de seus trabalhos, nas pesquisas e divulgação do Espiritismo, sua preocupação é uma só: a qualidade das obras espíritas publicadas.
Após nossos cumprimentos iniciais, perguntei-lhe:
— Mestre, deve-se publicar todas as mensagens recebidas pelos Espíritos?
E Kardec, em sua simplicidade e bonomia, respondeu-me:
— Não me chame de Mestre, que somente Jesus Cristo merece esse título. Mas, "em nossa opinião, publicar sem exame ou sem correção tudo que vem dessa fonte é comprovar pouco discernimento" (Revista Espírita, nov. 1859).
Não me dei por satisfeito e lancei-me, novamente, ao "ataque":
— Essas mensagens, de boa-fé, mesmo sendo pouco confiáveis, não ajudariam a divulgar o Espiritismo?
E ele respondeu-me novamente:
— "Mais prejudicial ao Espiritismo do que os ataques apaixonados de seus inimigos é o que publicam em seu nome. Certas publicações são realmente lamentáveis, pois dão à Doutrina Espírita uma ideia falsa e expõem-na ao ridículo".
Concluindo, acrescentou: — "Todos os espíritas que se empenham para que a Doutrina não seja comprometida devem, pois, esforçar-se para condenar as publicações excêntricas [...] porque, se algumas delas são feitas de boa-fé, outras podem sê-lo pelos próprios inimigos do Espiritismo, tendo em vista desacreditá-lo e poder motivar acusações contra ele" (KARDEC, A. Viagem Espírita em 1862, Instruções Particulares [...], it. VI).
— E se eu gostar do que ler? Perguntei-lhe ainda uma vez.
— "Infelizmente, o ser humano imagina que tudo o que lhe agrada deve agradar aos outros. [...] Aquele que, nesse caso, recusasse a opinião da maioria, julgando-se mais iluminado do que todos, provaria sobejamente a má influência sob a qual se acha". E concluiu, com o bom senso de sempre: "Toda precaução é pouca para evitar as publicações lamentáveis. Em tais casos, mas vale pecar por excesso de prudência, no interesse da causa" (Revista Espírita, maio 1863).
Foi então que me lembrei da inesquecível frase do Espírito Erasto:
"É melhor repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea" (KARDEC, A. O Livro dos Médiuns, it. 230).
         Acordei e passei a refletir...




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