EM DIA COM O MACHADO 620
Zeca e o homem do
banco (Jó)
Meu amigo Zeca é um rapaz atlético, que gosta
de malhar e correr. Morador de um apartamento numa das quadras da Asa Norte, em
Brasília, todo dia sai para correr ou exercitar-se na academia situada em
frente ao bloco de sua residência.
Em dois desses dias, encontrara um senhor mal
vestido e sentado no banco de pedra que fica ao lado do bloco em que Zeca mora.
No primeiro dia, ao passar por esse homem, meu amigo o cumprimentara; e ele
respondera com um olhar vazio, parecendo contemplar o céu azul de Brasília.
— Bom dia, senhor! Dissera Zeca animadamente.
— Bom dia, meu jovem. Respondera o
maltrapilho, que parecia embriagado.
Zeca costuma ler, refletir e divulgar as
mensagens do Evangelho. Não, ele não é evangélico, nem católico. É espírita.
Então, também lê, reflete e divulga a
mensagem espírita à luz do Evangelho de Jesus. Acrescenta a isso o estudo das
obras de Allan Kardec e do maior brasileiro de todos os tempos: o médium e
espírita cristão Chico Xavier, além das obras de outro grande médium que ainda
se encontra entre nós: Divaldo Franco, entre outras obras.
Zeca disse-me que se tem esforçado para pôr
em prática os ensinamentos sublimes dessas obras. Simples assim. Não pretende
aureolar-se com a luminosidade dos santos, pois sabe que cometeu e ainda comete
muitos erros no relacionamento familiar e social, mas atento à frase de Allan
Kardec de que o verdadeiro espírita é também verdadeiro cristão, esforça-se em
praticar o que aprende nos estudos que realiza.
Pois bem, no segundo dia em que passou pelo
homem do banco, percebeu que ele parecia estar carente de auxílio, pelo seu
olhar tímido ao lhe responder ao cumprimento.
— Bom dia, senhor! voltou a cumprimentá-lo
Zeca.
— Bom dia, meu jovem. Respondeu-lhe o homem
do banco. Zeca penalizou-se dele, mas estava com uniforme de corrida e, além de
não possuir nenhum trocado consigo, nada lhe fora pedido, como da vez anterior.
Foi então que Zeca, ao se afastar, ouviu do
homem do banco um tímido pedido:
— Não me leve a mal, mas o senhor teria umas
roupas usadas e um par de calçado para me dar?
Surpreso com o pedido, mas sem poder
atendê-lo de imediato, Zeca prometeu que na volta da corrida o atenderia.
Ao retornar do exercício, nosso amigo não
mais viu o pedinte. Dizem que caridade tardia não é caridade, mas atento à
promessa que fizera, Zeca subiu para seu apartamento, tomou banho, vestiu uma
roupa limpa, perfumou-se, buscou algumas roupas em bom estado, um par de tênis,
pôs tudo isso num saco, e voltou a procurar o homem do banco, que ali não
estava.
Então perguntou a Eurípedes, o porteiro do
seu prédio, se este vira Jesus, que era o nome do homem do banco.
— Eu vi Jesus ainda há pouco. Talvez o senhor
o encontre nas redondezas, seu Zeca. Respondeu-lhe Eurípedes.
Zeca saiu com a sacola na mão, deu uma volta
pela quadra e — oh! surpresa — eis que se deparou com Jesus, bastante sujo e
com uma garrafa de cachaça na mão.
Ao receber de Zeca o saco com as roupas e
calçado, além de uns trocados, Jesus perguntou-lhe, emocionado:
— Posso dar-lhe um abraço?
— Pois não, respondeu Zeca. E este mesmo o
abraçou.
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