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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

 


VILA ESPERANÇA
 
Alegas, muita vez, alma querida:
“— O tédio me entorpece e me consome a vida!...”
 
Um erro na poltrona te desgosta,
Apaga-te o sorriso e deixa-te indisposta...
 
O marido, preso, por natureza,
Era um médico amigo da pobreza.
 
Houvesse algum enfermo em pequena palhoça...
Ei-lo, junto ao doente em plena roça...
 
Ele sofre e adoece, certo dia,
E roga à esposa, amparo e companhia.
 
Ela atende ao insólito pedido,
Enquanto ele se mostra surpreendido.
 
De um carro velho e forte, sem tardança,
Descem os dois ao chão, ante a Vila Esperança.
 
Ali, toda morada é formada de zinco,
Alinhando-se em grupo, cinco a cinco.
 
Disse o esposo a ela:
“— Hoje, o trabalho aqui é teu recado...
os doentes são teus... Ando muito cansado...”
 
Do casebre primeiro saem gemidos dos loucos...
Eis que o esposo explica:
“— É a Dona Flora, exaurindo-se aos poucos...
 
Não mais resiste a pobre ao câncer que a devora
Mas, para aliviar a angústia que a domina,
Temos na pasta que eu trouxe a injeção de morfina”.
 
Aplicada a injeção, ela vê três crianças
Junto à mulher sofrida, em choro continuado...
Ela fala ao marido, acerca de mudanças,
E acaba perguntando ao esposo intrigado:
“— O que comem aqui estas crianças nuas?”
 
O médico responde: “O pão dado nas ruas”.
Ela aciona o carro e adquire cem pães,
Que distribui na praça, entre os filhos e as mães.
 
“— Moça, grita uma voz
De uma das casinholas escondidas,
Venha nos ver
Somos pobres doentes desvalidas!...”
A dama entra no quarto
E lava-lhes as manchas e as feridas...
Anda de casa em casa.
Dá remédio às crianças com bronquite
E socorre os enfermos,
Vítimas de hepatite...
De sentimento preso
Às dores que detinham no lugar,
Oito horas gastou a lavar e a limpar.
 
De volta, eis que ela sente
O marido mais forte e mais contente...
Notou que o Cristo Amado estaria mais perto
E admitiu que a vida
Nunca mais lhe seria
Desencanto e deserto...
 Adentrou-se no lar, recordando a excursão
Que lhe alterara a mente, o caminho e a visão...
 
Ajoelhou-se em prece,
Pensando na penúria que encontrara.
Contemplou de uma fímbria da janela
A noite linda e clara...
Imaginou Jesus
Caminhando ao encontro da pobreza
E quase sem querer
Exclamou para os Céus:
 
“— Obrigada, Jesus, pela Vila Esperança
que me falou do amor que não se cansa...
Agora, estou na paz que eu sempre quis.
A qualquer hora posso ser feliz!...
Obrigada, Jesus, por me ensinar
Que a Caridade é Luz e a Luz é trabalhar!...”
 
DOLORES, Maria (Espírito). Dádivas de amor. Psicog. Chico Xavier. 1. ed. Brasília: FEB: São Paulo, SP: IDEAL, 2022.


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