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sexta-feira, 1 de maio de 2020


EMMANUEL[1]
Jorge Leite de Oliveira´

A Reencarnação do Espírito de Emmanuel | Frases espirituais 

            Em 1931, como tantas outras vezes em que sentia solidão e incompreensão de muitos, que o julgavam louco, Chico Xavier dirigiu-se ao açude de Pedro Leopoldo, onde costumava meditar e orar à sombra de árvore situada na beira da represa local. Nesse momento, lembra-nos Souto Maior (2003, p. 44), visualizou cruz luminosa que tomou a forma de um padre e passou a dialogar com ele. Era o Espírito Emmanuel.
            Segundo Wagner de Assis (Reformador, ago. 2017), diretor e roteirista do filme com temática espírita, Nosso Lar, o roteiro cinematográfico intitulado Emmanuel foi elaborado com o intuito de narrar cada uma das encarnações desse extraordinário apóstolo de Jesus dos nossos tempos. Sua atuação, do plano espiritual à Terra, renova as palavras do Mestre: “Meu Reino não é deste Mundo” (João, 18:36).
            Não temos a pretensão, neste artigo, de aprofundar informações sobre o elevado Espírito Emmanuel, guia espiritual de Chico Xavier durante cerca de 92 anos em que este esteve presente entre nós. Isso é matéria para várias obras. Daremos, somente, algumas pinceladas em algumas de suas mais conhecidas reencarnações e sua obra. Ao leitor interessado em aprofundar informações relacionadas a esse Espírito iluminado, indicamos alguns trabalhos sobre esse palpitante tema nas referências finais.
            Ao longo de seus 75 anos de mandato mediúnico, Chico e Emmanuel trabalharam juntos, incansavelmente, como verdadeiros servos de Jesus. Embora só quando o médium mineiro já completara 21 anos de idade seu guia tenha lhe proposto, de início, a produção de trinta livros com temática cristã-espírita. Após essas, mais de quatrocentas obras ainda seriam produzidas em parceria do “mineiro do século XX” com seu guia espiritual.
            Emmanuel, entretanto, já era familiar ao médium de Pedro Leopoldo e Uberaba desde os dezessete anos deste, de acordo com Souto Maior (2003, p. 32). A condição para o êxito da missão era uma só: disciplina. E essa qualidade jamais faltou a ambos. Quando Chico desencarnou, a produção de suas obras psicografadas contava com 439 títulos, segundo levantamento de Ponsardin (2010, p. 287 a 298).
            As mais conhecidas encarnações de Emmanuel iniciam-se pela do orgulhoso senador romano, Publius Lentulus Cornelius, o qual viveu no primeiro século d.C. e conheceu Jesus antes da crucificação deste, conforme consta na obra intitulada Há dois mil anos. Em continuação a essa obra, Chico Xavier psicografa o livro denominado 50 anos depois, quando Emmanuel e alguns personagens de Há dois mil anos reencarnam, no século II, para continuar suas experiências no corpo físico. Então, chamava-se Nestório e renascera em Éfeso, na Grécia, mas era judeu e fora escravizado pelos romanos.           Nestório, antes de ser escravizado, constituiu família, às margens do Mar Egeu. Era pai de Ciro e teria ouvido, na infância, as pregações de João Evangelista, com quem colaborou na evangelização da Ásia Menor. Em Roma, foi encarregado da educação das duas filhas, Helvídia e Célia, de Alba Lucínia e de Helvídio Lúcius, que o declararam homem livre.
            Tanto Nestório quanto seu filho, Ciro, se tornaram cristãos. E, por não renegarem Jesus, foram presos e martirizados no circo romano, junto com outros adeptos do Cristianismo, durante o reinado de Élio Adriano.
            Enquanto aguardavam o momento do seu sacrifício, em testemunho do Cristo, Ciro e Nestório receberam a visita de Célia, uma das filhas de Helvídio Lúcius, a qual também se convertera ao Cristianismo. Nestório, então, emocionado, diz à jovem estas palavras, que se aplicam aos novos cristãos da atualidade, os espíritas-cristãos:

— Célia, tua vinda a este cárcere representa para nós a visita de um anjo. Não te impressione a nossa condenação, que aos olhos de Deus deve ser útil e justa. Dizia a inspiração de Paulo que a morte é o nosso último inimigo. Venceremos, pois, mais esta etapa, com Jesus e por Jesus. Apesar disso, não te esqueças de que a dádiva da vida é um bem precioso que o Céu nos confia. Para a alma fervorosa, o melhor sacrifício ainda não é o da morte pelo martírio ou pelo infamante opróbrio dos homens, mas aquele que se realiza com a vida inteira, pelo trabalho e pela abnegação sincera, suportando todas as lutas na renúncia de nós mesmos, para ganhar a vida eterna de que nos falava o Senhor em suas lições divinas! (XAVIER, 1982, cap. 6, p. 137).

            Sabemos, por informação de Chico Xavier, no programa Pinga Fogo, da TV Tupi, em 1971, que Emmanuel é, também, o Espírito reencarnado em Sanfins, Entre-Douro-e-Minho, Portugal. Nesse país irmão, recebeu o nome de Manuel da Nóbrega.
            De acordo com os historiadores, Nóbrega bacharelou-se em Direito Canônico e Filosofia na universidade de Coimbra, em 1541. Três anos depois, já ordenado padre, veio para o Brasil a serviço da Companhia de Jesus. Acompanhou Tomé de Sousa à capitania de São Vicente, em 1549, e participou da primeira missão de catequese nesse ano. Em 25 de janeiro de 1554, com José de Anchieta, fundou o Colégio de São Paulo de Piratininga, que deu origem à cidade de São Paulo. Depois disso, fundou o Colégio do Rio de Janeiro, ao qual dirigiu com permanente entusiasmo e fé. Previu a própria morte para o dia 18 de outubro de 1570, no Rio de Janeiro, quando completaria 53 anos, o que de fato aconteceu, segundo informações de Elias Barbosa (1987, p. 10).
            Segundo o renomado escritor Alfredo Bosi (1987), Manuel da Nóbrega é um dos nomes “mais significativos” do século XVI, no trabalho moral e educacional. Diz esse douto professor de Literatura da USP, autor de obras de crítica literária e pedagógicas, que não somente o valor histórico do epistolário manuelino é valioso, como também sua obra intitulada Diálogo sobre a conversão do gentio, na qual seu autor destaca os aspectos mau e bom do indígena que poderiam ser explorados em sua catequese. Essa obra é considerada a primeira obra literária em prosa da Literatura Brasileira.
            No romance intitulado Renúncia, Emmanuel relata que, em 1613, esteve reencarnado na Espanha. Era padre e chamava-se Damiano. Quando o Santo Ofício foi instaurado pela Igreja, combateu o fanatismo católico. Acreditava na reencarnação e na imortalidade da alma.
            Chico Xavier (In: PONSARDIN, 2010, p. 80) confirma que a mensagem contida n'O evangelho segundo o espiritismo, intitulada O egoísmo, foi transmitida por Emmanuel, que fez parte da equipe espiritual dirigida pelo Espírito da Verdade, representante de Jesus entre nós. Dessa bela mensagem, recortamos, para nossa reflexão, o seguinte trecho, bem ao estilo do guia espiritual do médium mineiro:

O egoísmo, esta chaga da Humanidade, tem que desaparecer da Terra, porque impede o seu progresso moral. É ao Espiritismo que está reservada a tarefa de fazê-la elevar-se na hierarquia dos mundos. O egoísmo é, pois, o alvo para o qual todos os verdadeiros crentes devem apontar suas armas, sua força, sua coragem. Digo: coragem, porque é preciso mais coragem para vencer a si mesmo do que para vencer os outros. Que cada um, portanto, empregue todos os esforços a combatê-lo em si, certo de que esse monstro devorador de todas as inteligências, esse filho do orgulho é a fonte de todas as misérias terrenas. É a negação da caridade e, por conseguinte, o maior obstáculo à felicidade dos homens (EMMANUEL, apud Kardec, 2016, cap. 11, it. 11).

            Emmanuel coordenou toda a produção mediúnica de Chico Xavier, iniciada em Pedro Leopoldo e concluída em Uberaba, MG. Toda a obra lítero-doutrinária psicografada pelo médium mineiro teve a supervisão e participação desse verdadeiro apóstolo espiritual de Jesus, desde Parnaso de além-túmulo, publicado em 1917, no qual dezenas de poetas desencarnados, dos mais renomados aos menos conhecidos, transmitiram-nos seu bardo luminoso. Sob seu convite e supervisão, manifestaram-se os Espíritos Auta de Sousa, Castro Alves, Cruz e Sousa, Maria Dolores, Olavo Bilac, Antero de Quental, João de Deus, André Luiz, Humberto de Campos, Irmão Jacob (Frederico Fígner) e muitos outros, transmitindo-nos belíssimos ensinamentos, em forma de poemas, romances, contos, crônicas, relatos históricos, produções filosóficas e científicas.
            Também sob sua direção espiritual, e em nome de Jesus, centenas de cartas consoladoras foram ditadas, por Espíritos desencarnados, jovens ou idosos, a seus familiares, transmitindo-lhes esperanças e certeza de que nada se acaba com a morte do corpo. Algumas dessas cartas serviram de subsídios para inocentar acusados de crimes e tiveram repercussão mundial.
            Pela abençoada psicografia de Chico Xavier, transmitiu-nos, Emmanuel, romances históricos belíssimos, como Paulo e Estêvão; Há dois mil anos; 50 anos depois; Ave Cristo; e Renúncia. Nas páginas dessas obras, humildemente, revela-nos suas diversas experiências de Espírito imortal, que transitou da crueldade e orgulho à bondade e humildade exemplares.
            Em programas como Pinga-fogo, transmitido pela antiga TV Tupi, esteve junto de Chico, inspirando-lhe as respostas às perguntas que lhe faziam religiosos e ateus. Os mais elevados conceitos e informações foram respondidos pelo médium mineiro, junto com o respeito a todos, aliado ao espírito de humildade e fraternidade.
            Durante algum tempo, junto ao médium mineiro, Emmanuel coordenou fenômenos de materializações de Espíritos. Mas, após um período de comprovação e deslumbramento, resolveu encerrar essas atividades, pois a missão de seu protegido era na edição de livros voltados ao cumprimento da Verdade anunciada por Jesus.
            No seu monumental trabalho sobre a Boa-Nova, atendendo à promessa do Cristo de nos enviar o Consolador, Emmanuel comentou, pelo lápis de Chico Xavier, como jamais se fizera antes, cada versículo dos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, além dos Atos dos apóstolos. A Federação Espírita Brasileira publicou, sob a coordenação de Saulo César Ribeiro da Silva, cinco volumes com o registro de todas essas mensagens.
            O volume nº 1 refere-se ao Evangelho segundo Mateus; o volume nº 2 trata sobre o Evangelho consoante Marcos; o terceiro volume relaciona os textos baseados em Lucas;  o quarto livro comenta as mensagens com fulcro em João; e o quinto, aborda os Atos dos apóstolos. Cada versículo da Boa-Nova é comentado pelo guia de Chico Xavier com uma beleza transcendental e com a autoridade moral desse elevado emissário do Cristo.
            Apenas nessas obras, contam-se centenas de mensagens. Cada uma delas relacionada a um versículo do Novo Testamento: 174 em Mateus; 76 em Marcos; 142 em Lucas; 129 em João; 43 em Atos dos apóstolos; e nada menos que 691 versículos dos Atos dos apóstolos relacionados à monumental obra Paulo e Estêvão, ditada a Chico Xavier por Emmanuel. Essa última, verdadeira obra-prima sobre os relacionamentos de Paulo, o “Apóstolo dos gentios”, com Estêvão, com Jesus e seus discípulos, além dos gentios convertidos de Roma, Corinto, Galácia, Éfeso etc.
            Na mensagem intitulada Ao sol da verdade, esclarece-nos Emmanuel, em seu comentário ao contido em João, 16:13 “Quando, porém, aquele vier — o Espírito de Verdade — vos guiará em toda a Verdade”:

De que maneira vencerá o Espiritismo os obstáculos que se lhe agigantam à frente? Há companheiros que indagam: “Devemos disputar saliência política ou dominar a fortuna terrestre?” Enquanto isso, outros enfatizam a ilusória necessidade da guerra verbal a greis ou pessoas.
Dentro do assunto, no entanto, transcrevemos a questão nº 799, de O livro dos espíritos. Prudente e claro, Kardec formulou, aos orientadores espirituais de sua obra, a seguinte interrogação: “De que maneira pode o Espiritismo contribuir para o progresso?” E, na lógica de sempre, eis que eles responderam:
“Destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, ele faz que os homens compreendam onde se encontram seus verdadeiros interesses. Deixando a vida futura de estar velada pela dúvida, o homem perceberá melhor que, por meio do presente, lhe é dado preparar o futuro. Abolindo os prejuízos de seitas, castas e cores, ensina aos homens a grande solidariedade que os há de unir como irmãos” (XAVIER, 2015b, p. 269).

Em seguida, traça-nos o Roteiro Divino, o iluminado guia, não somente do Chico, mas de todos nós, esse verdadeiro apóstolo do Cristo, que renunciou às bem-aventuranças celestes para, ao longo de quase um século, trazer-nos suas mensagens espirituais. Com base nas citadas centenas de versículos da Boa-Nova, sua palavra sábia orienta-nos, com segurança, sobre que fazer a fim de vencermos as trevas da ignorância com a Luz Divina:

Não nos iludamos, com respeito às nossas tarefas. Somos todos chamados pela Bênção do Cristo a fazer luz no mundo das consciências — a começar de nós mesmos — dissipando as trevas do materialismo ao clarão da Verdade, não pelo espírito da força, mas pela força do espírito, a expressar-se em serviço, fraternidade, entendimento e educação (XAVIER, 2015b, loc. cit.).

                Emmanuel, como Espírito iluminado a serviço do Cristo, há quase dois mil anos, quer esteja reencarnado ou no Mundo Espiritual, continua dando-nos o seu testemunho de amor. Ele é o apóstolo  incondicional de Jesus, em nossos dias, é o distribuidor dos “cartazes do Reino” a nós, seus irmãos ainda distantes do entendimento da verdadeira finalidade da vida: servir ao Cristo, com humildade, devotamento e abnegação, para vir a ser, com Ele, irmãos que se amam e filhos da Luz!


REFERÊNCIAS

BARBOSA, Elias. In: XAVIER, Francisco Cândido. Organização e notas: GENTILE, Salvador; ARANTES, Hércio Marcos Cintra. Entrevistas: Francisco Cândido Xavier/Emmanuel. Araras, SP: 1987.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 3. ed. São Paulo: Cultrix, 1987.
COSTA, Keilla Renata. Manuel da Nóbrega. In: Brasil Escola. Disponível em . Acesso em 11 de agosto de 2017.
CPI Brasil. As Sucessivas vidas de Emmanuel. Disponível em:
KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. Brasília: FEB, 2016.
PONSARDIN, Mickaël. Chico Xavier, o homem e o médium. Tradução de Evandro Noleto. Brasília: Conselho Espírita Internacional, 2010.
REFORMADOR. Entrevista: Wagner de Assis – Novos filmes espíritas nas telas do cinema. ano 135, n. 2.261, p. 20(466)-23(469), ago. 2017.
SOUTO MAIOR, Marcel. As vidas de Chico Xavier. 2. ed. São Paulo: Planeta, 2003.
TODA MATÉRIA. História. Manuel da Nóbrega. Disponível em: . Acesso em 11 de agosto de 2017.
XAVIER, Francisco Cândido. Há dois mil anos. Pelo Espírito Emmanuel. 49. ed. Brasília: FEB, 2015a.
­­­______. 50 anos depois. Pelo Espírito Emmanuel. 14. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1982.
______. O evangelho por Emmanuel: comentários ao evangelho segundo Mateus. Coordenação de Saulo César Ribeiro da Silva. Brasília: FEB, 2014a.
______. O evangelho por Emmanuel: comentários ao evangelho segundo Marcos. Coordenação de Saulo César Ribeiro da Silva. Brasília: FEB, 2014b.
______. O evangelho por Emmanuel: comentários ao evangelho segundo Lucas. Coordenação de Saulo César Ribeiro da Silva. Brasília: FEB, 2016.
______. O evangelho por Emmanuel: comentários ao evangelho segundo João.  Coordenação de Saulo César Ribeiro da Silva. Brasília: FEB, 2015b.
______. O evangelho por Emmanuel: comentários aos atos dos apóstolos. Coordenação de Saulo César Ribeiro da Silva: FEB, 2016. 

Publicado em Reformador, periódico mensal da Federação Espírita Brasileira, em nov. 2017. Atualizado em 30 abr. 2020.



[1] A tradução do nome Emmanuel, em latim, é “Deus conosco”.

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