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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Factoide (j.l.o)

Soube que seu amigo de infância ficaria mais velho no domingo e lembrou-se de que dois meses antes fora ele quem completara trinta anos. Alguns dias antes de seu aniversário, convidara o amigo para comemorarem a data festiva e agora lembrava-se do que aquele fizera. E ria sozinho pensando como retribuir a gentileza de Oto, que comparecera a sua casa acompanhado de uma linda cadelinha Basset de dois meses e, sabedor de sua afeição aos cães, ofertara-lhe o animal.
Agora com quatro meses, Lolita, nome que dera à cadela, aprontara todas, mas José, tal era seu nome, quanto mais o tempo passava, mais se apaixonava pelo animal. Não sabia como retribuir o agrado ao amigo e dava tratos à bola para levar-lhe algo que marcasse sua amizade de modo ímpar.
De repente, lembrou-se de que Oto lhe dera a cadelinha porque esse amigo tinha preferência por animais, em especial, por gatos, já tendo dois em sua casa. Não pensou duas vezes, no sábado, foi a uma loja de animais, próxima a sua residência, e adquiriu uma linda gatinha siamesa, de três meses, com a intenção de oferecê-la ao aniversariante. Ao chegar a casa com o bichano, porém, percebeu que Lolita e a gatinha rapidamente fizeram amizade. Aonde uma ia a outra ia atrás. E a festa parecia não ter fim entre os novos amigos, que rompiam com a rivalidade entre cães e gatos.
Ficou tão encantado, ao final do dia, com a afinidade dos animais que, no dia seguinte, resolveu desistir de dar a gatinha ao amigo Oto. Mas então, o que faria? Como era manhã de domingo, a loja de animais estava fechada, portanto, não tinha como comprar outro gatinho para o amigo. Pensou... pensou... pensou, até que encontrou uma solução. Faria uma surpresa inesquecível a Oto, mais tarde, às 18h, horário combinado para o início da festa, com promessa de churrasco.
Chegou o momento do encontro entre os amigos. A casa cheia, alegria contagiante, um cheiro gostoso de carne assada na brasa, quando José chegou, abraçou o amigo e entregou-lhe um pacote macio e volumoso, embrulhado com jornais. Junto ao volume, um cartão dizia: “Como sei que a carne do churrasco está pouca, mandei matar Lolita e vamos comer carne de cachorro nesta data memorável. Parabéns pelo seu aniversário”.
Oto ficou tão perplexo com o presente que cambaleou, tonto, imaginando que seu amigo ficara louco. Ainda assim, abriu o pacote, mas, para sua surpresa, ali nada mais encontrou que um lindo gatinho artificial de pelúcia, que, ao ser apertado, dizia: “Miau, eu sou mimi. De hoje em diante, pertenço a ti”.
O acontecimento, durante muito tempo, foi muito comentado naquele lugar. E toda vez que alguém desejava iniciar uma conversa sem ter assunto, lembrava o fato. Algumas pessoas, observando a futilidade do tema, passaram a criticá-lo e diziam, pejorativamente, que aquele não era um fato e sim um factóide, ou seja, apenas uma forma de chamar a atenção geral. O certo, porém, é que, a partir daquele dia, toda vez que alguém desejava “aparecer”, ao oferecer um presente de aniversário, de casamento ou de outro acontecimento social qualquer, comprava algo inusitado, como, por exemplo, uma galinha, um quilo de carne e presenteava alguém.
Essa foi a origem do termo factóide. “Esta história, entrou por uma porta e saiu pela outra; quem souber, que conte outra”.
Brasília, 14 de fevereiro de 2012.

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