Continuação da tradução livre da terceira edição francesa d'O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Prof. dr. Jorge Leite de Oliveira
8.3 Verdadeira
pureza. Mãos não lavadas
Então, os escribas e fariseus que tinham chegado de Jerusalém aproximaram-se
de Jesus e lhe disseram: Por que seus discípulos violam a tradição dos antigos?
pois não lavam as mãos quando fazem suas refeições.
Mas Jesus respondeu-lhes: Por que vocês violam
o mandamento de Deus, para seguir sua tradição? Porque Deus fez este mandamento: Honre seu pai e sua mãe, e este outro: Aquele que disser
a seu pai ou a sua mãe palavras ultrajantes seja punido de morte. Entretanto vocês dizem: Aquele que haja dito a seu pai ou
a sua mãe: Toda a oferenda que faço a Deus aproveitará a você, satisfaz a lei, ainda que depois
o tal não honre nem assista seu pai ou sua mãe. Assim, tornam inútil o mandamento de Deus, pela sua tradição.
Hipócritas, Isaías bem profetizou de vocês,
quando disse: Esse povo honra-me com os lábios, mas seu coração está longe de
mim.
E é em vão que me honram, ensinando máximas e ordenações
humanas.
Depois, havendo chamado o povo, disse-lhe: Ouçam
e compreendam bem isto. Não é o que entra pela boca que contamina o homem, mas o que sai da boca,
isso é o que contamina o homem. O que sai da
boca procede do coração, e é o que torna o homem impuro, pois é do coração que
partem os maus pensamentos, os assassínios, os adultérios, as fornicações, os
latrocínios, os falsos testemunhos, as blasfêmias
e as maledicências. Essas são as coisas
que tornam o homem impuro, mas comer sem lavar as mãos não é o que o torna
impuro.
Então, seus discípulos aproximaram-se dele e
lhe disseram: Sabe que os fariseus, depois que ouviram suas palavras, ficaram escandalizados? Mas Ele respondeu-lhes: Toda planta que meu Pai não
plantou será arrancada. Deixem-nos; são
cegos que conduzem cegos. E se um cego guia outro cego, ambos caem no fosso (Mateus, 15:1-20).
Enquanto Jesus estava falando, pediu-lhe um
fariseu que fosse jantar com ele, e havendo entrado, sentou-se à mesa. O fariseu
começou então a dizer consigo mesmo: Por que Ele não lavou as mãos antes de jantar? Porém, o Senhor lhe disse: Vocês outros, fariseus, limpam o que está por fora do
copo e do prato, mas seu interior está cheio de rapina e de maldade. Insensatos!
Quem fez o exterior não faz também o interior? (Lucas,
11:37-40).
Os judeus haviam negligenciado os verdadeiros mandamentos de
Deus, para apegarem-se à prática de regulamentos estabelecidos pelos
homens e da rígida observância desses regulamentos faziam casos de consciência.
O fundo, muito simples, acabara por desaparecer sob a complicação da forma.
Como era mais fácil observar os atos exteriores do que se reformar moralmente, de
lavar as mãos do que limpar o coração, os homens iludiram-se, acreditando-se quites para com Deus, por se habituarem a essas
práticas, mantendo-se tais como eram, pois
lhes ensinavam que Deus não exigia nada mais do que isso. Eis porque o profeta
disse: "É em vão que esse povo me honra com os lábios, ensinando máximas e
mandamentos dos homens".
Assim também aconteceu com a Doutrina moral do Cristo, que
acabou por ser relegada a segundo plano, o que tem levado muitos cristãos, à
semelhança dos antigos judeus, a consideraram mais garantida a salvação por meio de práticas
exteriores, do que pelas da moral. É a essas
adições feitas pelos homens à Lei de Deus que Jesus se refere, quando diz: "Toda
planta que meu Pai Celestial não plantou será arrancada".
O objetivo da religião é conduzir o homem a Deus. Ora, o homem só
chega a Deus quando se torna perfeito. Logo, toda religião que não melhorar o homem, não atinge seu objetivo. Aquela em que ele pensa poder apoiar-se
para fazer o mal, ou é falsa ou está falseada em seu princípio. Tal é o
resultado de toda religião em que a forma supera o fundo. A crença na eficácia
dos sinais exteriores é nula, se não impede que se cometam assassínios,
adultérios, espoliações, de dizerem calúnias, e de fazerem mal ao próximo, seja
no que for. Ela faz supersticiosos, hipócritas e fanáticos, mas não faz homens
de bem.
Não basta ter as aparências da pureza, é necessário, antes de
tudo, ter a pureza do coração.
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