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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O não assalto (jlo)

Touchê é daqueles homens que, ainda na idade madura, continuam mantendo um espírito otimista, alegre e jovem. De tudo gosta um pouco. Aprecia esportes, em especial o futebol, e, se em seus 55 anos encontrasse outros nove apreciadores de uma boa pelada, como ele, sem dúvida os convidaria para jogar futebol de salão, ao menos uma vez por semana. Isso porque duas ou três vezes, semanalmente, adora correr no parque da cidade, cujo percurso de 10 km realiza em menos de uma hora. Desse modo, pensava, “Eu gostaria de trocar um dos dias de corrida por um bom futebol de salão. Infelizmente, para ele, a maioria dos homens com mais de 50 anos não quer praticar esportes.
O horário de suas corridas, em geral, é no final da tarde, mas nesse entardecer teve de ir ao Jardim Primavera pegar seu netinho de cinco anos e, quando iniciou o exercício, já anoitecera. O problema é que, com a mudança de governo, na Capital do Brasil, a ronda noturna que vinha sendo feita pelo carro da segurança do parque passou a não mais ocorrer. Com isso, os desocupados e marginais deram início a uma série de delitos, ali, como roubos de carros, assaltos e até estupros, sem qualquer providência da Secretaria de Segurança do Distrito Federal.
Nessa noitinha, nosso atleta já havia corrido sete quilômetros, quando passou por um trecho da estrada bastante escuro, em virtude de os postes de iluminação estarem apagados, no espaço correspondente a meio quilômetro da pista de atletismo. Repentinamente, da lateral esquerda da pista, eis que saíram três jovens de não mais de trinta anos cada, no momento em que Touchê cruzava por eles, correndo. Embora os tivesse notado, o corredor não se preocupou, pois avistou, mais à frente, novo grupo de cinco ou seis homens, vindo em direção contrária. O fato não passou despercebido dos rapazes, que, desejosos de assaltarem o corredor, combinaram caminhar rapidamente, até que se distanciassem do outro grupo, quando partiriam no encalço de Touchê para o cercarem e imobilizarem.
Entretanto, assim que ultrapassaram o novo grupo, os assaltantes perceberam que a diferença antes de vinte metros que os separavam do ágil corredor agora já ultrapassava os cem. Foi quando um deles comentou com os demais: “Caramba véi, como aquele coroa corre. É melhor nem tentarmos ir atrás dele.
E assim, sem que Touchê soubesse, nesse dia, escapou de um assalto, numa noite de quarto minguante, em Brasília. Até hoje ele não sabe o que aconteceu, pois o que seria um assalto tornou-se um não assalto.
Brasília, 29 de abril de 2011.

Um comentário:

  1. Parece que Touchê estava advinhando... Há poucos dias, segundo informou-nos a profª de uma academia da SQN 306, um senhor foi assaltado, no Parque da Cidade (pasmem!) às 11h da manhã. Sorte dele que, mais adiante, uma ronda da galharda segurança do parque prendeu os pivetes, que estavam armados com um 38.

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