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sábado, 25 de fevereiro de 2012

LEMBRANÇA DE MENINO (jlo, 25/2/2012)

Ainda ontem, à noite, enquanto estive deitado, tentei lembrar-me de uma história de um menino que morava em uma pequena casa de tijolos, construída às pressas quando seu pai morreu, deixando viúva de 40 anos com sete filhos, todos menores. O terreno tinha uns 70m² e, antes da casa, havia ali um barraco de madeira de uns 30m² que abrigava um “velho” de pouco mais de 50 anos, muito doente, cuja esposa acabara de ter gêmeos que, somados aos demais filhos, compunham uma prole de sete crianças. Três anos depois, o “velho” morreu e alguns parentes piedosos resolveram construir a pequena casa em volta do barraco, antes que este caísse sobre a família, vez que sua inclinação era bem maior do que a da Torre de Pizza e, quando chovia, o barraquinho ia para um lado e para o outro. Nestes dias, o menino lembrou-se do trabalho do pai da Jaíra e dela, esposa do patrão de seu falecido pai, o bondoso Samuel, que empregaria, em sua loja de material elétrico, o garoto e cada um de seus irmãos, assim que completassem 13, 14 anos. A Jaíra conseguira iluminar o barraco, antes clareado à luz de velas e lampião; seu pai construíra as quatro valas do esteio onde se assentariam os tijolos da casinha; o sobrinho Paulo, filho do tio Nélson, com outras almas caridosas e do próprio Sr. Moacir, pai da Jaíra, levantaram as paredes, o teto, as janelas e as portas da singela casinha do guri. O menino, agora em seu lar de 50 m², tinha 11 anos e dormia numa bicama com seu irmão mais velho, de 13, no quarto da frente, que dava para um quintal cercado por uma cerca rústica de madeira. Era a última casa do morro; à sua direita, outra casa, outro menino que morreu há pouco tempo, aos 57 ou 58 anos “Zé Merita”, gente muito boa, bom de bola. Outras casas, outros meninos que jogavam bola no campinho antes da ladeira que levava à Escola Nossa Senhora da Penha e à igreja do mesmo nome. Da casa do menino, por vezes, a qualquer hora do dia, ouviam-se gritos; outras vezes tiros, assaltos eram comuns ali; porém quem aparecia baleado, de vez em quando, era o ladrão. As drogas eram escassas; quando muito, havia um cheiro de maconha vindo de árvores próximas, exalada por ladrões de galinha conhecidos de todos. O fumacê entrava pela porta e janela da sala e “perfumava” toda a casa e as das proximidades. Mas... onde dormiriam seus demais irmãos, a mãe, a irmã mais velha em casa tão pequenina, tão singela? O banheirinho ficava no quintalzinho dos fundos, onde foi construída, do lado oposto, uma caixa d'água que recebia água vinda da rua uma vez por semana, depois que alguém entendido em ligações clandestinas se compadeceu daquela viúva e seus sete filhos pequenos, salvo a mais velha, única menina, que à época tinha 15 anos. Antes do "gato", muitas vezes debaixo de chuva, a viúva e seus filhos maiores (9, 10, 11 anos) tinham que carregar água em latas de 18 litros, na cabeça ou nas costas, uma de cada lado da balança. O irmão de 13 e a irmã de 15 iam trabalhar para ganhar um dinheirinho e ajudar na complementação da renda familiar de meio salário mínimo à época. Mas... onde dormiam naquela casa? Pensava o menino... Onde dormiam também a tia Marieta, o padrinho do irmão mais velho, o amigo mineiro que passou alguns anos morando ali? O tio Zezé, garçom de um bar, sempre chegava à noite e procurava um velho colchão que estendia na porta da sala, sempre trancada com trava de madeira, para evitar que ladrões tentassem entrar por ela, e ali dormia. Mas... e aqui fica o apelo aos irmãos do menino: descrevam para ele o que acontecia naquele barraco, até que, aos vinte anos, o então rapaz, mudou-se dali e, pouco tempo depois, viajou para Salvador para só voltar ao Rio nas férias anuais. Como se dividia a casa, em que quarto dormiam a mãe do menino e seus demais irmãos, a irmã, o “mineiro”, a tia? E como abrigava ali tanta gente? O menino quer lembrar, pois nunca mais voltou a sua antiga casa, tão saudosa, tão acolhedora, tão fraterna! Quem puder, ajude-o. Sugiro aos irmãos do menino que, nos comentários abaixo, façam a descrição o mais fiel possível da casa em que moraram com ele.
Abraços,
O menino.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Hoje, os detalhes daquela singela casa adormecem no peito de cada um que ali viveu. Não importa mais a descrição real daquele lar, pois ele evoluiu, saiu do cérebro e foi parar no coração. E isso acontece somente com as coisas boas da vida, pois com o passar dos anos a memória começa a falhar para todos, mas o sentimento nunca. E os detalhes daquele casebre, tem, agora, o tom, a cor, o cheiro, de quem ali se amou.

    O menino do sonhador.

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